Dorothy olhou para o embrulho dourado. Fez aquele movimento com a boca que sempre fazia, quando estava confusa. Abriu e olhou dentro. Só duas coisas. A carta, que ela escrevera até as 3h da madrugada na véspera de um dia tão importante. A carta, tão diferente da que entregara há cerca de 1 ano. Tão mais agradável, tão mais madura, tão mais sensata. Deixou de dormir pq encontraria com ele e queria já entregar tudo. A carta e aquilo. Aquilo que ela caminhara tanto tempo, debaixo de sol forte e chuva torrencial, para conseguir. O tempo em Oz era sempre tão estranho...
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Dorothy e o embrulho dourado
Dorothy olhou para o embrulho dourado. Fez aquele movimento com a boca que sempre fazia, quando estava confusa. Abriu e olhou dentro. Só duas coisas. A carta, que ela escrevera até as 3h da madrugada na véspera de um dia tão importante. A carta, tão diferente da que entregara há cerca de 1 ano. Tão mais agradável, tão mais madura, tão mais sensata. Deixou de dormir pq encontraria com ele e queria já entregar tudo. A carta e aquilo. Aquilo que ela caminhara tanto tempo, debaixo de sol forte e chuva torrencial, para conseguir. O tempo em Oz era sempre tão estranho...
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
a velhinha maluquete
quando eu era bem pequena, lá com meus 5 anos, já era uma leitora compulsiva. meu pai trabalhava em uma escola pública, professor de matemática. resolveu ajudar a biblioteca da escola a cadastrar uma caixa gigante de livros novos que chegaram. todos infantis. e, então, ele chegou com essa caixa em casa. uns 200 livros. era como estar no paraíso pra mim. 200 livros infantis! dá pra imaginar? e ele disse "vc pode ler quantos vc conseguir ler até eu devolver pra escola". e eu ia deixar de ler algum? impossível. li todos. um deles era "a velhinha maluquete". esse eu li. e reli. e reli. e reli. quando chegou a hora de devolver, meu pai, com pena, disse "fica com esse que vc leu milhões de vezes pra vc".
quando minha irmã era bem pequena, com seus 2-3-4 anos, eu sempre contava histórias pra ela. interpretava mesmo. fazia vozes. era minha diversão maior, era a diversão maior dela. e esse acabou se tornando, tb, o livro preferido dela.
com mudanças (de casa, cidade, tudo), acabamos perdendo o livro. mas não a paixão por ele. tanto que, quando ela tinha lá seus 13-14 anos (eu sou oito anos mais velha), fizemos esse "código" entre nós: sempre falávamos uma pra outra a frase clássica do livro, "poder, pode; mas tem que se comportar".
quando eu falei pela última vez com minha irmã ao telefone, ela disse que me amava. não era o normal, de sempre. isso me desconcertou um pouco e eu acabei esquecendo de dizer "poder, pode; mas tem que se comportar". foi a última vez pq, algumas horas depois, por uma bobeira (talvez predestinada) ela foi embora desse mundinho aqui. foi pra um outro. pra um melhor, com certeza. tinha só 15 anos. eu, 23. e uma culpa imensa por não ter falado pra ela "poder, pode; mas tem que se comportar".
não tive dúvidas: tatuei. gravei na carne, no sangue, no coração, na alma a frase que, pra maioria das pessoas não tem significado algum, mas que, pra mim, significa todo meu amor eterno pela minha pequenina: "poder, pode; mas tem que se comportar".
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
A fase da poesia
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Tia Coração
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
O teatro do teu sonho
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Pérolas da tia Clarice
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Meu português preferido
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Anti-social Virtual
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Mar Adentro
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Turn back, Sarah. Turn back before it's too late.
sábado, 7 de novembro de 2009
e aí o neruda me disse:
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
micro conto patético
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
O dia em que eu revi os smurfs
terça-feira, 3 de novembro de 2009
faz parte do meu show
domingo, 1 de novembro de 2009
brincar de twitter fake é vida!
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
ela queria...
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
quando é cômodo não saber
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
A melhor. E ponto.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
como não usar o twitter
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
chacrinha, tim maia e 3 nelsons
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
And it feels like... home.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
roland-sabe-tudo
“-Então, por que não quer olhar para lá? – Susannah perguntou.
- Porque é um problema – disse Roland – e está na nossa estrada. Vamos chegar lá quando for a hora. Não é preciso viver o problema antes de o problema começar.”
terça-feira, 29 de setembro de 2009
As crianças do jardim de infância
Além de ambos terem se formado comigo e serem duas das pessoas mais fantásticas que eu conheci na vida, eles têm isso em comum: brigas e longos períodos sem falar comigo. Ela, cerca de 1 ano. Ele, o triplo disso.
E, então, lá estava ele, em meio a chilli fries, falando sobre a conversa do MSN que eu mandei pra ele há pouco tempo. Tal conversa ocorreu quando nós já estávamos brigados e sem conversar. Foi naquela fase em que o ex-amigos querem reaparecer só pra machucar, pq pensam que não é justo só eles estarem sofrendo (acreditem, os dois sempre estão sofrendo muito; só que a gente só conhece a própria dor). E a conversa – inútil e imatura e mil vezes cruel – tinha lá um ponto surreal: “você é feia!”, “você é gordo!”. Oi? Fora de contexto isso certamente seria inserido em uma cena de jardim de infância, céus! E eu guardei essa conversa (guardo muita coisa no meu gmail arraso!) e mostrei pra ele recentemente. Ele riu, eu ri. Na mesa do mexicano, logo depois dele ter contado, nós três rimos muito (óbvio!).
Hoje eu estava em um dia meio deprê (por muitos motivos... enfim...). Fui conversar com o Davi no MSN.
Antes, alguns fatos sobre o Davi: ele é absurdamente divertido, toda conversa com ele garante boas risadas. Tb é um dos meus grandes amigos (e foi o mais próximo, durante um certo tempo). E nós tb brigamos e ficamos anos sem contato.
Pausa: algo muito legal que eu aprendi com o tempo foi que amizades “terminadas” normalmente voltam a existir do nada e melhores. Do nada? Não sei... Prefiro acreditar que tinha que ser assim...
Pois bem... Estou lá conversando com o Gansão (eu simplesmente gosto de chamá-lo assim) e ele solta:
- ... você lembra pq a gente brigou?
- Eu não lembro que dia é hoje. Responde?
Bom, momento de voltar ao passado, óbvio. Entre fatos cômicos e muitas divergências de interpretação dos acontecimentos, percebi que brigamos por coisas bobas. Por coisas que deixaram de ser importantes no jardim de infância. De novo.
Até então, o que eu aprendi? Que a gente briga muito por bobeira. Muito mesmo! E que a gente devia perceber isso mais cedo. Pedir desculpas mais cedo. Desculpar mais cedo. E perder menos tempo das pessoas importantes. Eu perdi anos de conversas, passeios, abraços, conselhos, carinhos e risadas dessas 3 pessoas queridas. E não é que eu me arrependa do que aconteceu... Eu sei que tudo que existiu no passado me fez ser quem eu sou hoje e, por isso, é válido. Eu só penso se “anos” não é muito tempo, se a gente não podia ter ficado só em “meses” ou “dias”, tempo mais do que suficiente pra “poeira baixar” e a gente se dar conta do valor daquelas pessoas.
Pausa: a partir de agora, minha meta é não chegar a “meses”.
Essa semana eu recebi um email. Totalmente inesperado. E confuso. Informação importante: a pessoa que enviou o email já foi uma das minhas grandes amigas e eu não falo com ela há espantosos 8 anos. E, de repente, lá estava o email. Confuso, mas bacana. Surpreendente, mas uma surpresa espantosamente boa.
Ela falava em culpa, em coisas blé do passado. E eu me peguei pensando em uma história que já era praticamente esquecida... Eu sabia que tinham coisas péssimas no passado, mas... quais? Sim, eu tive raiva. E qual foi o motivo? Não lembrava... Consegui pensar em 2 ou 3 grandes bobeiras – as tais coisas do jardim de infância. Mas, quando parei pra lembrar, a lembrança mais forte era de nós duas rindo. Rindo muito. Quando me esforcei por uma lembrança mais específica, ouvi a voz dela dizendo “Você é tão engraçada...”. Eu descobri que era engraçada aí. E, nesse momento, ela foi muito importante na minha trajetória. E nenhuma lembrança péssima.
Grande descoberta da semana: eu não sou rancorosa. Sempre achei o contrário, confesso. A best diz que minha memória é assombrosa, que eu lembro detalhes mínimos dos acontecimentos. É, eu sempre fui assim. E, por isso, achava que rancor e mágoas eram constantes na minha vida. Surprise, surprise: não são! Eu tenho facilidade em esquecer os aspectos negativos de “confrontos” do passado e reter só as boas lembranças.
E, então, em meio a tantas indas e vindas, fins e recomeços, coisas repensadas e – ainda bem! – um saldo bem positivo de tudo isso, fico tensa só em pensar se não pode ser prejudicial essa tendência a esquecer coisas ruins e manter vivinhas na memória as coisas boas. É que tem amizades que terminam por motivos diferentes dos do jardim de infância (ou não... vai saber...). É que tem horas que a gente sente uma saudade tão grande e precisa tanto lembrar de coisas ruins para doer menos. E aí, mesmo relendo emails antigos (alguns bem cruéis), mesmo pensando em tudo que machucou e machuca, mesmo já tendo os olhos ardendo de tanto chorar, mais forte que tudo, fica sempre a sensação de estar perto, lado a lado, as vozes baixas dividindo problemas (que diminuíam...), o alívio chegando, acompanhado do sorriso confortador e dos (grandes) olhos que prestavam atenção de verdade (tão raro hoje em dia, essa atenção...)... e terminando nas risadas. Sempre. Num futuro, eu quero isso; quero só as lembranças boas. Mas... agora?... Sei não... Sei que talvez as lembranças ruins (os anzóis que machucam) sejam mais protetores...
E sei que, por meta, eu não devia deixar chegar a “meses” (ainda mais qdo já chegou uma vez). Mas tem coisas que independem de mim...
sábado, 26 de setembro de 2009
Home is knowing
Dorothy: That's beautiful! Who said that?
Scarecrow: [modestly] I did.
Tinman: And I'll miss you... every day. Even if I had to go back to that junk pile... even as teeny's seat cushion... I wouldn't mind... because I have known... real love.
[cries]
Dorothy: Aww... don't rust yourself now.
[wipes away the tears]
Dorothy: Please, is there a way for me to get back home?
Glinda the Good: Well, Dorothy, you were wise and good enough to help your friends to come here and find what was inside them all the time. That's true for you, also.
Dorothy: Home? Inside of me? I don't understand.
Glinda the Good: Home is a place we all must find, child. It's not just a place where you eat or sleep. Home is knowing. Knowing your mind, knowing your heart, knowing your courage. If we know ourselves, we're always home, anywhere.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
O feixe
“Por que tem de me ferir, se gosto tanto de você? Se não posso fazer nem querer nada mais, pois o amor tomou conta de mim, me alimentou e foi o que me sustentou em dias melhores? Por que vou me cortar, desfigurar meu rosto e me encher de pesar? Eu apenas o amei por sua beleza como você me amou pela minha nos dias em que o mundo ainda não seguira adiante. Agora você me marca com unhas e derrama gotas ferventes de mercúrio no meu nariz; tem mandado os animais para me atacar, assim é, e eles têm comido minhas partes mais tenras. Ao meu redor os can-tai se agrupam e do riso deles surge a paz. Contudo, eu ainda o amo e o serviria e traria de novo a mágica se você me deixasse, pois foi assim que meu coração foi forjado quando saí do Primal. E antigamente eu era forte, assim como era bonito, mas agora minha energia está quase acabada. Se a tortura parasse agora, eu poderia me recuperar... se não a aparência, pelo menos minha energia e minha kes. Outra semana... ou talvez cinco dias... ou mesmo três... e será tarde demais. Mesmo que a tortura pare, vou morrer. E você vai morrer também, pois quando o amor abandona o mundo, todos os corações se calam. Fale a eles do meu amor, fale a eles da minha dor e fale da minha esperança, que ainda vive. Pois isto é tudo que tenho, tudo que sou e tudo que peço.”
domingo, 13 de setembro de 2009
Pérolas do Tio Peter
“Então meu pai perguntou-me: ‘O que você preferiria, um centavo dourado e brilhante ou seis centavos cinzentos e sujos?’. Fiquei atordoado com a pergunta; podia sentir que havia nela um certo ardil, mas eu sempre optaria pelo centavo brilhante.”
“Sempre levamos conosco, a qualquer lugar que vamos, toda a nossa vida.”
“Cheguei à inesperada descoberta de que o momento crucial, que pode nunca mais voltar a acontecer, está acontecendo a todo o tempo.”
“Nada em um espetáculo teatral é mais importante do que as pessoas das quais ele é composto.”
“Se se é paciente e, acima de tudo, respeitoso, as coincidências acontecem, e as portas abrem-se por si mesmas.”
“O sentido mais preciso da vida é sempre encontrado na presença da morte.”
sábado, 12 de setembro de 2009
É difícil porque é difícil
A discussão era sobre traição.
A experiência dela – pouca... mínima – não permitia que ela emitisse qualquer julgamento. Trairia? Como reagiria diante de uma traição? Não sabia e não tinha como saber. Sabia em que acreditava: que havia ocasiões e ocasiões. Ocasiões em que poderia haver perdão e ocasiões em que tortura seguida de morte seria o mais leve dos castigos. Preferiu o silêncio.
Até o momento em que ouviu a expressão “traição entre amigos”. Neste momento, foi como se mil engrenagens começassem a trabalhar a todo vapor em sua mente. A traição entre amigos é absurdamente mais ampla do que todas as outras traições. Quando se está em um relacionamento amoroso, trair é basicamente se envolver com outra pessoa. Dentro de uma amizade, trair é muito mais. Tudo que resulta em desrespeito, tudo que machuca, tudo que abala a confiança... tudo pode ser encarado como uma traição.
E essa traição ela conhecia. E bem! Já havia sido desrespeitada, machucada por tantos pretensos amigos. Já confiara em vão por vezes infinitas.
Um dos pontos mais complicados da traição entre amigos, ela sabia bem, é que há uma quase obrigação em se perdoar. A gente se torna quase santo, esquece, finge que não vê, se esforça de forma sobre-humana para preservar uma relação com amigos. Talvez por ser a amizade a forma mais pura de amor, a mais incondicional. Em família, apesar de tudo, há a convenção do sangue, embasando uma relação. Entre um casal, há o desejo, a recompensa física. Entre amigos? Não há nada. Há o amor puro e simples. Obrigando a perdoar, a aceitar, a esquecer. A conviver com o que quase não dá para se conviver.
(E, enquanto pensava tudo isso, ela nem sabia que, mais uma vez, estava sendo traída.)
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Parada e transição
Começou com o banho de sol. Queimando, aquecendo, energizando.
Aí foi o choro. Até a última gota, pra acabar e não voltar.
Filmes.
Banho de chuva. Limpando, levando, refrescando.
Família, fundamental.
Cabelo. Mudando, encurtando, colorindo...
Lisístrata. Turma nova, primeira montagem. E como isso foi importante... Ter, de novo, aquela energia da primeirona, aquela empolgação. E, ao mesmo tempo, perceber o quanto as coisas mudam em tão pouco tempo, entre a primeira e a quarta. Dimensão exata da evolução. Incrível!
Almoço e passeio pelo shopping.
Chicago. Bacana, lição de produção.
Conversa extremamente importante pelo MSN (e, talvez, a pessoa nunca saiba o qto foi importante naquele momento).
Ensaio. Com as pessoas incríveis.
Aula. Com as pessoas incríveis.
A decepção de ter pouco do texto de Woody Allen cede lugar à possibilidade – rara, se não for única – de encenar meu próprio texto. Qtas pessoas farão Woody Allen esse semestre? Só na minha turma, 15. E qtas farão seu próprio texto? Eu...
Sorvete, nhami.
Relaxamento na aula mais chata, pra ficar tudo perfeito.
Pefffinha excelente do ex-diretor querido, que agora tem cabelos loucos.
A balada não rolou, mas o karaokê, sim. E foi muito melhor. Lá estavam, de novo, pessoas incríveis. E a gente riu, riu, riu, riu... Noite fabulosa!
Total eclipse of the heart se torna minha música oficial de karaokê. Fato.
Turn around...
E KLB no karaokê é... vida! Devolva minhas fantasias... devolva meu ar.
Feriado no Ibirapuera, o parque da infância.
Ler Lisístrata na sombra de uma árvore, sentindo o ventinho...
Comer cachorro-quente na floresta encantada dos emos...
Passear no fim do dia...
Pra encerrar, conversa pra acertar. Pra consertar, pra retomar. E pra que eu descobrisse que o que importa, não muda. Mesmo.
De bônus, mexicano com os melhores mackenzistas ever, numa terça chuvosa.
É...
Feriado da independência.
Realmente.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Está amargo - muito amargo.
Passei essa semana toda pensando nele.
E, ontem, quando depois de meses e meses, vi Roland finalmente chegar à Torre Negra (e, sim, fiquei passada. e, sim, mudou minha vida. e, sim, recomendo.), pensei, de novo, nestas palavras. Dessa vez, com mais força.
Commala-venha-venha.
Ka.
Vi uma criatura, nua, bestial,
Que, agachada no chão,
Tinha nas mãos o coração,
E dele comia...
Perguntei, "Está gostoso, amigo?"
"Está amargo - muito amargo",
ele respondeu,
"Mas gosto disso
Porque é amargo
E porque é meu coração."
(Stephen Crane)
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Pq eu fui fazer teatro?
Todo mundo deve ter percebido o quanto me apaixonei pelo teatro nos últimos anos, o quanto me encontrei nesse mundo mágico.
Muitas pessoas sabem que nos meus 15/16 anos, eu já tinha feito aula de teatro. Na escola, na roça, mas com um professor incrível (o grande Bira). Entrei por acaso. Minha irmã, que é aparentemente menos tímida do que eu (na verdade, é uma fofura de tão jeca e eu sou beeeem mais “descolada” que ela, mas, enfim, eu uso óculos e isso define tudo), começou a fazer o curso. Eu, que estava no terceiro colegial, não podia fazer o curso. A escola – ridícula, hoje percebo – achava que em ano de vestibular, os estudantes devem se concentrar em estudos e coisas sérias. Como se não se estudasse teatro e não fosse “sério”. Fui só pra acompanhar minha irmã, pq ela dizia que era super legal. Não saí mais. Quando acabei o colegial e saí da escola, continuei, por um tempo, com o Bira, num curso/grupo. Até que o Bira foi embora. E, com ele, o teatro na minha vida.
Pausa: Nas aulas do Bira trabalhamos um texto insano que eu amava. Pesquisei (santo Google!) e acabei de descobrir que esse texto chama “O Defunto” e é de um dramaturgo francês e é teatro do absurdo. Que é só meu gênero preferido hoje, agora que eu conheço melhor. Incrível!
Bom. Anos se passam. Muita coisa acontece. Em 2006, eu começo a falar em voltar a fazer teatro, a procurar cursos. No final do ano, meu pai me dá de Natal a matrícula. Em 2007, começo. Por começar. Terapia. Mas não paro. Em 2008, ao som de “Mad World”, de vestidinho azul e trancinhas, na beirinha do palco, vendo o público entrar, percebo que não vou conseguir parar. Talvez nunca. No final do ano, depois de meses desgastantes, problemas pessoais, saio do palco e tiro o sapato vermelho. Meu pé sangra. Dói. E eu não havia sentido nada em cena. Em meio ao caos que rondava minha mente naquele momento, me encontro. Era isso. Era isso que eu queria pra mim. Todo o pacote, incluindo as dores, os pés sangrando.
Entre o Bira sumir e eu perceber que precisava voltar, existe algo importante. E, pra explicar, eu preciso voltar muitos e muitos anos no túnel do tempo.
Eu passei minha infância, pré-adolescência, adolescência e tudo mais sendo a irmã mais velha de duas irmãzinhas. E minha maior alegria era entretê-las. Era contar historinhas, fazendo vozes diferentes para cada personagem. Inventar histórias loucas. E fingir. Fingir que era bruxa, princesa, fada, macaco, retardada mental, monstro, corcunda. Fingir pra assustar, fingir pra ouvir a gargalhada delas. Minha mãe me via de dentadura de vampiro, lençól amarrado como capa e óculos escuros (era a época de Vamp, minha gente) e dizia “Essa menina vai acabar fazendo teatro!”. E, de repente, lá vinha a Bruna correndo, dando gritinhos e a Dan rindo, rindo e, atrás, eu arrastando uma perna, com o corpo todo torto e grunhindo, e Dona Denise dizia “A Tata vai acabar sendo atriz...”. Não, eu não ia. Eu sepre fui tímida. Fazer aquele tipo de coisa na frente de todo mundo? Num palco? NO WAY!
Por isso, quando o Bira sumiu, eu não senti necessidade de procurar outro curso, de continuar fazendo aquilo. Pra que? Eu jamais faria aquilo de verdade, né?
É. Até 2005, era. Em 2005, tudo mudou. Minha vida mudou. Por inteiro. E a Bruna, minha princesinha, virou estrela. Encantou-se. Princesa Estrela.
Tudo doía. Entre tudo, algumas coisas eram particularmente difíceis. Não ter pra quem contar a história da lagartixa que queria virar jacaré. Não ter com quem dançar thriller. E não ter com quem fingir que era hare khrisna. Eu podia ser bruxa, fada, princesa, corcunda, vampira... Ninguém mais ia achar graça. Ninguém mais ia rir e apertar os olhinhos em formato de vírgula. Eu tinha perdido uma irmã e a graça. Eu era uma pessoa sem graça.
E eu precisava de um lugar em que pudesse voltar a ser bruxa, princesa, macaco, monstro, corcunda... Menina de 10 anos malvada, secretária neurótica, mulata gostosona. Eu precisava encontrar uma forma de fingir ser outras coisas sem precer uma lunática. Eu precisava do teatro.
E, ali, no palco, eu tenho certeza de que a Bruna está me vendo. Eu vejo os olhinhos de vírgula ficando pequenos de tanto rir. Minha gratidão por todo o público é imensa, mas quando eu tô no palco, o que eu faço ali, é pra ela. É pra ouvir ela rir de novo.
(o que tb deve explicar pq eu gosto tanto de comédias e pq eu sempre acabo dando um tom cômico às minhas personagens)
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Essas criaturas fantásticas que eu sou
Ok.
Aí coloca 2 mil regrinhas bobas.
Já não gosto. Não gosto de regras que limitam o ato de escrever.
Mas aceito.
E, então, ele me pede um texto de apresentação.
Escrevo.
Ele me diz que não quer romantismo, que não tem a ver com o que ele quer.
Eu digo que se meu estilo não tem a ver com o site, melhor deixar pra lá.
E fico sem entender como se escreve sem se envolver.
Só pra constar: achei o blog bem chatinho.... Enfim...
Esse era o texto de apresentação:
A proposta era falar um pouco sobre quem eu sou. Eu poderia dizer tanta coisa sobre mim... Poderia dizer que sou jornalista por formação, redatora por profissão, escritora por vocação e estudante de teatro. E, no fundo, isso não diz muita coisa sobre quem eu sou. Poderia dizer que eu sou taurina, que eu sou a irmã mais velha, que eu sou teimosa... Nenhuma dessas possíveis descrições mostra exatamente quem eu sou. Já que é pra falar de cinema, eu poderia dizer que minha primeira lembrança cinematográfica é de ET – O Extraterrestre ou que o filme da minha vida é Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Também não me descreve ainda. O que me descreve? Talvez algumas personagens fantásticas...
Eu sou um pouco a menina Dorothy Gale, perdida em uma terra estranha (Oz, ou não) e buscando encontrar um caminho pra casa. Percorrendo a estrada de tijolos amarelos da minha vida, com uma fé tremenda em um suposto mágico que teria todas as soluções pros meus problemas. A menina que fugiu do tornado na pequena fazenda do Kansas e nem percebeu que o tornado estava ali, dentro dela. No coração, na cabeça e na coragem (e ela, ao contrário dos companheiros de jornada, tinha muito dos três).
Eu sou um pouco Scarlet O´Hara, lutando pelo meu espaço e por minhas crenças e passando por cima de tudo nessa luta. Tentando preservar o patrimônio da minha família, errando, sofrendo e jurando, com Deus por testemunha, que nunca mais passarei fome de novo.
Eu sou um pouco Mary Poppins, com a ideia de uma missão de levar mais fantasia a crianças. Ela era babá, eu escrevo histórias infantis, mas, no fim, acho que temos a mesma vontade de espalhar magia e encanto, de fazer o mundo infantil mais feliz e animado, mais.... supercalifragilisticexpialidoc
Eu sou um pouco Gracie Hart (a Miss Simpatia, pra quem não lembra), atrapalhada, tendo que me dividir entre o lado que acha que as mulheres mandam e defende certas causas e o meu lado mulherzinha, que adora livro de miss (sim, O Pequeno Príncipe) e só deseja a paz mundial.
Eu sou um pouco Margot Channing, acreditando na bondade das pessoas (e, conseqüentemente, me dando mal por causa de meia dúzia de Eves que aparecem por aí) e descobrindo que o teatro é meu lugar preferido, meu cantinho sagrado.
E eu sou muito (mas muito mesmo) Clementine Kruczynski (a fabulosa Kate Winslet de cabelos coloridos do filme da minha vida). Todo mundo que me conhece sabe: sou impulsiva. Eu faço. Falo. Brigo. Confesso. Depois de tudo, paro e penso. Sou aquela overdose de cor e som e luz e fúria.
Juntando todas em uma única pessoa, que vive em um roteiro de Almodóvar, dirigido por Woody Allen... Bom, essa sou eu!