sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Ka



Era hora do acerto de contas. Como um pistoleiro diria.
Estava longe do Velho oeste... mas o quão longe?
Havia aprendido muito nos últimos meses. Sabia da relatividade da distância. E do tempo.
Hora do acerto de contas? Um ano e meio depois?
Sim, era a hora.
Coisas ficaram por dizer. Sustentadas. Estagnadas. Não haviam sido faladas, portanto, ninguém as ouviu. Nem quem deveria. Nem quem precisava.
Se tivesse falado antes, antes da hora certa, teria sido fria e cruel vingança. Calculada. Pra machucar.
Mas um pistoleiro não atiraria por trás, certo?
E não era a hora... Simples assim.
Um ano e meio. Um ano e cinco meses, na verdade. 17 meses. 523 dias, pra ser ainda mais exato. Foi esse o tempo necessário para amadurecer a idéia. E o sentimento.
Pra deixar de ser vingança e se tornar um simples acerto.
Agora, era só falar.
Explicar.
E seguir em frente, depois. Seu próprio caminho.
Mas seguir mais leve...
Ka.

Thus, I had so long suffered in this quest,
Heard failure prophesied so oft, been writ
So many times among ``The Band''---to wit,
The knights who to the Dark Tower's search addressed
Their steps---that just to fail as they, seemed best,
And all the doubt was now---should I be fit?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Clementine



Ela entrou. Olhou a recepcionista. Como todas as outras: chiclete, lixa de unha, fone em um dos ouvidos.
Disse, baixo, tensa:
- Eu preciso ver o... er... o Doutor.
A recepcionista parou o processo de lixar a unha do dedo indicador direito. Levantou os olhos, lentamente. Sorriu.
- Você tem hora marcada?
- Não...
Um cartãozinho foi colocado sobre o balcão e a jovem voltou às unhas, à lixa, ao seu mundo, fazendo uma enorme bola de chiclete.
Cartão azul. Logo. Telefone. O nome. Lacuna inc.
- É... eu não posso marcar hora e esperar.
O sorriso sumiu. Cara de tédio. A jovem tirou o fone do ouvido e indagou, em tom desafiador:
- Não?
Ela estava sem graça. Ela ia pagar, tinha direito a um bom atendimento. E, mesmo assim, a jovem a intimidava.
- É que é uma emergência.
- Todo mundo diz isso no primeiro contato. Pessoalmente, por telefone... É sempre uma emergência.
Ela queria mesmo retrucar. Mas estava tão cansada... A coisa toda não saía da sua cabeça há meses, ela podia aguardar um pouco mais, não é?
Esfregou os olhos. As malditas lágrimas já estavam começando a aparecer. Malditas!
- Tudo bem... Eu ligo...
A recepcionista a olhava. Estarrecida. Um misto de "já vi essa cena milhões de vezes" e "deus, como quero te ajudar... eu sei como dói!".
Guardou o cartão. Simulou um sorriso. Abriu a boca para agradecer, mas a voz não saía.
- Espera...
Esperar era tudo que ela fazia...
A jovem jogou o chiclete no lixo. Levantou. Sorriu novamente.
- Eu vou ver o que consigo. Senta ali e espera um pouco.
Ela sorriu. O sorriso era seu agradecimento. E sentou. E esperou.
Esperar era tudo que ela fazia...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

It’s a wonderful life!³

2008 foi um ano 1. Ano de inícios, segundo a Msla.
Não sei se muita coisa começou em 2008. Muita coisa continuou em 2008. Algumas coisas aumentaram em 2008, outras diminuíram. Algumas até acabaram.
Muitas – muitas mesmo – mudaram.
E, de uma forma geral, as coisas se intensificaram em 2008. Coisas intensificadas. Para uma pessoa que, senso comum, já é meio intensa demais.
Assustador.
Em 2008 eu continuei sem saber o que quero fazer pro resto da vida. Mas, pra lista das coisas que terminaram, eu descobri que não queria continuar infinitamente sendo explorada na tal da maior empresa de comércio eletrônico da América Latina (blé!). E, depois de 3 anos, eu pedi pra sair. Desisto, senhor, desisto. E saí, sem nem ter pra onde ir. Um mês depois eu já estava em outro lugar. Comércio eletrônico tb, mas segmentado. Cinema. Parece legal, mas não é. É só melhor do que o outro era, o que já é uma evolução.
Em 2008 eu decidi que vou até o fim na outra coisa. Na terapia-lazer-diversão-curso-sabe-se-lá-o-que. Pq o Natal foi uma delícia, apesar de tudo. E pq Sala de Espera me fez ter certeza de que fazer isso me faz bem. Me melhora. Me aumenta. Me intensifica. (Mais? Oh, céus!).
Em 2008 eu fui mais ao cinema. Fui absurdamente mais ao teatro. E realizei sonho de vida de forma grandiosa... Todo ano eu sonho em ir num grande show. Nunca vou. Mas aí, era 2008 e lá estava eu cantando Like a Prayer junto com a diva. Perfeito!
Em 2008 muita gente foi pro outro lado. Saudade de partes importantes da minha infância.
E foi um ano de pessoas. De gostar muito de pessoas, de odiar pessoas, de conhecer pessoas, de não conhecer pessoas, de se decepcionar com pessoas, de se surpreender muito positivamente com pessoas. De estar com pessoas. Pessoas importantes, todas elas. Algumas, mais. As que ficaram – imensa maioria esmagadora.
A melhor coisa do ano, acho, foi que foi um ano 1 mesmo pra pessoa que eu mais amo ever, que vem a ser a minha mãe. Ver como ela está hoje me faz feliz. Feliz mesmo.
A segunda melhor coisa: que tudo – sem exceção alguma – valeu muito a pena.
It’s a wonderful life!

PS: Pequeno, pq essas coisas não devem ser importantes. A pior coisa? Parar pra pensar que a pessoa que mais marcou o ano (com presença, companhia ou whatever) nem ao menos estava por perto no final dele.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Meus clarences

E, de repente, ele estava acabando.
Era o penúltimo dia. O penúltimo dia do ano 1. Não do meu ano 1, segundo minha consultora Msla.
Eu comecei a comemoração nele mesmo. No 30. Eu e uma das melhores pessoas que eu já conheci na minha vida (arrisco dizer, em todas as minhas vidas) fomos comer e ter a última conversa do ano no mexicano.
Tacos, chillie fries, mariachis, toalha de mesa roxa. Lembramos 2008. Arriscamos previsões para 2009. Uma pequena aula sobre o ano 2, ano de parcerias. E o 3, e o 4, e o 8... O 5, não. Ele é o do meio. Foi excluído.
E veio o último. Mala pronta, arrumação básica, caminhada com músicas felizes, metrô. Nem lembrava mais da última vez que eu andei de metrô. Tietê. E eu lembrei da última vez que eu estive lá e me permiti ficar blé por cerca de 16 segundos. Passagem. Capitu-Capitu-Capitu e acabei. Último livro do ano. Viagem blé com dores, muito frio e muita música. Niterói. Também não lembrava da última vez que eu estive lá. Tudo bem, Tb não lembro da primeira vez que eu estive lá. Mesmo pq isso foi nos remotos tempos do quarto dia do quinto mês do ano de 1981. A dor passou, pq o importante estava lá: a família. A natural e a escolhida e/ou imposta pela hermana. E o hotel era um arraso, apesar dos defeitos. Cama delicinha, ar condicionado gostoso, na TV, a Marcy escolhia roupas mais legais... Banheira quentinha... Roupa nova, calcinha lilás pq a mama disse que tinha que ser assim e assim seja! Pacotão clichê de ceia-briguinhas-mau humor-fogos.
E o último virou primeiro.
E eu fiquei feliz por ter assistido o lindinho filme do Clarence há pouco tempo.
O primeiro me encontrou restaurada. É essa a palavra.
E acreditando.
Tudo leva a crer que é mesmo a wonderful life. A minha, a sua, a deles, a de todo mundo. Por ser life, torna-se wonderful. Ou deveria tornar-se.
Tudo indica que há clarences entre nós. Disfarçados. Ou não.
Eu só sei que, entre o penúltimo e o primeiro, encontrei alguns dos clarences mais importantes da minha vida.
E que todos eles me disseram a mesma coisa: no man is a failure who has friends...