quinta-feira, 26 de setembro de 2013

sdds twitter 02



poder jantar geleia de mocotó é, definitivamente, uma das coisas mais legais de ser adulta.
11:32 PM Sep 11th from twitgether

lição de anticristo: nunca ajude alguém que poderá te surrar, ferrar tua perna e te enterrar vivo depois, mesmo q vc ame essa pessoa.
5:35 PM Sep 1st from web

a gente tem que clicar em "enviar" pensando "há outros mundos...". tem. precisa.
3:12 PM Aug 31st from twitgether

algo que aprendi recentemente sobre a minha pessoa (acho "a minha pessoa" uma expressão batuta!): eu jamais entendo uma indireta.
1:56 PM Sep 29th from twitgether

Childe Roland to the Dark Tower Came.
10:46 PM Aug 27th from twitgether

"É que nem disputa de melhor cosplay: ninguém ganha porque não há vencedores. Todos são perdedores." (hahahahahaha)
5:10 PM Aug 27th from twitgether

"Amapá, Brasil (medesculpabr) is now following your tweets on Twitter." oi?
4:12 PM Aug 27th from web

enqto isso, no gtalk... "eu acho que o monstro do lago ness tá na moda" / "eu acho q ele nunca sai de moda"
4:54 PM Aug 26th from twitgether

enqto isso... "o que vc tem vontade todo dia? ou toda hora? e nao sai da sua cabeça?" / "pensei em 2 respostas. mas, ok, cachorro quente."
4:50 PM Aug 26th from twitgether

se tem algo que eu nunca vou entender é como o Thom Yorke balança tanto a cabeça enquanto canta e não fica tonto. eu fico! só de ver!
11:12 AM Aug 25th from twitgether

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

a professora de teatro 6



- ah, é muito caro esse curso!
- na verdade, não. se você comparar, vai ver que todos os outros cursos extra-curriculares na cidade cobram o mesmo ou mais por uma aula de 1 hora por semana. eu dou duas aulas de 1 hora e meia.
- mesmo assim! você ganha o que? 10 reais por aula, por aluno?
- nem sempre chega a isso, depende do mês...
- é muito!
- olha, vou te dizer que não é. uns 25 reais por hora-aula ainda seria menos do que é realmente justo. não é só o trabalho aqui, além de tudo. eu preparo aula em casa, faço relatórios pra saber como conduzir a turma, estudo muito...
- ah, você acha que sua aula vale 10 reais?
- eu acho que vale muito mais. mas eu sou completamente apaixonada pelo teatro e eu sinto que preciso passar o que aprendi com o teatro para outras pessoas. o teatro me transformou, e eu quero possibilitar que mais pessoas sejam transformadas por ele. é como se eu tivesse uma missão, talvez. eu quero que crianças e adolescentes se tornem adultos melhores, através do teatro...
- com 10 reais eu compro um lanche pra minha filha.

(isso, investe na alimentação da sua filha e não na formação... obesidade feat. infelicidade: a gente vê por aqui. e, aliás, moça, onde, pelamordedeus, você tá pagando 10 reais num lanche? pq nos fast food da vida tá quase o dobro! compartilhaê a dica com os colegas!)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Eu li num livro 36



Livro: Um Dia

Autor: David Nicholls

Doses de sabedoria:

* Eu acho que a realidade é algo muito superestimado.

* Sei por meio de suas cartas e por tê-la encontrado depois da sua peça que você sabe ao certo o que fazer da vida, está meio sem rumo, mas tudo bem, tudo certo, porque todo mundo é assim aos vinte e quatro anos. Na verdade, toda a nossa geração é assim. Eu li um artigo; é porque nunca lutamos numa guerra ou por termos passado muito tempo em frente à televisão ou algo assim. De qualquer forma, as únicas pessoas que têm rumo são muito chatas.

* Retomou a caminhada para o sul, em direção a The Mound. "Viver cada dia como se fosse o último" - esse era o conselho convencional, mas na verdade quem tinha energia para isso? E se chovesse ou você estivesse de mau humor? Simplesmente não era prático. Era bem melhor tentar ser boa, corajosa, audaciosa e se esforçar para fazer a diferença. Não exatamente mudar o mundo, mas um pouquinho ao redor. Seguir em frente, com paixão e uma máquina de escrever elétrica e trabalho duro em alguma coisa. Mudar a vida das pessoas através da arte, talvez. Alegrar os amigos, permanecer fiel aos próprios princípios, viver com paixão, bem e plenamente. Experimentar coisas novas. Amar e ser amada, se houver oportunidade.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Império Místico



A entrada do próximo milênio ainda está envolta em uma nuvem de mistérios. Por isso, numa época em que o avanço tecnológico é enorme e a ciência e a razão são os grandes mitos, a aldeia global naufraga em uma maré de misticismo, esoterismo e crendices em geral.

Essa nova onda está vindo com tamanha força que consegue atingir todas as classes sociais; tendo os novos místicos qualquer atividade profissional ou grau de instrução. E a procura maior desse novo ramo acontece nas horas de crise; sejam estas financeiras, conjugais ou profissionais. E os caminhos para encontrar o auxílio são muitos e variam entre a cartomancia, gnomos, astrologia, entre outros.

Quando o misticismo serve como base para criações literárias, casos de Fernando Pessoa e Cecília Meirelles, tem sempre aspecto positivo. As obras, frutos de instantes ocultos, brindam os leitores com momentos de entretenimento. E obtém tal sucesso pelo simples fato de serem livros em que o mistério e o desconhecido imperam.

Mas esta nova mania internacional também traz consquências negativas. Surgem em todos os cantos indivíduos que abusam da crença da população para lhe extraírem dinheiro. Além da criação de seitas, como a de Jim Jones, na Guiana, em 1975, que sempre culminam em tragédia, há perigos ainda maiores.

Essa mudança nos ideais de todos os habitantes do mundo pode significar um retorno à Idade Média. Por outro lado, é bom saber que tem-se sempre algo em que acreditar.

(3º colegial, tema - misticismo, redação nota 8)

sábado, 21 de setembro de 2013

Camiseta



O girino é o peixinho do sapo.
O silêncio é o começo do papo.
O bigode é a antena do gato.
O cavalo é o pasto do carrapato.
O cabrito é o cordeiro da cabra.
O pescoço é a barriga da cobra.
O leitão é um porquinho mais novo.
A galinha é um pouquinho do ovo.
O desejo é o começo do corpo.
Engordar é tarefa do porco.
A cegonha é a girafa do ganso.
O cachorro é um lobo mais manso.
O escuro é a metade da zebra.
As raízes são as veias da seiva.
O camelo é um cavalo sem sede.
Tartaruga por dentro é parede.
O potrinho é o bezerro da égua.
A batalha é o começo da trégua.
O papagaio é um dragão miniatura.
Bactéria num meio é cultura.

(li numa camiseta, há mais de 10 anos, anotei, guardei, esqueci... e reencontrei)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Jessie - parte 01



- Por que você não pode ser uma criança normal, Jessie? Por qual motivo você precisa ser tão diferente?

Quando a mãe entenderia que ela era diferente? Que ela, em hipótese alguma, poderia ser normal?

- Eu converso com minhas amigas. As filhas delas brincam nas ruas com outras crianças. Tudo bem, você já tem 12 anos e pode não querer brincar, mas, pelo menos, poderia conversar com outras meninas, sair para passear. Você não tem amigos, Jessie, e isso me assusta.

E não assustava a ela? 12 anos sem ter com quem dividir todas aquelas... "coisas"? Ela percebeu muito cedo que era diferente, mas a mãe não percebia, fazia questão de não perceber.

- Você passa todos os dias no seu quarto. Computador, TV, rádio... Isso não é uma vida normal! Entenda isso! Você não pode ficar aqui em casa, só comigo e com aquelas estúpidas aranhas.

Estúpidas. Sua mãe chamava suas únicas amigas de estúpidas. Só elas ouviam suas queixas, suas angústias, suas dúvidas. Só elas não ligavam para aquelas coisas estranhas que aconteciam com ela.

- E aranhas, Jessie? Arrume um bicho normal. E que não se repita o que aconteceu com seu cachorro. Custava você cuidar direito dele?

Por mais que Jessie tentasse não pensar no que a mãe falava, ela insistia. E ela tinha que tocar no seu ponto fraco. Custava ter cuidado direito do cachorro? Ela amava Peter Parker mais do que a própria mãe. Peter não a cobrava, Peter a entendia e gostava dela. Ela não tinha culpa. Ela disse pra ele não se aproximar dela, mas ele era teimoso. Ela não queria que aquilo tivesse acontecido ao pobre cãozinho, não queria. Por isso preferia as aranhas. Dentro do vidro, elas não corriam riscos.

- Eu me esforcei tanto pra te criar sozinha. E você não se esforça pra me ajudar, você não quer ser uma filha normal.

As lágrimas já escorriam por seu rosto quando Jessie sentiu o calor. "Oh, não! De novo, não!", pensou.

- Eu não sei até quando vou aguentar, Jessie!

A mãe gritava, histérica. Ela sentiu o calor aumentar e correu para o banheiro. Trancou a porta, ligou o chuveiro e deixou a água escorrer pelo corpo, gelada, quase congelante, apagando as pequenas chamas que começavam a emanar de sua pele delicada.

Ao longe, ouviu a voz da mãe...

- E não pense que pode correr pro banheiro e fugir de mim!

Algum dia conseguiria fugir dela?

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Soneto das Flores


Nada mais eu vejo
A não ser as flores
Estas, de todos os tamanhos
E também de todas as cores

São rosas que nos convidam
A desfrutar, margaridas que são
Não são mais do que lírios
Flores-do-campo no coração

O tamanho de sua beleza
É impossível dizer
Frutos que são, da natureza

Elas nos poupam de toda dor
Talvez por serem
Cheias de vida, cheias de amor

terça-feira, 17 de setembro de 2013

sdds twitter 01


acho que decorei todas as malditas 123 falas. até a do advogado da união dos favelados, que não é nada seguro. brigadadeus!
3:06 PM Oct 13th from twitgether

"tem uma moedinha, linda? não? tudo bem, eu te amo." (acabei de ouvir de um mendigo, pra fechar bem a noite, rs)
12:14 AM Oct 10th from twitgether

protesto aqui perto: "nós vivemos em um país onde o patrão ganha mais que o empregado". certamente, nos outros países é diferente, né? pfff.
11:41 AM Oct 5th from twitgether

"Ele mexe comigo, esse garoto. Sempre. É sua única desvantagem. Ele pisoteia meu coração. Ele me faz chorar." (morte, sobre rudy steiner)
10:28 AM Sep 28th from web

o jacko, o patrick swayze e parte da minha infância morreram em 2009.
10:50 PM Sep 14th from twitgether

"você ri como uma diva dos anos 40... jogando a cabeça pra trás..." (hahaha) (joguei e ri, btw)
6:28 PM Sep 14th from twitgether

o teto do cine são josé desabou. é um cine/teatro lindo de s. roque. sempre quis vê-lo reformado. e muitas coisas acontecendo ali. blé.
11:42 AM Sep 14th from twitgether

eu já sou parcialmente uma assistente de mágico do oriente. muito ouro, muito glamour e muito mistério.
9:22 PM Sep 12th from twitgether

"vc tem uma fantasia pra mim?" / "tenho uma de mágico do oriente"/ (risos)
9:03 PM Sep 12th from twitgether

eu acabei de ganhar dinheiro com teatro pela primeira vez. tô chocada, aliás. a sensação é incrível.
3:33 PM Sep 12th from twitgether

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

a professora de teatro 5



- nossa, deve ser muito legal dar aulas de teatro.
- eu adoro!
- mas, me diz uma coisa: você nunca pensou em fazer teatro mesmo?
- como assim?
- você sabe... fazer teatro... tipo atriz...
- ah, eu sou atriz. tenho drt e tudo! rs
- mas já fez peça?
- 13, se não me engano. tô começando, ainda.
- que legal! mas fazer teatro mesmo você não quer, né?
- é... não entendi...
- eu digo, estudar. profissionalmente.
- então, é que eu já estudei. eu sou atriz, por formação. passei 5 anos estudando pra isso. e, agora, continuo estudando, mas fora da escola.
- nossa, que legal!

(legal, meu senhor, é você achar que eu ia dar aula sem nunca ter estudado teatro, né?)

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Eu li num livro 35


Livro: Marina

Autor: Carlos Ruiz Zafón

Dose de sabedoria:

* - Às vezes, as coisas mais reais só acontecem na imaginação, Óscar - disse ela. - A gente só se lembra do que nunca aconteceu.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O caminho das letras


A situação intelectual da sociedade brasileira é deplorável. É inquietante constatar que a população não conhece seu próprio idioma.

A sociedade atual, capitalista e consumista, contribui para a desvalorização da erudição em função de outros meios de comunicação, entre eles a endeusada televisão e os monstros digitais da nova era. Dessa forma, o antigo hábito de ler se tornou uma tarefa árdua e obrigatória.

Todos esses fatores culminam em uma alienação cultural. Apesar de ter-se acesso a todos os canais de informação, os cidadãos não a possuem. Tem-se dificuldade em redigir um texto e faltam raciocínio e senso crítico aos indivíduos.

É necessário ter consciência de que os verbos ler, pensar e escrever são totalmente opostos ao fatídico decorar. O personagem principal do romance Vidas Secas, Fabiano, não tem vontade de aprender e, com isso, acaba marginalizado. É caótico ver milhares de fabianos caminhando pelos grandes centros urbanos.

O homem é um ser pensante, capaz de refletir sobre sua existência e compreender o mundo em que vive. Apesar disso, através da abstinência cultural, a raça humana está se deteriorando. Em breve, tomará o caminho errado na escala da evolução: a regressão; se não voltar-se à leitura e à reflexão.

(3º colegial, tema - a importância da leitura, redação nota 8)

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Enjoy it

Então, é isso, Joel.
Vai acabar.
Logo.
E não há nada que a gente possa fazer.
Não há nada que eu possa fazer.
Vai acabar.
Tem que ser assim.
Predestinado.
Predestinado, Joely?
Tem que ser assim?
Ou vai ser assim, por ser o que você escolheu?
Caminhos. Muitos caminhos. Infinitos caminhos...
Seria muita sorte a gente escolher os mesmos, né?
Seria. Seria improvável. Im... possível?
Logo. Eu, aqui, mesurando o tempo. Sempre faço isso.
Estou ficando velha e nada faz sentido.
Uma tangerina velha. Sem sabor?
Oh querida, oh querida, oh querida... Clementine...
Nada faz sentido.
Não faz sentido acabar. Mas vai ser assim...
Nós ainda teremos Montauk?
Nós sempre teremos Montauk?
Nós nunca mais teremos Montauk?
Então, é isso, Joel.
Vai acabar. Eu vou pegar o primeiro taxi que passar e ir até a Lacuna. Gastar tempo e dinheiro. Porque eu não vou esquecer. Porque eu não quero esquecer...
Vai acabar. Logo.
E saber que vai acabar é até pior do que o acabar.
Uma tangerina angustiada.
Nada faz sentido.
Vai acabar logo.
E você sabe.
E o que fazemos?
Aproveitamos?
Ok.



quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Eu posso ser um gay?



Algumas perguntas marcam presença constantemente nas minhas aulas. "Posso trocar de personagem com ela?", "Pode usar os figurinos do baú?", "E se eu fizer errado?", "A gente vai mesmo ter que fazer alongamento hoje de novo?"... Essas aparecem sempre. E eis que, em uma aula recente, surge uma pergunta inusitada enquanto elas elaboravam uma cena: "Eu posso ser um gay?".

Contextualizando: eu dou aula numa cidade do interior, com nome de santo e toda uma tradição religiosa. Minhas alunas, dessa turma, são meninas de 12 ou 17 anos. A maioria delas estuda em uma escola que proíbe esmalte, brinco e contato físico entre alunos, entre muitas outras coisas. Eu tento não limitar a criatividade delas nunca e permito quase tudo em cena, até um anão de jardim serial killer. Lógico que eu deixaria ela ser um gay! Até mesmo pq eu estava muito curiosa pra ver o que ela ia fazer...

Pra minha surpresa, ela não usou clichê algum. Agiu normalmente, como tinha que ser. E eu estava bem feliz com isso, quando acontece o seguinte diálogo:

- Pq você está com roupa de mulher, se você é homem?
- Pq eu sou gay.

Esse é o momento em que, internamente, eu gritei "OI?". Ok, vou confessar: eu escrevi exatamente isso no meu caderno de anotações. "Pq eu sou gay. - OI?".

Tenho um amigo - gay - que me diz que eu não preciso usar a expressão "amigo gay", que é redundante, pois, se é meu amigo, já é sabido que é gay. Ok, uma imensa maioria dos meus amigos é gay. Pq eles são gays? Não, pq eles são pessoas maravilhosas e admiráveis e isso me faz gostar muito deles. Veja bem, não tô dizendo que heteros não são pessoas maravilhosas e admiráveis, estou só dizendo que "escolho" meus amigos pelo que eles são e não pelo gênero com que eles se relacionam. E eu faço teatro. Logo, a possibilidade de eu ter amigos gays é imensa. E, tudo bem, existe algo. Um difrencial. Algo que me transforma em, como dizem, um "ímã de gays". Talvez justamente por eu não diferenciá-los, por eu agir com eles como todo mundo deveria agir, tratando-os como trato todo mundo. Pq "beijar rapazes" não os define e não faz com que eles sejam diferentes. De ninguém.

Eu perdi a conta de quantos amigos gays tive na vida. Mas eu nunca vou esquecer o primeiro. Quando eu entrei na faculdade, eu queria ter um amigo gay. Filmes e Will&Grace demais, talvez. No segundo ano, em uma festa à fantasia, encontrei um amigo da faculdade. Eu estava de princesa, com um vestido enorme pink e dourado, um penteado incrível, muita maquiagem e um decote gigantesco e ele me disse "Deixa eu ver o que você tá usando no pé!". Ok, mesmo nada sendo assumido, ali estava meu primeiro amigo gay. E, alguns meses depois, ele me levou pra uma sala, fechou as duas portas, disse que tinha algo importante pra dizer e... "Eu gosto de meninos!". Óbvio que eu respondi que já sabia. E, a partir daí, era oficial.

Depois dele. apareceram muitos. Muitos "amigos", alguns AMIGOS. O leso que pintava meu cabelo e me acompanhava em lugares inóspitos, o que derrubou muitos preconceitos meus (quem nunca?), o que descia comigo pra chorar, o que não tinha cérebro (só que tinha), o que me emprestava o guarda-chuva, o que filosofava comigo, o que tinha asas, o que vivia no B612 e pertencia à nobreza... 9 pessoas maravilhosas, na minha eterna busca pelo meu Will, que seria o melhor pra sempre (e ainda não sei se o encontrei). 9 que, ainda bem, ainda são amigos sem aspas (alguns mais distantes). E 2 que eu não sei viver sem...

E, talvez por ter tantos amigos e por ver o mundo absurdo em que ainda vivemos e querer fazer algo para mudar, eu sinto necessidade de falar sobre isso. Na primeira peça que eu escrevi, Deus não é homem, nem mulher, diz que ser Deus é mais complexo do que ser travesti e ainda confessa que gostaria mesmo de ser drag queen (mas o povo lá em cima fica todo escandalizado..."). Na primeira peça infantil que eu escrevi, um dos personagens solta um "A-do-ro!" que levou a uma discussão eterna sobre a sexualidade dele. Na segunda peça adulta, eu aprofundei algo que aprendi com um dos muitos amigos (o que derrubou preconceitos meus): o quanto é tolice limitar alguém, por qualquer motivo, inclusive gênero e sexualidade. E nem vou falar da peça polêmica que quero finalizar até o meio de 2014...

Por tudo isso, me chocou o diálogo. Mas eu pensei "Bom, elas têm 12 anos... Com 12 anos, eu...". Com 12 anos, eu não sabia muito bem o que era um gay, embora convivesse com amigos gays dos meus pais. Eu não achava estranho o amigo deles que nunca tinha uma namorada (mesmo com várias mulheres tentando) morar com outro homem. Só que eu zoava esse mesmo amigo quando ele usava camisa rosa. O que eu mais lembro dele é que ele era uma das pessoas mais maravilhosas e humanas que eu conhecia. E ainda levava eu e minhas irmãs pra ver peças de teatro! As coisas são diferentes quando a gente tem 12 anos...

Só que eu tive 12 anos há duas décadas. Eu tive 12 anos nos anos 90. E era de se esperar que, em 20 anos, as coisas mudassem e as crianças e adolescentes soubessem que gays não usam roupas de mulher. E é triste ver o quanto isso ainda não mudou. E precisa mudar...

Eu conversei com as meninas sobre gays, travestis e drag queens (achei que crossdressing seria um pouco demais pra elas, por enquanto). Tentei explicar. Tentei começar uma mudança. É o que eu posso fazer. É pouco... Mas é muito, se mais gente agir assim!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Ira


Seus domínios vão crescendo
E ela, avançando devagar.
Maldito pecado capital!
Será que nunca vai cessar?

Corre afoita por meu sangue
Que, rubramente, me esquenta.
Entope minhas artérias, minhas veias...
Pará-la? Ninguém tenta!

Tão rápido quanto chegou
É mandada para fora.
É trabalhoso, mas tão fácil,
Aplacar a ira que me devora.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

I walk the line


Eles sempre brigavam. Uma vez, ela escreveu em um e-mail pra ele que um dia eles teriam 80 anos, estariam no mesmo asilo e brigariam. Todos os dias, pra todos os dias fazerem as pazes.
O problema é que eles não conseguiam separar o pessoal do profissional: um sempre invadia o outro. Quando o problema era pessoal, sempre interferia no profissional. Mas o pior era quando acontecia o inverso...
Eles batiam boca. Xingavam. Quando sozinhos, gritavam. E aí paravam de se falar. Por dias. Às vezes, por semanas. Aconteceu até de durar um mês inteiro. Só que eles não resistiam. E aí, de repente, lá estava um dos dois escrevendo um e-mail. Normalmente, ela. Era menos resistente à distância e saudade e, também, mais orgulhosa. Por isso vinham dela os e-mails. Ele, quando ela não se rendia, tinha o costume de aparecer em horas improváveis e dizer "E aí? A gente não vai conversar?". E conversavam. E acertavam as coisas. Eram grandes amigos e isso era sempre maior que os desentendimentos.
Em uma dessas vezes, se entenderam por e-mails. E, em um deles, ela disse que as coisas não podiam continuar assim. E ele disse "Eu ainda vou perder meu emprego e terminar meu namoro por sua causa". Como algo bom podia ser tão destrutivo? Mas era.
Ele brigava com todo mundo quando brigava com ela. Ela chorava escondida no banheiro quando brigava com ele. Ele passava mal. Ela não dormia. Ambos se destruíam. Mas continuavam brigando. E fazendo as pazes. E continuavam insistindo.
Até o dia em que eles brigaram. O que não foi novidade alguma. Ela chorou - o que também não era novidade - mas disse "Eu nunca mais vou falar com ele". Ele tinha ido longe demais. Ela se sentia humilhada, sabe? Aí o limite é atingido, não tem jeito. Ninguém acreditou, mas ela se manteve firme e forte: sem e-mails. E então as pessoas apostavam "Ele vai falar com ela". Ele não falou. No início, eles ainda se olhavam, de longe. Depois, pararam. Acho que desistiram. Nenhum deles ia ceder. Nada de brigas no asilo; aquela era mesmo a última.
Nunca mais se falaram. E, com o tempo, isso deixou de importar pros dois. Tinham vidas a viver. Que ficassem as boas lembranças, e só.
Nunca mais se falaram... mas foi com ele que ela aprendeu a gostar de Johnny Cash...