terça-feira, 3 de setembro de 2013

I walk the line


Eles sempre brigavam. Uma vez, ela escreveu em um e-mail pra ele que um dia eles teriam 80 anos, estariam no mesmo asilo e brigariam. Todos os dias, pra todos os dias fazerem as pazes.
O problema é que eles não conseguiam separar o pessoal do profissional: um sempre invadia o outro. Quando o problema era pessoal, sempre interferia no profissional. Mas o pior era quando acontecia o inverso...
Eles batiam boca. Xingavam. Quando sozinhos, gritavam. E aí paravam de se falar. Por dias. Às vezes, por semanas. Aconteceu até de durar um mês inteiro. Só que eles não resistiam. E aí, de repente, lá estava um dos dois escrevendo um e-mail. Normalmente, ela. Era menos resistente à distância e saudade e, também, mais orgulhosa. Por isso vinham dela os e-mails. Ele, quando ela não se rendia, tinha o costume de aparecer em horas improváveis e dizer "E aí? A gente não vai conversar?". E conversavam. E acertavam as coisas. Eram grandes amigos e isso era sempre maior que os desentendimentos.
Em uma dessas vezes, se entenderam por e-mails. E, em um deles, ela disse que as coisas não podiam continuar assim. E ele disse "Eu ainda vou perder meu emprego e terminar meu namoro por sua causa". Como algo bom podia ser tão destrutivo? Mas era.
Ele brigava com todo mundo quando brigava com ela. Ela chorava escondida no banheiro quando brigava com ele. Ele passava mal. Ela não dormia. Ambos se destruíam. Mas continuavam brigando. E fazendo as pazes. E continuavam insistindo.
Até o dia em que eles brigaram. O que não foi novidade alguma. Ela chorou - o que também não era novidade - mas disse "Eu nunca mais vou falar com ele". Ele tinha ido longe demais. Ela se sentia humilhada, sabe? Aí o limite é atingido, não tem jeito. Ninguém acreditou, mas ela se manteve firme e forte: sem e-mails. E então as pessoas apostavam "Ele vai falar com ela". Ele não falou. No início, eles ainda se olhavam, de longe. Depois, pararam. Acho que desistiram. Nenhum deles ia ceder. Nada de brigas no asilo; aquela era mesmo a última.
Nunca mais se falaram. E, com o tempo, isso deixou de importar pros dois. Tinham vidas a viver. Que ficassem as boas lembranças, e só.
Nunca mais se falaram... mas foi com ele que ela aprendeu a gostar de Johnny Cash...

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