quarta-feira, 18 de março de 2009

De livros e outros demônios


Três Vezes Amor é um filme super bobinho. Bonitinho, mas bobinho.
Basicamente, é um pai contando pra filha a história amorosa da vida dele. Estão lá a namoradinha do interior, a amiga da namorada que ele conhece na cidade grande e vira namorada também e uma terceira moça. Três vezes amor, como o nome já diz.
A terceira moça aparece na história toda, mas nunca como namorada (ou coisa parecida). Ela é a grande amiga dele. Eles se conhecem por acaso, falam sobre seus relacionamentos estranhos, viram amigos. Quando ela vai morar no exterior, eles se correspondem e, um belo dia, ela descobre que gosta dele. E volta.
Só que, quando ela volta, no impulso de se declarar, ele tá com a amiga da namorada que ele conhece na cidade grande e que já virou namorada. E ela fica na dela. Se afasta e só.
Rolam várias coisas, algumas briguinhas e desentendimentos e ele, finalmente, percebe que gosta dela. E vai atrás dela. Só que, quando ele chega no apê dela, descobre que ela está morando com um cara.
Informação importante: ele levava um livro pra ela. E, agora, voltemos um pouco na história pra falar sobre o livro.
Quando eles se tornaram amigos, antes dela mudar de país e tudo, ele foi até a casa dela. E descobriu que ela tinha milhões de exemplares diferentes de Jane Eyre. E então ela conta que ganhou o livro do pai, com uma dedicatória fofa e esse livro foi doado. E, quando o pai morreu, ela precisava ter o livro. E, desde então, ela compra todas as edições que acha em sebos, esperando encontrar a certa.
Voltando... Ele estava levando pra ela uma edição do livro. Não qualquer edição. Ele encontra em um sebo a edição com a dedicatória do pai dela. A certa. Ou seja, ele estava levando o melhor presente que ela receberia na existência terrena dela.
Só que ele vai embora quando descobre que ela tá com o namorado ali. Talvez por medo da rejeição, talvez por puro altruísmo, numa coisa de "ah, ela tá feliz, não vou atrapalhar".
Detalhe importante: ele leva o livro.
Pausa: o cara foi muitomuitomuito cretino, convenhamos. Ele sabia o quanto o livro era importante pra ela e ele não entregou. E aí ele casa, tem uma filha e, quando a menina tem 10 anos, ou seja, mais de uma década depois, ele resolve procurar a moça. E fala do livro. Ela, óbvio, fica insana. Ela podia ter esse livro, que é tudo na vida dela, há mais de uma década! E não teve pq ele estava guardado numa caixa de papelão no fundo do armário daquele idiota.
Mas, ok, é perdoável. É perdoável nesse diálogo:
Will Hayes: I kept the book...
April: Yeah?
Will Hayes: Because it was the only thing that I had left of you.

segunda-feira, 16 de março de 2009

sexta-feira, 13 de março de 2009

Equações


Havia X e havia Y.
Neste caso, em específico, havia Z tb. Mas Z, embora muito presente num conceito mais amplo, é uma incógnita que não interfere tanto nesta equação.
Ela conhecia X e Y. Era bem mais próxima de Y, por motivos que lhe pareciam bem óbvios.
E aí, um dia X surtou. X sempre foi surtado, by the way. Mas, daquela vez, foi pior. E ela brigou com X. Uma briga de “nunca mais falarei com”.
Y, na hora, falou horrores de X. Incentivou. Disse que ela estava muito certa por ter brigado. Muito mesmo. Disse que X falava hiper mal dela. Que X, aquele falso hipócrita, a detestava. Ela acreditou.
Acreditou e continuou gostando muito de Y. Y estava sempre no seu Top5. Y era um arraso. Uma pessoa do bem.
Depois de um tempo, ela se viu obrigada a voltar a falar com X.
No início, era estranho.
Depois, era algo normal.
X era mais uma pessoa na sua vida. Não no Top5, mas era alguém ok. Uma pessoa estranha, mas boa.
Foi quando Y aparentemente surtou.
Y a ignorava.
Y falou coisas péssimas dela. Logo ela que sempre se preocupou e desejou o melhor para Y. Afinal, ela gostava mesmo de Y.
Tempo.
E aí Y voltou. Parecia ter saído do surto. Parecia normal. Parecia a mesma boa pessoa de sempre. Parecia ter percebido seus erros.
Após eventos envolvendo Z, Y sumiu. De vez. Encontros casuais, bobinhos. E sumiço pra sempre.
Ela, inclusive, desconfiava que Y tivesse sumido por causa de Z. Não por maldade de Z, mas pelo rumo que as coisas tendiam a tomar.
E então, um belo dia, ela teve uma conversa com X. X já era alguém muito presente em sua vida. Ainda não no Top5. Mas provavelmente no Top10. O passado já era passado e eles já sabiam como não repetir o incidente anterior. E, por isso, podiam ter uma conversa franca. Aberta. Sincera. Sobre muita coisa...
E, voltando no tempo, X comentou sobre como Y havia falado mal dela durante a briga. E falado que X tinha feito muito bem em parar de falar com ela.
E como, depois, Y havia procurado X tentando armar um complô infantilóide contra ela.
Ela estava feliz e radiante, confiando em Y, gostando de Y, torcendo pra que Y se desse bem naquele momento em específico... E Y estava procurando justamente X para falar mal dela, dizer que eles precisavam fazer com que ela deixasse de ocupar o “cargo” idiota que ocupava (por indicação de Y, aliás), falando que eles precisavam fazer algo pra que ela não se destacasse, uma vez que ela sempre se destacava por motivos absurdos.
E quando Y desistiu, quando Y pediu pra sair, Y deixou bem claro para X o motivo: estava saindo por causa dela.
Ela.
Ela que havia sinceramente amado intransitivamente Y, como só os grandes amigos são capazes de amar.
E aí ela se sentiu uma completa imbecil por ter se enganado.
E teve pena de Y, que evidentemente não era a pessoa incrível que ela pensava.
E teve medo do que Y poderia ter falado a Z. E do quanto Z poderia ter “ido na onda” de Y.
E ela percebeu que as equações humanas são terrivelmente incompreensíveis e, muitas vezes, não têm solução.

terça-feira, 10 de março de 2009

a big bowl of fish hooks


Existem muitos motivos pra gente não querer mexer na nossa caixa de anzóis.
Por isso, ela costuma ficar bem guardadinha, num cantinho do armário.
Anzóis, pra começar, têm aquela ponta curvadinha. O que acontece? Eles grudam uns nos outros. É terrível! Você quer pegar um e começam a sair vários outros juntos. Vários outros que você, por sinal, não queria nem lembrar que existiam. E não tem como você meter a mão na caixa e puxar exatamente o que você precisa ou o que você pode usar agora. Você nunca sabe qual vai pegar. Ou, muito pior, quais.
Outra coisa assustadora sobre caixas de anzóis é que a probabilidade de você se machucar quando mexe neles é enorme. Aquelas malditas pontas afiadas arranham e cortam.
E aí você vai se arriscar a se machucar e ainda puxar os anzóis que não quer? Não mesmo! Você deixa a caixa guardada. Quieta.
O problema é que sempre tem um imbecil que – por maldade ou sem querer – derruba sua caixa de anzóis no chão. E, de repente, estão todos ali. Aquela infinidade de anzóis que você nem queria lembrar que existiam.Todos ali, prontinhos pra te machucar...

My feelings for you, Hank, are like a big bowl of - [sighs] - fish hooks. I can't just pick up one up at a time. I pick one up and they all come, so I just had to leave 'em alone.
(Lee / Meryl Streep, em Marvin's Room)


*e eu não sei nem por onde começar a arrumar essa bagunça*

sexta-feira, 6 de março de 2009

NOTHING MAKES ANY SENSE!

A mulher tem 42 anos. Arranja um “marido” de 23. Ok, nada contra diferenças de idade. Mas são 20 anos... Duas décadas.... Pra mim, já começa aí.
E a mulher tem duas filhas. Uma tem 14 anos e deficiências físicas e mentais. A outra tem 9.
E aí o cara, o “maridinho”, estupra as meninas. Meninas. 14 anos. Deficiente. Física e mental. E 9 anos. 9 anos. Um ano a mais que 8, um a menos que 10. Nem uma década ainda.
E quando a menina, a que não tem nem uma década de vida ainda e já nasceu quando não existiriam mais anos começados “por mil novecentos e...”, começa a passar mal, enjôos, tonturas; a mãe a leva ao hospital. Claro, ela é uma boa mãe. Deve ter ficado preocupada. Tanto que levou em um hospital de outra cidade. Ok, nada suspeito.
E aí a menininha (inhainhainhainha) que passa longe de ter 1 metro e meio de altura está grávida. Gêmeos. Uma criança carregando duas. Algo completamente inimaginável.
E então se descobre que o “maridinho” da atenciosa mãe é o pai dos gêmeos. E que ele estuprava as meninas (eu preciso repetir: 14 anos, deficiência física e mental, e 9 anos) há 3 anos. Ou seja, desde que elas tinham 11 anos – e ainda deficiência física e mental – e 6 anos. S-E-I-S anos. E que, às vezes, pra compensar, ele dava R$1,00 pra elas. Aaaaaaah, tá! Aí, sim. Tudo bem.
E, ei, espera aí. Há uma justificativa. Elas o provocavam. Essas crianças de hoje em dia... Já estão provocando os rapazes com 6 anos de idade, minha gente. Eu não sei se é mais absurdo uma mini-criança de 6 anos provocar um marmanjo cara-de-pau ou uma menina com deficiências físicas e mentais fazer o mesmo, juro.
E quando há um pouco de noção e realizam o aborto, pra preservar o que ainda é possível preservar dessa criança de 9 anos, vem um cretino, foragido do Inferno, de um arcebispo, bispo, padre ou seja lá que porcaria religiosa ele seja e condena o aborto. E excomunga (um verbo que eu nem sei conjugar) os envolvidos no aborto.
E, sim, há uma justificativa linda. O aborto não era a vontade de Deus. Opa, os estupros eram? A gravidez era?
Esse senhor religioso que me desculpe, mas eu acho que Deus – por mais fanfarrão que seja – é um cara muito bacana pra condenar uma criança assim. E, também, pra condenar pessoas que fizeram o possível pra ajudar uma criança.
E o senhor religioso que me desculpe, mas eu acho que ele é um grandissíssimo idiota e que Deus não aprovaria sua existência. Mereço a excomunhão tb? Oba!
E, depois de tudo isso, eu me pergunto: “Ok, só eu acho que o universo enlouqueceu?”. Pq nada disso faz o menor sentido pra mim. Nada.
E fico com uma vergonha tremenda da raça humana...

terça-feira, 3 de março de 2009

Revira... volta?


Crazy little thing


Drummond era um cara que simplesmente sabia. E ponto. Sabia das coisas, sabia entender, sabia traduzir. Sabia como combinar palavras pra dizer. Qualquer coisa.

Penso muito, por exemplo, em uma dessas explicações dele. As pessoas podem escrever livros, ensaios, longos tratados científicos ou poemas românticos ou até melosos. Podem fazer filmes, peças, obras de arte de todos os tipos. Podem fazer – e fazem – muitas músicas sobre o tema. Ninguém nunca traduziu tão bem o que é o amor. “Amor foge a dicionários e a regulamentos vários”. O nome dessa preciosidade em forma de poema já é perfeito: As sem Razões do Amor. E aí cabe citar outro grande cara, do grupo dos que usam muito bem essas coisinhas misteriosas que se chamam palavras. Mário de Andrade, este senhor que criou o tal do Macunaíma, tão falado, escreveu a combinação de três palavras mais bem arranjada do planeta. E era só o título do livro. Imaginem a maravilha que não era Amar, Verbo Intransitivo.

Amar, como todo mundo aprende na escola, naquelas aulas chatinhas de gramática, é um verbo transitivo. Isso basicamente quer dizer que exige um complemento. Sempre tem uma professora esquisitona de gramática (sendo minha mãe a exceção) pra dizer que você ama alguma coisa ou alguém. O que elas não ensinam – e a vida se encarrega de lecionar, de uma forma ou de outra -, é que na prática a coisa é bem diferente. Na vida que acontece fora dos livros de gramática, a gente ama. E ponto. Verbo intransitivo. Intransitivamente intransitivo. A nada, a ninguém. Ou a tudo, a todo mundo. Ama-se e acabou. Impossível explicar, impossível definir, impossível traduzir, já que, como disse o Carlos, xará do protagonista do livro do Mário, amor foge a dicionários.

Foge mesmo. Eu li cerca de 600 livros desde que aprendi a ler. 600. Não é muito, mas é bastante. Daí, eu conheço até que bastante coisa. E muitas palavras. Muitas mesmo. Tenho até uma facilidade com elas. Em combiná-las. Claro, anos-luz de distância dos Carlos e Mários e afins; mas até que eu vou bem. E adivinhem? Não consigo definir o amor. Sei que ele acontece e fim. E é isso. O que exatamente acontece? Inexplicável. Causas, efeitos? Inexplicáveis. A gente ama – seja a mãe, o pai, a(o) irmã(o), o cachorro pulguento, o(a) vô(ó), o(a) tio(a) bacana, o(a) primo(a) preferido(a), o(a) melhor amigo(a) ou o cara (ou a moça) que você acha que é perfeito(a) pra você – e ponto. Sem razões. Sem justificativas. Sem início e sem fim.

Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.