segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

oh, brave new world

" - Mas eu gosto das inconveniências.
- Nós não gostamos, disse o Dirigente. Preferimos fazer tudo confortavelmente.
- Mas eu não quero o conforto. Quero Deus, a poesia, o perigo real, a liberdade, a bondade, o pecado.
- De fato, disse Mustafá Mond, você reivindica o direito de ser infeliz.
- Pois bem, disse o Selvagem como um desafio, reivindico o direito de ser infeliz."

(Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley)

domingo, 25 de dezembro de 2011

Eu li num livro 15

Livro: Calabar

Autor: Chico Buarque e Ruy Guerra

Doses de sabedoria:

* Anna, para Calabar morrer é preciso que também me matem. Porque eu o amo. Para Calabar morrer, é preciso que também me esquartejem. Porque eu o amo demais... E se me matarem, e se me esquartejarem, se me espalharem aos pedaços por aí, eu morro... Mas mesmo assim Calabar é capaz de continuar vivo.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

oh, captain...

Marinheira: era isso que ela era. Acostumada a seguir ordens e a ser orientada por um capitão, onipresente e onipotente. Acostumada a ser guiada por ele que tudo sabia, tudo via; seu modelo, o que ela sempre quis ser. Um capitão que parecia infalível, justo e bom. E que ela achava que sempre estaria ao seu lado, orientando e guiando, companheiro de jornada.

Até que o navio se descontrolou. E a primeira coisa que ela descobriu foi que ele falhava. Que ele não era sempre bom e justo. E que, talvez, ela não quisesse ser como ele.

A insatisfação não era só dela e ela sabia que poderia facilmente liderar um motim. Mas ela não queria... Por respeito - um respeito nostálgico - compartilhava a decepção com poucos e, mesmo assim, sempre desencorajando qualquer reação extrema de seus colegas. A vida no navio sempre tem que prosseguir; mesmo com um capitão em aparente surto e ratos fazendo a festa no convés...

Até que chegou a tempestade. E, precisando de apoio, ela chamou por ele. Em vão. O barulho da chuva e das ondas era enorme e ela colocou até mais força do que deveria em sua voz, pois precisava chamar sua atenção. Precisava que ele soubesse que o mundo estava desabando e que ela precisava dele, ainda. Seu guia, seu capitão. Gritou por ajuda enquanto conseguiu. Se ele a ouviu, ignorou. E, em algum momento da grande tormenta - que durou mais de um mês - ela descobriu o que mais temia: ele não estava lá. Mataria e morreria por ele; tinha, inclusive, feito altíssimas recomendações aos superiores dele. Mesmo em meio à tormenta, se preocupara em lembrar apenas dos bons tempos e da calmaria na hora de avaliá-lo. Seu sentido de obediência era forte e a honra de um capitão é sempre a prioridade de um marinheiro. Ela jamais o abandonaria. Mas ele a abandonara...

Sofreu enquanto durou a tormenta. A chuva, muitas vezes, limpou suas lágrimas. Pensou em abandonar o navio. Pensou que aquela vida no mar não era pra ela; um mundo em que o cara que te motiva e inspira se torna o cara que te faz querer desistir. Pensou muito.

E, então, a chuva cessou. O sol apareceu. Com a claridade, teve certeza de que estava sozinha na embarcação, sem condução. Dependia dela e só dela.

Segurou o leme e, no horizonte, viu um arco-íris. Bateu os calcanhares de suas botas vermelhas como rubi, olhou o mar e teve a certeza de que nascera pra isso. Não há lugar como o lar e o mar era o seu lar.

No chão, ali pertinho, uma poça de água da chuva, refletindo sua imagem. Viu-se nela e sorriu. Olhou no fundo do reflexo de seus olhos verdes, estendeu a mão direita e disse "oh, captain, my captain!". E sorriu. Riu. Gargalhou.

Era sua própria capitã. Era o fim da maldição e o início do deleite...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O Básico em 05/06/2008

A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Já dizia Saint-Exupery. Na maioria das vezes, palavras não valem coisa alguma. Gestos. Ações. O jeito de olhar. O que se transmite pelos olhos. Além deles... O essencial é invisível aos olhos, não é? É e sempre vai ser. Sentir... É só o que importa. É só o que se leva. E salve o Pequeno Príncipe! E a sábia raposa...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O deleite e a maldição



Colocar a saia de paetê preto, a que faz barulhinho.
Lembrar da paixão à primeira vista pelo texto, de pensar "meu deus, imagina os figurinos, eu quero"; de ver a paixão crescendo durante a leitura, junto com a vontade de fazer aquilo.
Colocar a blusa branca, com ombreiras.
Lembrar da empolgação inicial, do deslumbramento, de ser a peça que eu queria, de ter pessoas que eu amava na turma; de ter, de novo, minha comunhão.
Colocar a sandália, alta e linda, única.
Lembrar da frustração de ver que aquela peça não era pra mim, pras pessoas que não cantam nada. De entender que ia ser divertido, mas ia ser o semestre em que eu ia ter menos possibilidade de me destacar.
Colocar os brincos brancos. Os colares pretos e brancos. As muitas pulseiras. O anel.
Lembrar da dedicação, da entrega, da comunhão, da amizade, do amor, da paixão. E da raiva, do ódio, do desprezo, da preocupação, do medo, da decepção, do ciúme. De tudo que acompanhou a estrada de tijolos amarelos naqueles seis meses e me levou até ali.
Colocar o turbante. A sombra verde e amarela. Caprichar no batom vermelho. Entrar no palco...
E esquecer! Esquecer de tudo e, por 1 minuto e 11 segundos, ser olhos e bocas bem abertos, ser malícia e inocência, ser mãos e quadris, ser diva... ser Carmen Miranda!

Guardar a saia de paetê preto, a que faz barulhinho. Com a lembrança de, depois de ter desacreditado por tanto tempo e fazer só por diversão, ter feito o que eu fiz de melhor até hoje, ter superado medos e vergonha, ter feito o que eu nunca soube fazer e ter dado mais do que eu sabia que poderia dar.
Guardar a blusa branca, com ombreiras. Com a lembrança dos boatos, dos melhores boatos que ouvi nesse ano, dos boatos que eu não ligo a mínima se eram reais ou não, mas me fizeram crescer.
Guardar a sandália, alta e linda, única. Com a lembrança da aprovação pro festival, de conseguir fazer a cena que eu tanto queria, da minha foto em 5000 folhetos, das sábias palavras da minha querida amiga: "dai a César o que é de César", de ver meu nome e a mesma foto em tão famoso e reconhecido jornal.
Guardar os brincos brancos. Os colares, pulseiras, anéis... Todos os balangandãs. Com a lembrança daquele palco, daquele dia, daquela correria, daquela realização, daquela sensação de estar vivendo o melhor dia da minha vida.
Guardar o batom vermelho (a sombra nem era minha). Com a lembrança da reação de todas aquelas pessoas, em todas as nove sessões. Do brilho naqueles olhos, das lágrimas, dos sorrisos, dos aplausos tão enfáticos. E a certeza da aprovação da família que tanto amo, de amigos tão especiais, dos dois diretores divinos do semestre de formatura, de desconhecidos e até do gênio que escreveu peça tão linda e apaixonante. E a felicidade de ter dividido o palco com a maioria das melhores pessoas que conheci nos últimos cinco anos.
E não guardar o turbante. Deixar ele bem perto, bem visível, pra que eu possa vê-lo todos os dias. E não esquecer que eu posso dar adeus à batucada e me jogar - de joelhos - no melodrama, e continuar sendo - em algum cantinho - um pouco e sempre Carmen Miranda. E Poetisa, e Ponciana, e Maria Rita, e Noêmia, e Lisístrata, e Juliet, e Zabé, e Lindalva, e Sílvia, e Cyndi, e Emília, e Nina, e Luciana...

O deleite e a maldição...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Eu li num livro 14

Livro: Iniciação ao Teatro

Autor: Sábato Magaldi

Doses de sabedoria:

* O ator também povoa o mundo com um novo ser, cuja existência tem a duração do espetáculo ou da memória daqueles que o contemplam.

* Só a vocação justifica a persistência de indivíduos que se sacrificam no teatro e que, fora dele, pelo talento, encontrariam ao menos a tranquilidade material.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Diário da Emília - 26/04

A Laurinha mandou um convite pro aniversário dela. No convite tava "Para Tete, Aldinho e Silvinho". A mãe disse que ela deve ter esquecido meu nome, que era pra eu ir também. Mas eu não fui. Eu não gosto de aniversários. Fica todo mundo correndo e gritando e na outra festa da Laurinha tinha até música alta. Eu prefiro ficar em casa estudando, já que logo vão começar as provas e eu quero ter as melhores notas. Foi bom não ter ido na festa. Eu ouvi o pai contando uma coisa pra mãe e, no final, ele disse "Não comente com as crianças". Ele encontrou o pai do Sílvio na rua e ele disse que era pro pai ficar tranquilo que, no Natal, ele vinha buscar o Sílvio. E ia levar pra morar com ele. A mãe disse que ele não ia educar o sobrinho dela direito e o pai disse "Como você é boba. Ele nunca vai buscar o filho, ele não tem dinheiro e não quer trabalhar. E eu não dei nosso endereço pra ele. Eu vou criar esse menino e fazer dele um homem direito!". O pai devia ter dado o endereço. Mas não importa. Eu espero que o pai do Sílvio seja esperto e descubra onde a gente mora. E que ele ganhe dinheiro até dezembro, pra levar o filho dele embora. Vai ser muito legal quando ele vier e levar o Sílvio. É o melhor presente de Natal que eu posso ganhar! Vou rezar pra ele vir! Faltam só 8 meses praquele monstro ir embora! Eba!

Emília

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Eu li num livro 13

Livro: Quem é John Galt?

Autora: Ayn Rand

Doses de sabedoria:

* "John Galt é o Prometeu que mudou de ideia. Depois de séculos sendo bicado por abutres por ter trazido para os homens o fogo dos deuses, ele quebrou as cadeias que o prendiam e tomou de volta o fogo que tinha dado aos homens - até o dia em que os homens levassem embora seus abutres."

* "O desejo de não ser nada é o desejo de não ser."

* "Um homem desprovido de virtudes odeia a existência e age com base na premissa da morte; ajudá-lo é sancionar seu mal e manter sua carreira de destruição. Seja um centavo que não irá lhe fazer falta ou um sorriso simpático a que ele não faz jus, dar tributo a um zero é trair a vida e todos aqueles que tentam lutar pela vida. Foram centavos e sorrisos assim que fizeram a desolação do seu mundo."

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A importância do ato de emprestar

Acredito que emprestar algo é muito mais importante que dar, doar, ceder a mesma coisa. Ok, quando a gente dá algo, está abrindo mão desse algo e isso é extremamente nobre. Mas e quando você empresta? E eu não falo do emprestar já querendo de volta, cobrando e/ou comentando "cozamigo": "Emprestei coisa x pra Fulano há 2 semanas e nada dele me devolver". Falo do emprestar que é quase dar, do emprestar sem esperar de volta. No fundo, a gente sabe que vai voltar, mas não é algo que vai interferir no andamento da nossa vida.

Acho que é mais importante por um raciocínio que pode até não fazer sentido algum. Quando a gente dá algo que é nosso, deixa de ser nosso, passa a ser do outro. Não é mais meu, é seu. Já quando a gente empresta, ainda é nosso, mas, é, também, um pouquinho do outro. É meu e é seu. É, por algum tempo, uma posse compartilhada. É um pouquinho de meu que passa a ser, por tempo indeterminado, seu.

Por isso, acredito eu, existem pessoas que não gostam de emprestar suas coisas; pois é ter que dar algo seu, ter que deixar um pedacinho seu com alguém. E algumas pessoas simplesmente não suportam saber que uma parte sua é de outra pessoa, preferem abrir mão logo e ceder. Preferem o "seu" ao "nosso".

E talvez por isso, também, eu goste de emprestar minhas coisas. Pra saber que existem pedaços meus - em forma de livros e DVDs na maioria das vezes - por aí, com as pessoas que eu gosto, sendo meus e delas, lembrando da minha existência e do carinho e afeto que tenho por essas pessoas. Deixando de ser "meu", para ser "nosso".

(E, seguindo o raciocínio, algumas devoluções podem ser bem dolorosas...)

(E sem esquecer que sou bem possessiva, então, tem coisas que são simplesmente minhas e de mais ninguém.)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Heart

E, então, ele enferrujou.

Tinham caminhado bem, até então. Bastante. Estavam chegando perto da Cidade de Esmeraldas, ao fim daquela jornada.

Só que ele era de lata e latas enferrujam, é uma coisa que pode acontecer.

De repente, lá estava ele. Parado. Travado. Estático. Sem fazer um único movimento.

E Dorothy pensou que poderia ela, sozinha, correr até o Mágico, pedir o coração para ele e voltar. Ela já nem queria mais voltar para o Kansas. Era uma questão de prioridades. E ela queria que ele tivesse um coração. Só isso.
Pensou em correr, em botar a ideia em prática. Mas Dorothy estava cansada demais para isso. Dorothy não tinha forças para correr por essa causa, uma causa perdida.

Então, pensou em somente desejar, com fervor, como em uma prece. Uma prece direcionada ao onipotente Mágico de Oz. Uma oração. Uma oração para lhe dar um coração...

Só que ela estava, mais uma vez, cansada demais. Decepcionada demais. Machucada demais. E ela não queria se empenhar tanto em lhe dar um coração - só pq é tão bom ter um... - se ela corria o risco dele, depois, tendo um coração, entregá-lo a outra pessoa.

Então, Dorothy sentou-se na beirada da estrada de tijolos amarelos, abraçou os joelhos, direcionou seu pensamento ao grande mágico e orou. Com fervor, fez seu pedido: que tivesse coragem de abandonar aquele monte de lata estático ali e seguir a jornada, sozinha.


(update: Dorothy está feliz e saltitante em sua estrada.)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Primavera nos dentes

Precisa de tão pouco para ser primavera. Algo que simplesmente acontece. As estações do ano são assim. Chegam sem avisar, de forma inesperada, de forma confusa.

É verão e surge aquela semente de primavera no seu inverno. E você nem a percebe.

E chega o outono e aquela semente ainda está lá, aguardando o momento certo de germinar. Você acha que vai ser na primavera, mas que nada! São caprichosas essas estações, tão diferentes do que nos ensinaram na aula de Estudos Sociais.

E é inverno no mundo e surge a primavera na alma. Florida e forte, fincando raízes em você.

E quando chega a primavera de verdade, o mundo floresce, a vida floresce; tudo é flor, tudo é vida.

E chega outro verão e a primavera, oprimida, se vê obrigada a ceder espaço pro inverno... Mas por pouco tempo, pq ela é exibida. Como na música de Caetano, ela é tímida espalhafatosa. Mesmo com dificuldade, ela quer se mostrar. E, acompanhando o outono no mundo, volta a primavera na alma.

E, quando mais uma vez chega o inverno e o mundo te faz querer congelar sua alma, num inverno onipresente, você resiste. Pq, pra alguns, a primavera é eterna.

E nenhum eterno inverno - cinza e gélido - pode finalizar uma primavera.

Primaveras são para sempre.

As flores são para sempre, assim como as cores.

E eu sou cor. Sou todas elas. Sou arco-íris. Sou Clementine, somewhere over the rainbow.

E sou flor. Sou todas elas. Sou a rosa do Pequeno Príncipe (e são tão contraditórias as rosas...). Sou flor de maio.

E sou primavera. Eternamente...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ah, o primeiro semestre...

EM JANEIRO EU...
* li 9 livros.
* vi 11 filmes.
* recebi visitas na roça e passei dias jogando Perfil 2 (e ganhando, claro, rs).
* comecei a tentar tornar o grupo realidade.
* recebi visita de Tio Lenauro e Mariazinha (e tirei fotos ótimas com ela, das que me matam de rir).
* recebi visita da Camis e do Beto (e cantamos, jogamos Perfil, fofocamos muito e eles quase me mataram de rir).
* fui na "despedida" do Dannyllo (que ia passar uma semana viajando).
* fui muitas vezes na piscina da ermã (e do Douglas, antes que ele reclame).
* consegui o elenco dos sonhos pro Sonho de Strindberg.
* descobri que conseguimos - de novo - o diretor que eu queria.

EM FEVEREIRO EU...
* li 4 livros.
* vi 7 filmes.
* participei do 1º reveillón fora de época de todos os tempos, na casa da Rê. Teve todo mundo de branco, contagem regressiva pra virada, muita emoção e votos de um feliz ano novo, videokê a noite toda ("eu vou cantar até morrer") e sabotagem (piada interna).
* tive meu 1º dia de aula no semestre com montagem com o Wandeco, finalmente. e foi ótimo!
* me apaixonei por uma peça linda, que conta a história de Carmen Miranda.
* pintei e cortei meu cabelo.
* conheci a casa da Fabi e passeei com ela e o Maykol pela praia de Pinheiros.
* assisti "Cisne Negro" e não achei nada de mais (nem no filme, nem na Natalie Portman).
* assisti "Calendário de Pedra", peça fabulosa e divertidíssima.
* assisti "Ensina-me a Viver" (até o João reapareceu e foi) e achei peça pra quem quer ir ver novela no teatro.
* participei do 1º ensaio do Sonho - Nova Geração e fiquei maravilhada com o resultado.
* participei da 1ª reunião do "Nosso Grupo" (RISOS).
* me diverti MUITO com o 1º dia de ensaios (e descobri que, não importa quantas coisas diferentes eu tente fazer, meu talento é criar dancinhas toscas pra fazer a galera rir).
* participei do 2º ensaio do Sonho - e fiquei horrorizada.
* me inscrevi no concurso (que não é, infelizmente, o Garota da Laje).

EM MARÇO EU...
* li 3 livros.
* vi 6 filmes.
* desfilei na Sapucaí, pela Viradouro, de fantasia pink chamada Satélites pelo Espaço (que parecia um cangaceiro gay do espaço) e tive o melhor carnaval da minha vida (tem que viver isso aqui!).
* no Carnaval fantástico - com a família e cozamigo - teve também passeio por Icaraí, churrasco na casa da louca Liz, praia, noite de jogos, Carnaval legal da Av. Central e passeio pelo Rio (com direito a dançar É o Tchan em Copacabana).
* passei uma noite em Penedo, com café da manhã de hotel.
* revi a dupra e, com a Jaque, dançamos no Darta (que está muito estranho, btw).
* conheci a sobrinha da Jaque, que é uma coisa de fofa.
* me desencantei pelo sonho.
* revi a Mari e conseguimos começar a botar a fofoca em dia.
* percebi que ter ouvido 200 vezes do mestre "você já leu o capítulo de ética?" me fez evoluir e ser uma pessoa melhor, que não se abala - e nem se importa, na verdade - com gente mesquinha, pequena, INVEJOSA, sem amigos, barraqueira e desprovida de talento, simpatia e carisma.
* assisti 2 peças no Festival Ibero-Americano de Teatro, no Memorial da América Latina: "Albanico de Sotera" (monólogo de uma argentina, sobre Lorca... dormi) e "A Humanidade é Feia" (peça GENIAL portuguesa!).
* assisti That Night in Rio e amei ainda mais a Carmen.
* fui na festa de aniversário do Me.
* assisti "O 3º Sinal", peça bem legal, mesmo sendo monólogo. rs
* fiz a prova do concurso (conhecido pela galere como "Garota da Laje") e acertei 47 de 50 questões (e acertei todas de matemática, oi?).
* descobri o que vou fazer na peça, depois da definição de elenco (e o que importa é que eu vou fazer a cena com a Camis que eu tanto queria e - oibemgrandão? - eu tenho um solo e é "só" I Like you very much, que é minha preferida e nem tinha, originalmente, na peça).
* dormi na casa do Tio Zé e revi a prima Mariana.
* passei 2 dias na casa da Tili (e ri muito, principalmente durante a madrugada).
* finalmente, encontrei a Mila e conversei muito e ri muito e, é, melhor amiga eterna, mesmo que a gente fique um ano inteiro sem se ver.
* tive uma entrevista de emprego (e comecei a trabalhar 2 dias depois).

EM ABRIL EU...
* li 3 livros.
* vi 2 filmes.
* comecei a trabalhar no dia 1º (e não era mentira).
* entrei no meu inferno astral, droga!
* fiz um monte de exame chato pq minha mãe não acredita que eu sou saudável.
* fiz o requisito (ou seja, passei no concurso).
* dei aula de teatro. ooooooooooooooooh!
* assisti "O Mágico de Oz", NO CINEMA, com o próprio Espantalho.
* tive uma Páscoa divertida com a família e muita Carmen Miranda.
* mudei o cabelo.

EM MAIO EU...
* li 1 livro.
* vi 3 filmes.
* de repente, 30.
* comemorei meu niver com jantar japonês com toda a família e ganhei presentes ótimos e nenhuma roupa (uhu!).
* comemorei meu niver no Si, Señor com a família e ozamigo.
* comemorei o Dia das Mães no Outback com a família e a mãezinha querida.
* fui na festa do Satyros cozamigo (e dancei e gritei Dog Days Are Over, insanamente).
* fizemos o único ensaio no teatro.
* fiz uma aula de canto, pra ter certeza de que não tenho salvação.
* ganhei uma Dorothy... ohmmm...

EM JUNHO EU...
* li 0 livros.
* vi 0 filmes.
* depois de anos e anos, ensaiei quadrilha (e quase morri no tal de "Coroa, coroar").
* assisti uma peça chata pacas (mas ganhei de brinde um ensaio de uma peça incrível na rua, com uma fala que mudou minha vida: "você ocupa espaços que eu ainda não inventei pra mim".)
* assisti, no 1º dia da Mostra, "Os Sete Gatinhos", peça do meu amigo de infância astronauta.
* operei som em uma das sessões de "Os Sete Gatinhos", de improviso (e depois fui jurada por um dia do "Se ela dança, eu danço").
* assisti "Mephisto", com os poucos membros de "Lisístrata" que resistiram bravamente até hoje.
* vi "Medeia" com o Me, a Natália e a Jé Borges (que eram o melhor da peça).
* revi a Lee Tapioca, conheci a casa linda dela, conversei muito com ela e fui com ela numa festa mexicana na USP (surreal).
* fui na costureira, ver as medidas pra fazer minha roupa de Carmen!
* assisti "Métodos Extremos de Sobrevivência", que tinha a Dri de voz maravilhosa, a Pati Noêmia e o Diego no elenco.
* fui na 2ª festa do Satyros - conhecida como Festa da Dignidade -, com uma galera gigante e dancei e me diverti como não fazia há tempos.
* assisti "O Pássaro Azul", peça fofa, com a fofa da Fabíola.
* assisti "Yerma" e, ok, o texto é MUITO chato, mas o Wandeco e aquela turma fofa fizeram uma peça fantástica. sem mais.
* assisti "Joana d'Arc" com o Wandeco no elenco, peça muito boa e com uma iluminação genial.
* fui com a Camis comprar as bijuterias das Carmens (melhor: os balangadãs).
* fiz a luz em "Cala a Boca Já Morreu" e fiquei positivamente surpresa com o resultado e com as 6 sessões lotadas (e com os girassóis lindos que ganhei da turma linda!).
* vendi 96 rifas. sem mais.

sábado, 6 de agosto de 2011

DES MEDÉIA, de Denise Stoklos

Dois amigos que pareciam incomuns.
Amigo sempreável, aquele que ao outro espelha o umbigo, na mina de metal durável do amável.
Quando se separa do amigo chama-se: parável, vira chama apagável, de amizade inviável.
Aí a saudade é improvável do: “entre sempre”.
E, sabe? O outro ente sente.
(No espelho; O outro ente sente.)
Tão quente como um sol rente a uma lente.
(Pois é gente.)
O outro: ouro de dente falsamente reluzia ao espelho sorriso.
Sorriso (mas de frente).
De fundos, deu mesmo as costas, fez muro.
E o outro, sim, fez mesmo bosta: deu murros.
Pronto os dois amigos brigaram. Cai no calçadão uma vala – a comum: irreconciliação.
Lá se vão dois umbigos apartados os dois amigos separados.
E aquele que praticou a quebra de código de exclusividade entre eles, vai todo contente com sua guerra debaixo do braço, vestida de balas-traição, venceu seu fuzil-abandono.
Dói em um, mas toca o outro a corneta do nem-te-ligo; anúncio de quanto estão ingressando agora nas senhas de ex-amigos.
(Sangram afora tanto as veias dos dois umbigos.)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Conexão como nenhuma outra

Meu primeiro celular foi da Vivo. Logo que eu entrei na faculdade, há uma década. Um belo dia, roubaram meu celular. Sem dinheiro pra comprar um novo, ganhei um aparelho antigo de uma amiga. Só que o aparelho era da Claro (num tempo em que isso ainda existia). E eu comprei um chip da Claro e mudei de operadora. Bendita hora! Nunca tive problemas, sempre tenho uma promoção ótima...

Então, dez anos se passaram desde meu primeiro celular, quando precisamos recorrer a um 3G. Moro em um sítio. Não chega nenhuma internet banda larga aqui. Via rádio é uma fortuna considerável. Via satélite? Não chega. Tentamos a discada, mas, após um problemão com a Ig (outra empresa que desconhece a palavra respeito), desistimos também. A única forma de ter internet em casa - e isso é básico e fundamental hoje em dia - seria com um 3G. O da Claro, infelizmente, não pegava. Meu cunhado tem um há um bom tempo e sempre funcionou bem, nunca rendeu chateações. Testamos o da Vivo e pegou. Sem ter outra opção, adquirimos o 3G da Vivo.

Quando falo nós, isso significa eu e minha mãe. Moramos juntas, só eu e ela. E, por morar em um lugar na zona rural, precisamos ainda mais de contato com o mundo.

Quando chegamos à loja da Vivo em que adquirimos o modem e o serviço, já devíamos ter percebido de cara que a coisa não seria boa: 4 atendentes conversando enquanto 3 clientes aguardavam em fila. Só fomos atendidas depois que minha mãe reclamou. A atendente era bem gentil e educada, o que acabou nos convencendo a continuar com o plano. Após muita conversa, adquirimos o plano Vivo Internet Brasil de 4G, cuja mensalidade seria de R$119,90. E não era só isso: na primeira parcela ainda teríamos um desconto promocional de 50%. Incrível, não?

E, então, chegou a primeira conta, com vencimento para 03/05. R$227,08. No detalhamento, informações de que havíamos excedido o limite de navegação e de envio de SMS e ainda havíamos utilizado o chip para fazer ligações para um número de celular de Minas Gerais.
1. Não temos como atingir o limite de navegação, pois o sinal em minha casa é muito ruim e, se conseguimos usar umas 3 vezes por semana à noite, por cerca de 2 horas, é muito. Isso só em semanas de muita sorte, aliás.
2. Nem sabemos como enviar SMS pelo 3G, ou seja, não utilizamos esse serviço.
3. Não sabíamos que era possível usar o chip do 3G para ligação, não conhecemos ninguém em MG e, bom, nós temos telefone fixo em casa e 4 números de celular (meu Claro, o Claro de minha mãe e 2 Vivos dela), pq faríamos essas ligações justo do 3G?
Minha mãe tentou reclamar na loja onde adquirimos o modem e recebeu a informação de que a loja não podia fazer nada, isso só pode ser resolvido por telefone. Não seria um problema se alguém realmente atendesse na Vivo. Tentamos diversas vezes e sempre cansamos de aguardar um atendimento que não acontecia. Fiz uma reclamação pelo site da Vivo, registrando todas essas informações, em meados de maio. Nunca recebi uma resposta.

Como se isso já não bastasse, enquanto tentávamos resolver isso, recebemos a segunda conta: R$510,23. Sem detalhamento algum. Um valor absurdo desses, cobrado sem justificativa. Minha mãe, que na ocasião se recuperava de uma cirurgia de emergência, entrou em desespero. Meu cunhado, a pessoa mais calma e paciente da família, ligou para a Vivo, para resolver. Após 40 minutos aguardando, foi atendido. Por alguém que dizia não poder fazer nada. E, depois de mais 40 minutos de muita paciência da parte dele e muita incompetência da parte da Vivo, a ligação "caiu". Reclamamos, enquanto isso, eu e ele, no twitter. Como resposta, a Vivo só nos mandou seguir seu perfil para, depois, mandar uma DM dizendo que deveríamos entrar em contato telefônico com eles. O que já estávamos realmente tentando fazer. Ele ligou mais uma vez, aguardou mais uma hora pelo atendimento e, após mais uma hora e meia de conversa e espera, conseguiu que uma das contas fosse corrigida para o valor acordado: R$119,90. Nada dos 50% de desconto. Quando a atendente estava verificando a segunda conta, a ligação mais uma vez "caiu". Desistimos de conseguir mais qualquer coisa naquela noite.

No dia seguinte, minha mãe foi novamente até a loja da Vivo onde, por mágica, pagou a conta referente a abril, com vencimento em maio com o valor certo (R$119,90) e a conta referente a maio, com vencimento em junho, finalmente com o desconto prometido: R$59,95.

Tudo estava resolvido. Após muito stress, muita preocupação, muito desgaste, tudo resolvido. Nós realmente acreditamos nisso.

Até que recebemos a conta referente a junho, com vencimento para o dia 03/07. R$941,62. Sim, isso mesmo: quase mil reais. Quase 8 vezes o valor correto. E o motivo desse valor? 23 SMS enviados (ainda não sabemos como fazer isso) e R$808,72 gastos em 638 minutos de ligações para Minas Gerais E recebidas de Minas Gerais. Sim, de novo aquele Estado onde não conhecemos ninguém. E, sim, ligaram para nosso 3G - o chip nunca nem saiu de dentro do modem e, percebi agora, eu nem sei como tirar - e nós supostamente atendemos, sabe-se lá como. Sem hesitar, minha mãe foi no dia seguinte até uma loja da Vivo; não a que diz não poder fazer nada onde adquirimos o modem, uma em que supostamente é possível resolver problemas assim. O que ela ouviu lá? Novamente, que não podem fazer nada. Que ela que teria que provar que não estava mentindo e que não tinha feito as ligações, pois era a palavra dela contra a palavra da Vivo. Que ela não pode cancelar também o serviço, pois, para isso, teria que pagar a conta absurda E uma multa. Quando minha mãe levantou a possibilidade de clonagem do chip e utilização por alguém da própria Vivo, ouviu que isso é impossível, que chips não podem ser clonados de forma alguma (a gente finge que acredita?). E, quando minha mãe disse que só eu e ela tínhamos acesso ao 3G, ainda teve que ouvir que a filha dela poderia estar usando o chip escondido dela para ligar para um "namoradinho" em Belo Horizonte. Sim, a atendente usou o termo "namoradinho", como se eu fosse uma menina inconsequente de 13 anos; e não uma mulher que trabalha e que estuda - muito! - e que, no horário em que as ligações são feitas - sempre após as 23h - já está no sétimo sono. (Posso processar a Vivo por isso? É calúnia, difamação?)

Então, uma alma caridosa que infelizmente teve a infelicidade de trabalhar na Vivo e queria realmente ajudar minha mãe, deixou que ela entrasse em contato com os telefones que constam na conta. Os tais telefones de BH. Sempre os mesmos: dois celulares e um fixo. Em todos deles, desconhecidos. Como esperado. Mas, nos celuares, duas belas "surpresas".

Minha mãe: - Você conhece alguém que tem um celular da Vivo com DDD 14?
Desconhecida 1: - Conheço.
Minha mãe: - Ele trabalha na Vivo?
Desconhecida 1: - Trabalha. (silêncio em que provavelmente ela se tocou do que tinha falado e engoliu em seco). Quer dizer, não. Não trabalha. Não conheço ninguém. (E desligou).

Minha mãe: - Esse celular é seu?
Desconhecida 2: - Sim.
Minha mãe: - Você conhece alguém que tem um celular da Vivo com DDD 14, que possa ter feito ligações pro seu celular?
Desconhecida 2: - Mas esse celular, na verdade, nem é meu... Eu atendi por acaso. Tava passando e atendi. Ele é de uma empresa de aposentadoria.

Resumo: a Vivo não vai resolver nada. E a própria atendente da empresa recomendou que minha mãe pagasse um advogado pra processar a Vivo, pois eles não ligariam a mínima se isso fosse parar em Pequenas Causas.

Minha mãe ainda solicitou o cancelamento da linha da Vivo - do celular que ela tem há dez anos - e não recebeu resposta alguma.

Enfim... como proceder? Como lidar com tamanha falta de respeito, tamanho despreparo de supostos profissionais do atendimento, tamanho descaso por parte de uma empresa que faz toda uma propaganda querendo mostrar que se importa com o cliente?

Enquanto escrevo isso, vejo as inúmeras contas erradas e absurdas da Vivo espalhadas na minha mesa. Em todas elas, o "lema" da empresa: "Conexão como nenhuma outra". Sou obrigada a concordar: realmente, como nenhuma outra. Nenhuma outra consegue ser assim, tão ruim. Ou, talvez, para ficar perfeito, poderíamos acrescentar algumas palavras ao slogan e escrever a realidade da Vivo: "Falta de conexão com o cliente como nenhuma outra".

terça-feira, 7 de junho de 2011

sandman, seulyndo!




"Have you ever been in love? Horrible isn't it? It makes you so vulnerable. It opens your chest and it opens up your heart and it means someone can get inside you and mess you up. You build up all these defenses. You build up a whole armor, for years, so nothing can hurt you, then one stupid person, no different from any other stupid person, wanders into your stupid life... You give them a piece of you. They didn't ask for it. They did something dumb one day, like kiss you or smile at you, and then your life isn't your own anymore. Love takes hostages. It gets inside you. It eats you out and leaves you crying in the darkness, so simple a phrase like 'maybe we should be just friends' or 'how very perceptive' turns into a glass splinter working its way into your heart. It hurts. Not just in the imagination. Not just in the mind. It's a soul-hurt, a body-hurt, a real gets-inside-you-and-rips-you-apart pain. Nothing should be able to do that. Especially not love. I hate love."

-The Sandman, Neil Gaiman

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Diário da Emília - 10/04


Como é que o Sílvio, sendo tão pequeno, consegue ser tão maldoso? Eu acho que ele é mesmo filho do demônio. Hoje, eu e a Tete estávamos brincando e ele pediu pra brincar com a gente. Aí a Tete falou que ele ia ser filho dela e a boneca dela ia ser minha filha. Só que a boneca não faz nada e ele se mexe e finge que chora, aí a Tete ficou gostando dele. Odeio ele! Depois eu chamei a Tete pra brincar comigo e ela disse que preferia desenhar com o Sílvio. Burra! Ontem ela mostrou ele pras amigas dela na escola e elas falaram "Que bonitinho!". Ele engana todo mundo, menos eu. Eu sei que ele só finge que é bonzinho, ele gosta é de causar confusão. Eu só espero que ele não faça minha mãe morrer de desgosto que nem a mãe dele. Eu tirei 10 em redação. O tema era "A Importância da Família".

Emília

terça-feira, 17 de maio de 2011

provérbio nigeriano

"Se o seu rosto está inchado pelas duras pancadas da vida, sorria e finja ser um homem gordo."

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Eu li num livro 12

Livro: Fantasmas do Século XX

Autor: Joe Hill

Dose de sabedoria:

* Em uma amizade, você tem permissão para causar uma determinada quantidade de dor. Isso é até esperado. Mas não pode causar nenhum ferimento grave; nunca, em circunstância alguma, deve deixar feridas que irão resultar em cicatrizes permanentes.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

over the rainbow

Ela tinha uma cor em cada parte de si. O sapato, a saia, a blusa, o esmalte, a sombra, o batom, o cabelo, os olhos. Cada um de uma cor. Não ficava kitsch, como deveria. Combinava com ela.

Ele perguntou qual era sua cor preferida e ela sorriu ao dizer "Lilás". Se bem que, pensava, ela também gostava do roxo. E do rosa. E do preto. E do verde. E do laranja. Só não gostava do marrom. Diziam que o lilás simbolizava evolução espiritual, transformação, que era uma cor que purificava, equilibrava. Ela gostava disso. Por isso, também, pesquisava sobre significado das cores. E, assim, descobriu que o marrom é sempre associado ao feio e ao sujo. Óbvio que ela não gostasse dele. E também descobriu um monte de outras coisas. Como que pessoas que gostam de cinza não costumam ter sentimentos. Ou carregam uma grande dor escondida. Mas, também, cinza era uma cor tão sem graça... quem escolheria o cinza como cor preferida? Só podia ser alguém sem sentimentos...

E ela perguntou:

- Qual é a sua cor preferida?
- Ah... cinza. - ele respondeu.

Cinza. Óbvio.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

really do come true

- você vai dar aula pra gente?
- não, meninas.
- ah, pq?
- pq vocês já têm aula hoje.
- e sexta?
- não, sexta é educação física.
- ah, a gente queria que fosse teatro...
- mas não é...
- não tem como mudar, não? pra sempre?
- não (risos), só quando o professor faltar.
- tomara que ele falte.

(...)

- tchau, tia!
- tchau!
- quando que vai ter sua aula de novo?
- não sei (risos)...
- ah, tem que ter toda semana.

(...)

- sexta você dá aula pra gente?
- não, gente. eu não sou professora. eu só substituí um professor que faltou.
- quando alguém faltar, você dá aula de novo, então?
- acho que sim...
- vamos falar pro professor de amanhã faltar. vem!
(muitos risos)

* pq algo mágico acontece quando você descobre que consegue despertar em outras pessoas a mesma paixão que despertaram em você...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

sem mais

“As coisas mais importantes são as mais difíceis de expressar, pois as palavras as diminuem. É difícil fazer estranhos se importarem com as coisas boas de sua vida.”
(Stephen King, no conto O Corpo, de Quatro Estações)

segunda-feira, 28 de março de 2011

Diário da Emília - 20/03

Hoje o Aldo me disse que eu era tão chata que era a única que ficava sozinha na escola no recreio. Burro! Eu fico sozinha porque eu quero, porque eu prefiro ficar lendo e escrevendo do que ficar com aquelas pessoas maldosas da escola. Eu vou perdoar o Aldo. A mãe diz que a gente tem que perdoar as pessoas quando elas erram. E eu vou perdoar porque eu sei que não é culpa dele, é do meu primo. Ele acha que só porque não tem família pode roubar minha mãe, meu irmão... Ele finge que é legal, só pro Aldo gostar dele. Ainda bem que a Tete é muito minha amiga. O Aldo também. Os dois me amam muito e o Aldo vai perceber a besteira que fez e me pedir desculpa.

Emília

quarta-feira, 23 de março de 2011

Eu li num livro 11 (especial prozamigo)

Livro: O Diamante de Jerusalém
Autor: Noah Gordon
Dose de sabedoria:
* "- Eram parentes?
- Mais do que isso. Amigos."

(dedicado aos que sabem que são os melhores, nem preciso citar.)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Carta para Joel Barish


Então, é isso. Cá estou eu te escrevendo de novo, Joel.

Quero te contar que vou todos os dias até a Lacuna. Todo santo dia. Nos dias de sol escaldante, nos de frio intenso e nos de chuvas avassaladoras. Até nos dias em que neva. Mas, você bem sabe, eu prefiro os dias de sol com chuva, só pra ver o arco-íris. O meu arco-íris.

Vou todos os dias, na verdade, até a porta da Lacuna. Nunca entro. Não consigo criar a coragem necessária pra cruzar aquela porta. Quem diria?! Clementine Kruczynski sem coragem! É que também não ando usando muito o cérebro. Ultimamente - e sempre - sou toda coração; tão diferente de você.

Pq eu quero entrar? Pq uma vez eu te disse que aquela música nunca mais seria a minha, mas você fez com que voltasse a ser. Você, que é tão... especial. You´re so very special. I wish I was special. But I´m a creep, I´m a weirdo... Você era o estranho, mas fui eu que me tornei a esquisita parada à frente daquela porta, despertando a curiosidade dos funcionários. E dos passantes.

Eu queria. Eu queria realmente entrar, Joely. Queria com todas as minhas forças. Pq eu estou sendo uma grande trouxa nessa história. Pq cada palavra sua, cada sorriso, cada coisinha que vem de você alimenta essa esperança dentro de mim; essa esperança de que as coisas aconteçam, de que você me dê uma chance de provar que elas podem acontecer, que a gente pode fazer elas acontecerem. Afinal, Joel, pq não? Ok, eu também enxergo as diferenças. Mas você não enxerga o resto? Eu enxergo. Eu vejo as coisas em comum, e o quanto a gente se dá bem. E as coisas que só a gente entende, as piadas internas. E o quanto você me faz rir (e eu desconfio que eu faça o mesmo com você). Eu enxergo. E é, também, por ver tudo isso (que pra você pode ser pouco mas, pra mim, é tudo), que eu não extermino a esperança. E ela era pequenininha. Mas, sendo alimentada, ela cresce. E eu tenho medo - pavor! - de que ela se torne um monstro.

Com tudo isso me fazendo querer entrar, você deve se perguntar pq eu não entro. Sempre tão cinza, até em suas dúvidas. Eu não entro pq a gente envelhece, Joel. Essa é uma das coisas que não dá pra evitar. E eu também estou envelhecendo. Mas, com você na minha vida, eu sou Coré, eterna adolescente. Vc faz com que eu me sinta com 15 anos de novo: boba, patética, medrosa. Eu, que pareço tão segura, fico tão apavorada. A ponto de tremer. De gaguejar. De fingir que não te vejo. De fugir de você de medo que você perceba no que me transformou: uma menininha de 15 anos, vivendo uma eterna primavera.

Você é minha primavera fora de época, Joel. E é isso que me impede de abrir a porta. E é não abrir a porta que vai transformar minha vida num inverno. Ou num inferno. A não ser, é claro, que eu não precise abrir a porta. Que... bom, você sabe. Que venha o verão, e não o frio.

Já é madrugada e a música no repeat diz exatamente o que eu queria te dizer... But in your dreams - whatever they be - dream a little dream of me.

Clem

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Top 10/2010 - Músicas

Posição:10
Número aproximado de vezes que ouvi em 2010: 62
Comentário: Embora eu ame Caetano (e tenha até passado por momentos engraçados com ele - quando eu travei e não consegui falar com ele vendo-o sair da mesma sessão de "La Mala Educacion" em que eu estava e, depois, conseguindo finalmente criar coragem pra entrevistar um dos meus cantores preferidos no VMB de 2004), não conhecia essa pérola. Precisei assistir 9 sessões de Boca de Ouro - que, sendo peça do Wanderley, tinha uma trilha sonora fabulosa, claro - pra descobrir essa pérola. A música é linda e tem uma letra maravilhosa.
Trecho fantástico:
Todo beijo, todo medo
Todo corpo em movimento
Está cheio de inferno e céu

Posição:9
Número aproximado de vezes que ouvi em 2010: 68
Comentário: O Maykol é daquelas pessoas que têm o estranho - e inútil, devo dizer - poder de me viciar em músicas. Além de me fazer ouvir muito mais Shakira do que eu normalmente ouviria, ele me mostrou essa fofurinha (que também tem uma versão da Shakira, aliás). O ritmo é uma delícia e me fez levar pra 2011 a curiosidade pela banda (aí eu já baixei quase tudo e meio que viciei).
Trecho fantástico:
I am yours now
So now I don't ever have to leave
I've been found out
So now I'll never explore

Posição: 8
Número aproximado de vezes que ouvi em 2010: 76
Comentário: Eu não gostava de Lily Allen até essa música. O ritmo é maravilhoso, é impossível não dar uma dançadinha. E é muito girl power - algo meio esquecido, mas que era bem valorizado numa época não tão remota.
Trecho fantástico:
Then I remember all the nice things that you ever said to me
Maybe I'm just overreacting maybe you're the one for me

Posição: 7
Número aproximado de vezes que ouvi em 2010: 77
Comentário: Maykol de novo. Mas essa ele me mostrou em 2009 e eu não dei o devido valor. Achei legal e só. Aí virou trilha de filme com a Julia Roberts em 2010, não parava de tocar e eu resolvi prestar mais atenção e - tcharan - me apaixonei. Não tem como não dar uma super animada ouvindo essa música.
Trecho fantástico:
Happiness hit her like a train on a track

Posição: 6
Número aproximado de vezes que ouvi em 2010: 82
Comentário: A única coisa boa de assistir uma peça super chata em 2010, foi lembrar dessa música linda. Triste, ok; mas linda. Boa para momentos deprê e excelente música pra dormir... é impossível não ser embalada por esse ritmo e cair no sono. Miba deve gostar, já que é a banda dela.
Trecho fantástico:
There is another world
There is a better world
Well, there must be
Well, there must be

Posição: 5
Número aproximado de vezes que ouvi em 2010: 93
Comentário: A melhor música pra dançar em 2010. Achei o clipe tão nhonhonho, com aquele final surpreendente (pq eu achava q era uma música romantiquinha até descobrir que é muito mais que isso e que não era exatamente um homem que transformava a vida dela numa sinfonia), que acabei amando a música tb.
Trecho fantástico:
Before you,
My whole life was acapella!
Now a symphony’s
The only song to sing

Posição: 4
Número aproximado de vezes que ouvi em 2010: 117
Comentário: Era a música que me enchia os olhos de lágrimas em todas as sessões de Rasto Atrás. Até hoje não sei se a cena era realmente boa ou se era tudo poder dessa música tão tristinha, com esse coral de criancinhas.
Trecho fantástico:
Não faço ideia, pq nunca entendi a letra.

Posição: 3
Número aproximado de vezes que ouvi em 2010: 130
Comentário: Entrou na trilha de Senhora na Boca do Lixo por minha causa e acabou sendo a melhor música da trilha. É linda e vc ouve milhões de vezes seguidas sem enjoar dela.
Trecho fantástico:
Então... Não tem letra, é instrumental. Ou seja... rs.

Posição: 2
Número aproximado de vezes que ouvi em 2010: 194
Comentário: Música que surgiu do nada em minha vida. E eu amo. A letra é incrível, o ritmo é delicioso. Sou fã dessa banda de nome gigante só por causa dela, da mesma forma que sou fã do When in Rome, mesmo que eles só tenham feito The Promise. Fato.
Trecho fantástico:
You say I got to find my place
But my place is inside of you

Posição: 1
Número aproximado de vezes que ouvi em 2010: 281
Comentário: Eu já gostava de Kate Nash, mas nunca tinha ouvido essa. Ouvi a primeira vez e foi amor à primeira ouvida. É, acredito eu, a música mais perfeita de toda a história da humanidade. Tem a letra de menininha mais fofa ever, a voz deliciosa da Kate e esse ritmo fofinho. Não tem como não ser a mais ouvida do ano.
Trecho fantástico:
I wish that you knew when I said two sugars, actually I meant three


Posição: Menção honrosa
Número aproximado de vezes que ouvi em 2010: mais cantada do que ouvida
Comentário: Auto-explicativa. E pq o Maykol tb me fez virar fã da Tulipa, com essa voz tão doce e essas letras tão bacanas.
Trecho fantástico:
Vou ficar mais um pouquinho
Para ver se eu aprendo alguma coisa
nessa parte do caminho.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

No fundo do fundo fundo

Uma senhora com cara de índia, blusa bem vermelha, saia, bota, chapéu, óculos e segurando um guarda-chuva florido.

Uma menina que chora falando ao celular. Para de chorar e fala normalmente. E volta a chorar.

Um gordinho lendo uma revista de ufologia.

Um casal tirando fotos: ela faz poses, segurando no corrimão da rampa, ele fotografa.

Uma senhora grita, acenando: "Filhinho!". Um senhor de uns 45 anos acena de volta.

Uma senhora de melissa, fivelinhas no cabelo e segurando uma bolsa pequenina de plástico como se segurasse sua própria vida.

Uma grávida, com uma menininha de pouco mais de um ano. A criança grita "Ei! Ou! Ei! Ou!" e todos em volta sorriem, sem conseguir controlar.

Uma moça sentada num banco laranja na Barra Funda, com uma bolsa roxa no colo - tentando, sempre, se segurar na alça de uma bolsa lilás -, com um sono de quem fofocou até às 4h da manhã e acordou às 8h pq a primavera não a deixa dormir - e pq tem frases que não têm significado aparente, mas são causadoras de insônias violentas -, fazendo cálculos mentais para saber como pagar o que precisa pagar e ainda conseguir comprar um presente para mãe e pras melhores amigas, com uma pequenina mágoa na mente e tentando superá-la, com fome, com vontade de tomar banho e desejando que esse domingo não demore... e observando os tipos diferentes que passam ao seu redor... e anotando.. e escrevendo... e escrevendo...

domingo, 23 de janeiro de 2011

Em Dezembro eu...

* li 06 livros.
* fiquei loira e fiz progressiva de novo (e tive a alegria de só lavar o cabelo e ele ficar bom).
* comemorei o niver da mãe com almoço no shopping (picanha,claro!), jantar japonês, torta holandesa e o Cauã fazendo a gente morrer de rir.
* assisti "Lazarillo de Tormes", peça genial e super diferente do que costuma aparecer na Mostra.
* assisti "A vida é sonho" com a turma que era da Camis.
* assisti "Macbeth" e, sim, Shakespeare me mata de tédio.
* assisti "A Morta", a melhor peça dessa Mostra depois de O Sonho (claro! rs) (o que me deixou com mais vontade de ser dirigida pelo Wanderley).
* passei uma tarde de compras pra peça como Maykol, com direito a "passeio" na 25 e comemoração de fim de compras com coca com limão e gelo.
* assisti "Reunião de Família" (do Lucas) e, mesmo sendo um dramão tenso, adorei.
* assisti "Máscaras" e... enfim... deixa pra lá, rs.
* conheci a casa da Rê Lamata (e os cachorros lindos dela) e a da Nati (e a tartaruga dela).
* participei da montagem de cenário e luz mais difícil e cansativa da minha vida (que rendeu queimaduras e muitas dores no corpo).
* apresentei "O Sonho", fui a Poetisa por 3 dias (registrados nas fotos mais lindas ever), tomei banho de purpurina, tive cabelo roxo, comi jujuba, marshmallow e pirulito, tive meu figurino e maquiagem preferidos de todos os tempos, me cansei horrores, mas percebi - só no palco - que era a peça mais fantástica de todas que eu participei (o que me fez chorar de verdade na última sessão).
* fui pra Toca com o Maykol, a Li, a Kel, a Jaque, o Dan, a Nati, o Zezinho e o Tiago, pra comemorar o aniversário da assistente querida Camis.
* tive na plateia toneladas de pessoas muito especiais me assistindo (e quem perdeu é digno de lástima, #fikadika).
* fui obrigada a concordar com a Agnes, quando ela diz "como os homens são dignos de lástima".
* fui pra Iracema 200 vezes (pra minha alegria extrema).
* assisti "Homens de Papel" (tb do Lucas e com a Carol no elenco) e adorei.
* assisti "Roda Viva" (do Tiago e com o Me de assistente) e adorei.
* (re)descobri que amizades de verdade são pra sempre.
* assisti "Cacilda!!" na Dionisíacas, uma experiência única (afinal, 6 horas de peça, oi?) com o Maykol, a Jaque, o Beto e uma galerinha de Casais Abertos.
* operei a luz em uma peça infantil (Romeu e Julieta) que era a coisa mais fofa do mundo.
* participei da festa de confraternização com a tchurma de "O Sonho".
* deixei em 2010 o que precisava ficar em 2010.
* assisti a outra versão de "O Sonho" (e é óbvio que eu não gostei pq eu gosto da nossa) (e pq transformar o único personagem feliz da peça num hippie depressivo foi trevas, #fikadika).
* assisti "O Rinoceronte", a peça do Lucas que menos tinha a cara dele.
* virei aplicativo do facebook (e quase morri de rir).
* passei um Natal ótimo com a família, muita comida boa e presentes ótimos (roupas, sapato, celular, mochila pra levar minhas coisas pra Sampa e "Orgulho e Preconceito e Zumbis").
* tive uma gripe duzinferno pra acabar o ano.
* desisti da Susan Miller (enganadora!!!).
* passei o reveillón na casa da Dan (e, pra mim, a melhor coisa foi o "Freddie in concert", que eu achei simplesmente genial).

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O necessário, somente o necessário

"Desta forma, o número de definições de teatro é praticamente ilimitado. Para fugir desse círculo vicioso, torna-se necessário, sem dúvida, eliminar, e não adicionar. Por isto, temos de perguntar o que é indispensável no teatro. Vejamos.
Pode o teatro existir sem figurinos e cenários? Sim, pode.
Pode o teatro existir sem música para acompanhar o enredo? Sim.
Pode o teatro existir sem efeitos de luz? Claro.
E sem texto? Sim, a história do teatro confirma isto. Na evolução da arte teatral, o texto foi um dos últimos elementos a ser acrescentado. Se colocamos algumas pessoas num palco com um cenário que elas próprias montaram, e as deixamos improvisar seus papéis como na Commedia dell'Arte, a representação poderá ser igualmente boa, mesmo que as palavras não sejam articuladas, mas apenas murmuradas.
Mas poderá existir o teatro sem atores? Não conheço nenhum exemplo disso. Pode-se mencionar o teatro de fantoches. Mesmo aqui, no entanto, o ator pode ser encontrado por trás das cenas, embora de uma outra forma.
Pode o teatro existir sem uma plateia? Pelo menos um espectador é necessário para que se faça uma representação. Assim, ficamos com o ator e o espectador. Podemos então definir o teatro como o que ocorre entre o espectador e o ator."
(Em Busca de um Teatro Pobre, Grotowski)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O sonho da Poetisa



A peça era chata. Só pra ler já quase morri de tédio. Natural que não tivesse a menor vontade de fazer e natural que tenha lutado fervorosamente contra. Mas foi ela. Decidida pelo grupo. Destinada por eras. O Sonho. De Strindberg.

E, então, eu sonhei. Com aquela profusão de personagens e aquele elenco gigante, a definição do que eu seria me assustava. Ninguém, era minha única opção. Até o sonho... E eu sonhei. Sonhei que o Poeta era Poetisa. O que seria óbvio: toda a agressividade masculina não combinava com ele. O Poeta era leve, era suave, era alguém que enfrentou milênios de confrontos e ainda sorria, sem ter se rendido à força bruta, usando palavras como armas e a fé na humanidade como munição. Como na música que eu amo, o amor era sua arma mais forte.

E, então, o presente: a Poetisa. Era ela e era minha. Era eu. E, num caldeirão de criação, eu coloquei as duas, lá no fundo. As duas que são uma, que são a mesma. A eterna adolescente e a rainha do submundo. A alegria e a dor. A poesia e o pesar. O branco e o roxo. Uma saltitando, girando, com pés que se reduzem a pontas, conduzindo-a à elevação; outra, com o barro, a lama, com os pés fincados num mundo que é dela e que é belo até nos seus aspectos mais grotescos - simplesmente pq ela assim o enxerga. A menina poetisa e a poetisa menina, existente desde o sempre e renascendo a cada segundo. Coré e Perséfone.

E, no caldeirão, eu joguei bolinhas de sabão. E guizos, e tule, e purpurina, e glitter, e brocal, e marshmallow, e jujubas, e pirulito, e folhas de papel. Dei uma misturadinha e taquei angústia, inquietação, repulsa, aversão. E completei com paixão, com fé, com admiração, com encantamento. E, de lá, surgiu a Poetisa. A minha Poetisa.

E, sem querer, por puro capricho do destino, ela se olhou no pequeno espelho quadrado e viu a maquiagem borrada. E, nesse instante, sob o calor das luzes do camarim, ela se encontrou. A maquiagem borrada, a roupa se esfarrapando, os pés sujos de lama, a sujeira em cada mílimetro de seu corpo. Ela estava destruída por séculos de luta pelo que acreditava, por milênios em que vagou pela terra, querendo que a humanidade entendesse que o amor triunfa a tudo. Olheiras fundas por cada vez que os filhos dos homens julgavam que os poetas nada mais fazem do que fingir e inventar. Olhos de quem chorou por cada injustiça que viu. Mas, ainda maior, o sorriso, o deslumbramento diante do existir, o encantamento em cada banho de purpurina, a paixão pela humanidade.

O Deus criou o homem em uma roda de oleiro - ou em outra coisa qualquer - e eu criei a Poetisa no cantinho mais purpurinado do meu coração.

Sweet dreams are made of this...

sábado, 8 de janeiro de 2011

I can't remember anything without you.


Quando “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” foi lançado, eu não dei crédito algum. Tudo que eu conseguia pensar era “Jim Carrey”. E eu definitivamente não tenho paciência para as caretas dele. Mas a história era interessante, traillers e fotos me instigaram e lá fui eu ao cinema. E tenho que confessar: Jim Carrey me ganhou com esse filme. E o filme, a propósito, mudou toda a minha existência.

O filme. Roteiro brilhante, atuações impecáveis, show inesquecível de Kate Winslet (não consigo pensar em uma personagem mais surpreendente que Clementine, por mais que eu me esforce), cenas fofas, momentos hilários, momentos altamente depressivos (Joel ouvindo “Everybody´s got learn sometime” do Beck é de cortar os pulsos), trilha sonora ótima. E ainda é uma das mais lindas histórias de amor já retratadas no cinema.

Jim Carrey. Joel Barrish é um tapa na cara de qualquer um que tenha falado que ele não era um bom ator. E eu me incluo nesse grupo. “Ele só sabe fazer caretas”, era o que eu dizia. Joel Barrish não faz caretas. Nem feliz ele é. Joel é depressivo, triste, melancólico, desiludido. E a atuação de Carrey te faz querer abraçar Joel e, no fim do filme, levantar e bater palmas para Jim. Pois Joel é real, absolutamente real, de uma realidade que chega a doer.

Minha vida. Lembro muito bem do dia em que vi o filme pela primeira vez. Fui acompanhada pela minha amiga que é mais parecida comigo em termos de neuroses e psicoses. Principalmente quando falamos da sétima arte (e, sim, “sétima arte” é um termo clichê, mas adoramos tudo que é clichê!). Na saída, a conversa era um tanto quanto estranha pra pessoas que não atingiram nosso grau de excentricidade: “Quem você apagaria da sua vida?”, “Se você só pudesse guardar 5 memórias, quais seriam?”, “Top 5 pessoas que eu não apagaria jamais”. A conversa continuou por dias... semanas.... Divaguei mais do que deveria até sobre as lembranças que eu queria manter e as que apagaria. E, se você ficou curioso, se eu tivesse que escolher uma só para manter, com certeza seria um almoço de família, com mãe, pai, irmãs, ataques de riso e besteiras inesquecíveis.

Eu não canso de ver o filme. Acho que nunca vou cansar. Já sei boa parte das falas de cor e, mesmo assim, sempre me empolgo como se fosse a primeira vez que vejo o filme. E sempre vejo pra me convencer de que eu não deveria apagar nada e nem ninguém da minha vida, pois cada momento é precioso, cada pessoa é fundamental e as que mais te machucam, te fazem sofrer, te deixam com raiva, são as que mais te farão aprender, mais te trarão alegrias e maior importância terão em sua trajetória.

Um motivo para ver? Se é que ainda precisa de um.... A cena em que Joel e Clementine brincam na neve e ele pede ao médico que o deixe ficar com só essa lembrança. Tente não se desesperar junto.

I carry your heart with me

I carry your heart with me(i carry it in
my heart)i am never without it(anywhere
i go you go,my dear; and whatever is done
by only me is your doing,my darling)
i fear
no fate(for you are my fate,my sweet)i want
no world(for beautiful you are my world,my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart(i carry it in my heart)

(I carry your heart with me - e e cummings)

(pq eu carrego muitos corações no meu.)

sábado, 1 de janeiro de 2011

Eu li num livro 10

Livro: Maya

Autor: Jostein Gaarder

Doses de sabedoria:

* "O fato de uma resposta não estar a seu alcance não significa que não exista."

* Se existe um Deus, ele não só é um ás em deixar vestígios, mas, sobretudo, um mestre em se esconder. E o mundo não é dos que falam além da conta. O firmamento continua calado. Não há muito mexerico entre as estrelas..."

* "Mas somos seres humanos, e os seres humanos têm uma tendência a procurar sentido onde não há sentido."

* "Se não existisse nada, ninguém sentiria falta de nada."

* Existe um mundo. Em termos de probabilidade, isso é algo que esbarra no limite do impossível. Teria sido muito mais fidedigno se, por acaso, não existisse nada. Nesse caso, ninguém teria começado a perguntar por que não havia nada."

* "A vida é um jogo, pensei, tudo é de açúcar."

* "... que a vida é breve demais e que o ser humano é feito de tal modo que há coisas demias de que tem que se despedir."

* "Então você talvez possa empregar esse tempo limitado em outra coisa que não seja se irritar com a brevidade dele."

* "Costuma acontecer com conhecidos que em determinado momento provocaram algo em você; podem voltar à memória anos depois de o contato físico ter se rompido."

* "Talvez exista um mito sobre uma estrela que caiu do céu e se transformou em estrela-do-mar, disse Laura, se não, poderíamos inventar um nós mesmos, porque nunca é tarde demais para inventar mitos."

* "Você fugiu da minha dor, não suportava viver com a minha dor, pois mal suportava viver com a sua, porque você levava consigo a mesma dor, mas dela era mais difícil fugir. Havia dor demais em casa, dor demais sob um mesmo teto, e você optou por dividir a dor em duas."

* "A sabedoria a posteriori também é uma forma de sabedoria. Pode ser sábio olhar para trás. Somos mais nosso passado do que nosso futuro."

* "Não sabemos para onde vamos. Sabemos apenas que iniciamos uma longa viagem. Quando chegarmos ao fim do caminho, encontraremos a causa ou a explicação para o início dessa longa viagem."

* "A lógica é pobre demais em ambivalência. Por isso também não se presta muito para resolver conflitos ou processos em geral. A lógica está completamente morta, Vera."

* "Passados três anos, continua me parecendo impossível que eu nunca vá ver Sheila de novo. Mas como posso estar tão certo de que não vou me reunir a ela? Estou quase certo, mas não de todo. Com a simples existência do mundo, os limites do improvável já foram superados. Se o mundo existe, por que não haveria de existir outro mundo depois?"

* "Os que querem viver sempre não são os primeiros a se lançar na pista de dança. Não são os que aproveitam a vida. Os dançarinos estão tão absortos na dança da vida que não se deixam distrair pela ideia de que um dia a festa chegará ao fim."

* É mais fácil amar um ser que você não alcança do que amar alguém de quem você não se livra."

* "Ao morrer, como quando a cena está fixada no rolo do filme e os cenários foram derrubados e queimados, somos fantasmas na lembrança que nossos descendentes guardam de nós. Então somos fantasmas, querido, somos mito. Mas ainda estamos juntos, ainda somos um passado comum, um passado distante, é o que somos. Debaixo de um relógio de passado mítico ainda ouço a sua voz."

* "Precisa-se de bilhões de anos para criar um ser humano. E ele só precisa de alguns segundos para morrer."