segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A cigarra e a formiga




A formiga trabalhou o ano inteiro e juntou comida. Enquanto isso, a cigarra cantava. Aí chegou o inverno - pois todo ano ele chega - e a cigarra não tinha o que comer (enquanto a formiga, que juntou comida e trabalhou, tinha). A cigarra morreu de fome. Fim.

É essa a história que a gente ouve, desde pequeno. A lição que a gente aprende: temos que trabalhar todos os dias, não cantar. E aí a gente cresce, condicionado a acreditar nisso e aceitar que a vida só é válida quando a gente se mata de trabalhar e não perde tempo com bobeiras, afinal, o trabalho enobrece a alma. Isso ou a gente percebe todas as outras interpretações possíveis e se vê obrigado a dizer "maldito Esopo!", já que esse talzinho aí conseguiu "miacabácamiavida" de muita gente.

Pra começar, desde quando cantar não é trabalhar? É certo valorizar só o trabalho repetitivo e burocrático? E criar e alimentar ano após ano o preconceito de que artista - sim, pq a cigarra era uma artista - não trabalha? O que a fábula escondia sutilmente é que a formiga, com aquela existência medíocre dela, fazendo a mesma coisa chata todos os dias, voltava pra casa e ouvia a cigarra cantando e aposto que esse era o único momento feliz do dia dela (como de tantas pessoas que trabalham, levando uma vida de formiga, e encontram um momento de felicidade em um mp3 player - ou celular, ipod, etc - na volta pra casa).

E a parte que pra mim é decisiva na história também é bem pouco valorizada: antes de morrer de fome, a cigarra bate na porta da casa da formiga, pedindo ajuda. E o que a formiga deveria fazer - se fosse uma pessoa/inseto de bem, claro? Acolher a cigarra, dividir a comida com ela e passar um divertido e agradável inverno, conversando com a nova amiga, ouvindo-a cantar e pq não arriscar? - aprendendo com ela algumas lições de canto. E o que a formiga faz? Bate a porta na cara da pobre cigarra e a deixa morrer de fome. E, por uma manipulação por anos, sendo cruel e egoísta e má, a formiga foi aceita pela humanidade como a heroína exemplar da história. E as pessoas não percebem que ela é a grande vilã, a ponto de deixar Darth Vader com medo (o cara que cortou a mão do próprio filho, btw).

Por entender esse outro lado da fábula, odeio as formigas, com suas existências estúpidas, seus dias sempre iguais, seus horários e regras fixos e banais, suas vidas não vividas. E adoro as cigarras que, mesmo sabendo dos contratempos decorrentes de levar a vida que escolheram, tiveram a coragem de optar pelas dificuldades, abrir mão de segurança e conforto e aceitar que só se é feliz fazendo aquilo que a gente ama e sabendo que amor é sacrifício...

sábado, 28 de janeiro de 2012

Vamos abrir as Portas da Esperança!




É como se você assistisse sempre o programa. Sempre vendo as pessoas sendo atendidas, realizando sonhos. Um pede um meio de ganhar a vida (e ganha uma fábrica de coxinhas, de fraldas, uma iogurteira top therm, ou whatever). Aí tem aquele que sonha em fazer um curso, dar um upgrade na vida através do aprendizado e as portas se abrem e ele ganhou aquele curso genial de computação que vai mudar o destino dele. Tem os que sonham com um carro e choram de emoção mesmo ao ganhar o mais simples de todos (que pode até ser usado). E é maravilhoso ver as crianças! Coleção de Barbies, todos os gibis da Turma da Mônica (entregues pelo Maurício de Souza - e juro que isso aconteceu e era meu sonho infantil), brinquedos e mais brinquedos... Teve até a menina que queria conhecer a Gretchen! Os olhos brilham e os sorrisos são gigantescos quando a abertura da porta revela tudo isso; inclusive uma rebolativa Gretchen.

E aí você pensa "Eu quero uma bala juquinha, vou lá!". E vai! E, mesmo com todo o suspense que o Sílvio faz (divo!) (e ele sempre faz, ele tem que fazer), você tem certeza de que vai ganhar sua bala. Se as pessoas ganham coisas MUITO melhores, é óbvio que você vai ganhar sua bala! E você só foi no programa, só expôs sua figura pro mundo, por ter certeza.

E, então, chega o grande momento! Com o coração acelerado, você exulta de felicidade, na certeza de sentir aquela saborosa bala juquinha em sua boca. E as portas se abrem. Devagar. Aos poucos. E abrem revelando... o vazio! Nada pra você! Você só pediu uma bala juquinha, nada de mais. E não ganhou. E está ali, em rede nacional vivendo a maior decepção da sua vida e sem saber como agir.

É como se fosse assim...