quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Jessie - parte 01



- Por que você não pode ser uma criança normal, Jessie? Por qual motivo você precisa ser tão diferente?

Quando a mãe entenderia que ela era diferente? Que ela, em hipótese alguma, poderia ser normal?

- Eu converso com minhas amigas. As filhas delas brincam nas ruas com outras crianças. Tudo bem, você já tem 12 anos e pode não querer brincar, mas, pelo menos, poderia conversar com outras meninas, sair para passear. Você não tem amigos, Jessie, e isso me assusta.

E não assustava a ela? 12 anos sem ter com quem dividir todas aquelas... "coisas"? Ela percebeu muito cedo que era diferente, mas a mãe não percebia, fazia questão de não perceber.

- Você passa todos os dias no seu quarto. Computador, TV, rádio... Isso não é uma vida normal! Entenda isso! Você não pode ficar aqui em casa, só comigo e com aquelas estúpidas aranhas.

Estúpidas. Sua mãe chamava suas únicas amigas de estúpidas. Só elas ouviam suas queixas, suas angústias, suas dúvidas. Só elas não ligavam para aquelas coisas estranhas que aconteciam com ela.

- E aranhas, Jessie? Arrume um bicho normal. E que não se repita o que aconteceu com seu cachorro. Custava você cuidar direito dele?

Por mais que Jessie tentasse não pensar no que a mãe falava, ela insistia. E ela tinha que tocar no seu ponto fraco. Custava ter cuidado direito do cachorro? Ela amava Peter Parker mais do que a própria mãe. Peter não a cobrava, Peter a entendia e gostava dela. Ela não tinha culpa. Ela disse pra ele não se aproximar dela, mas ele era teimoso. Ela não queria que aquilo tivesse acontecido ao pobre cãozinho, não queria. Por isso preferia as aranhas. Dentro do vidro, elas não corriam riscos.

- Eu me esforcei tanto pra te criar sozinha. E você não se esforça pra me ajudar, você não quer ser uma filha normal.

As lágrimas já escorriam por seu rosto quando Jessie sentiu o calor. "Oh, não! De novo, não!", pensou.

- Eu não sei até quando vou aguentar, Jessie!

A mãe gritava, histérica. Ela sentiu o calor aumentar e correu para o banheiro. Trancou a porta, ligou o chuveiro e deixou a água escorrer pelo corpo, gelada, quase congelante, apagando as pequenas chamas que começavam a emanar de sua pele delicada.

Ao longe, ouviu a voz da mãe...

- E não pense que pode correr pro banheiro e fugir de mim!

Algum dia conseguiria fugir dela?

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