quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Clementine



Ela entrou. Olhou a recepcionista. Como todas as outras: chiclete, lixa de unha, fone em um dos ouvidos.
Disse, baixo, tensa:
- Eu preciso ver o... er... o Doutor.
A recepcionista parou o processo de lixar a unha do dedo indicador direito. Levantou os olhos, lentamente. Sorriu.
- Você tem hora marcada?
- Não...
Um cartãozinho foi colocado sobre o balcão e a jovem voltou às unhas, à lixa, ao seu mundo, fazendo uma enorme bola de chiclete.
Cartão azul. Logo. Telefone. O nome. Lacuna inc.
- É... eu não posso marcar hora e esperar.
O sorriso sumiu. Cara de tédio. A jovem tirou o fone do ouvido e indagou, em tom desafiador:
- Não?
Ela estava sem graça. Ela ia pagar, tinha direito a um bom atendimento. E, mesmo assim, a jovem a intimidava.
- É que é uma emergência.
- Todo mundo diz isso no primeiro contato. Pessoalmente, por telefone... É sempre uma emergência.
Ela queria mesmo retrucar. Mas estava tão cansada... A coisa toda não saía da sua cabeça há meses, ela podia aguardar um pouco mais, não é?
Esfregou os olhos. As malditas lágrimas já estavam começando a aparecer. Malditas!
- Tudo bem... Eu ligo...
A recepcionista a olhava. Estarrecida. Um misto de "já vi essa cena milhões de vezes" e "deus, como quero te ajudar... eu sei como dói!".
Guardou o cartão. Simulou um sorriso. Abriu a boca para agradecer, mas a voz não saía.
- Espera...
Esperar era tudo que ela fazia...
A jovem jogou o chiclete no lixo. Levantou. Sorriu novamente.
- Eu vou ver o que consigo. Senta ali e espera um pouco.
Ela sorriu. O sorriso era seu agradecimento. E sentou. E esperou.
Esperar era tudo que ela fazia...

Um comentário:

Anônimo disse...

é, esperar... sei o que é isso, às vezesw o que nos resta é sentar e esperar...

Beijokas!!

^^