Todo mundo deve ter percebido o quanto me apaixonei pelo teatro nos últimos anos, o quanto me encontrei nesse mundo mágico.
Muitas pessoas sabem que nos meus 15/16 anos, eu já tinha feito aula de teatro. Na escola, na roça, mas com um professor incrível (o grande Bira). Entrei por acaso. Minha irmã, que é aparentemente menos tímida do que eu (na verdade, é uma fofura de tão jeca e eu sou beeeem mais “descolada” que ela, mas, enfim, eu uso óculos e isso define tudo), começou a fazer o curso. Eu, que estava no terceiro colegial, não podia fazer o curso. A escola – ridícula, hoje percebo – achava que em ano de vestibular, os estudantes devem se concentrar em estudos e coisas sérias. Como se não se estudasse teatro e não fosse “sério”. Fui só pra acompanhar minha irmã, pq ela dizia que era super legal. Não saí mais. Quando acabei o colegial e saí da escola, continuei, por um tempo, com o Bira, num curso/grupo. Até que o Bira foi embora. E, com ele, o teatro na minha vida.
Pausa: Nas aulas do Bira trabalhamos um texto insano que eu amava. Pesquisei (santo Google!) e acabei de descobrir que esse texto chama “O Defunto” e é de um dramaturgo francês e é teatro do absurdo. Que é só meu gênero preferido hoje, agora que eu conheço melhor. Incrível!
Bom. Anos se passam. Muita coisa acontece. Em 2006, eu começo a falar em voltar a fazer teatro, a procurar cursos. No final do ano, meu pai me dá de Natal a matrícula. Em 2007, começo. Por começar. Terapia. Mas não paro. Em 2008, ao som de “Mad World”, de vestidinho azul e trancinhas, na beirinha do palco, vendo o público entrar, percebo que não vou conseguir parar. Talvez nunca. No final do ano, depois de meses desgastantes, problemas pessoais, saio do palco e tiro o sapato vermelho. Meu pé sangra. Dói. E eu não havia sentido nada em cena. Em meio ao caos que rondava minha mente naquele momento, me encontro. Era isso. Era isso que eu queria pra mim. Todo o pacote, incluindo as dores, os pés sangrando.
Entre o Bira sumir e eu perceber que precisava voltar, existe algo importante. E, pra explicar, eu preciso voltar muitos e muitos anos no túnel do tempo.
Eu passei minha infância, pré-adolescência, adolescência e tudo mais sendo a irmã mais velha de duas irmãzinhas. E minha maior alegria era entretê-las. Era contar historinhas, fazendo vozes diferentes para cada personagem. Inventar histórias loucas. E fingir. Fingir que era bruxa, princesa, fada, macaco, retardada mental, monstro, corcunda. Fingir pra assustar, fingir pra ouvir a gargalhada delas. Minha mãe me via de dentadura de vampiro, lençól amarrado como capa e óculos escuros (era a época de Vamp, minha gente) e dizia “Essa menina vai acabar fazendo teatro!”. E, de repente, lá vinha a Bruna correndo, dando gritinhos e a Dan rindo, rindo e, atrás, eu arrastando uma perna, com o corpo todo torto e grunhindo, e Dona Denise dizia “A Tata vai acabar sendo atriz...”. Não, eu não ia. Eu sepre fui tímida. Fazer aquele tipo de coisa na frente de todo mundo? Num palco? NO WAY!
Por isso, quando o Bira sumiu, eu não senti necessidade de procurar outro curso, de continuar fazendo aquilo. Pra que? Eu jamais faria aquilo de verdade, né?
É. Até 2005, era. Em 2005, tudo mudou. Minha vida mudou. Por inteiro. E a Bruna, minha princesinha, virou estrela. Encantou-se. Princesa Estrela.
Tudo doía. Entre tudo, algumas coisas eram particularmente difíceis. Não ter pra quem contar a história da lagartixa que queria virar jacaré. Não ter com quem dançar thriller. E não ter com quem fingir que era hare khrisna. Eu podia ser bruxa, fada, princesa, corcunda, vampira... Ninguém mais ia achar graça. Ninguém mais ia rir e apertar os olhinhos em formato de vírgula. Eu tinha perdido uma irmã e a graça. Eu era uma pessoa sem graça.
E eu precisava de um lugar em que pudesse voltar a ser bruxa, princesa, macaco, monstro, corcunda... Menina de 10 anos malvada, secretária neurótica, mulata gostosona. Eu precisava encontrar uma forma de fingir ser outras coisas sem precer uma lunática. Eu precisava do teatro.
E, ali, no palco, eu tenho certeza de que a Bruna está me vendo. Eu vejo os olhinhos de vírgula ficando pequenos de tanto rir. Minha gratidão por todo o público é imensa, mas quando eu tô no palco, o que eu faço ali, é pra ela. É pra ouvir ela rir de novo.
(o que tb deve explicar pq eu gosto tanto de comédias e pq eu sempre acabo dando um tom cômico às minhas personagens)
5 comentários:
Oi, minha querida!
Que texto lindooooooo! Me fez chorar! Me emocionou mto! Vc é uma menina incrível, encantadora, especial! E o teatro é, definitivamente, o seu lugar! O nosso lugar! E o palco é um lugar mágico, nosso espaço, nosso cantinho, nossa vida!
Bjokaaas, linda!
Te adorooo do tamanho do infinitooo, hahaha!^^
A beleza doída é, para mim, sempre a mais bonita.
Adorei a simplicidade do texto e a densidade do conteúdo.
Nada como saber contar uma história,
Ai, minha contadora de histótias preferida!! Sua narrativa é densa, leve, encantadora e sublime!! Adoro como vc pega cada detakhe, cada fato e os mostra na sua magnífica importância.
Já estou com saudades!!
Beijokas!
E continue sempre a nos encantar com suas doces palavras.
^^
Talitão....você me fez chorar com esse texto...e sem querer me lembrei da risada dela...e ri e chorei ao mesmo tempo...e me lembrei de como ela era divertida...e deu saudade.... !!!
Simplesmente AMO quando você escreve.....não pare nunca....depois eu te pago um bolinho de queijo do V8 (pelos velhos tempos....rsrsrsrs)....
Tenho certeza de que ela sempre está lá, com uma cadeirinha que pegou pra ficar na frente das outras fileiras, porque ela é VIP e é a sua princesinha. E vou pedir pra ela assistir a minha peça também e deixarei que ela venha me abraçar antes de todo mundo. E é bom que ela venha me abraçar! Caso contrário, serei obrigado a vestir meu capacete de astronauta e achá-la em alguma constelação por aí.
Te adoro!
Bjão, meu abajour preferido!
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