quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O dia em que eu revi os smurfs



Quando eu era pequenina, bem pequenina, eu tinha verdadeira adoração pelos smurfs. Era meu desenho preferido, eu tinha bonequinhos... Não preciso nem dizer que eu achava que eles existiam de verdade.
Um belo dia, minha mãe (também conhecida como Sra. Melhor Mãe do Mundo), me levou pra assistir a uma peça dos smurfs. E lá estava eu vendo aquelas criaturinhas azuis. NA MINHA FRENTE! Pertinho. Tão real, tão de verdade... E a casa do Papai Smurf girava no palco e eu podia ver dentro. Era tão, mas tão mágico!
Do alto dos meus 3/4 anos, me encantei por completo. Passei a peça toda de boca e olhos arregalados, com aquele brilho no olhar que a gente tem só quando tem até 1 metro de altura e acorda na manhã do dia 25 de dezembro e encontra a árvore de Natal LOTADA de presentes reluzentes.

Eu achei que nunca mais fosse me sentir assim, que esse encantamento fosse parte da infância e que, passando de 1 metro (não muito, aliás), a gente perdesse essa capacidade de enxergar a mágica e arregalar olhos e boca o máximo possível, incontrolavelmente.

Sábado passado eu fui assistir ao Grupo Galpão, no Parque da Independência. A peça era "Till". Um lugar aberto, milhares de pessoas, lua quase cheia, clima ameno. Eu, sentada no chão, na lateral do palco, com vista privilegiada de peça e bastidores.
E, de repente, com menos de 20 minutos de peça, aconteceu. Meus olhos foram se arregalando, a boca idem. Logo, chegou o brilho de visão natalina. Aquilo era ainda melhor do que todos os presentes que o bom velhinho poderia me dar.
Era uma perfeição de texto, interpretação, vozes, efeitos, cenário, figurino, música, maquiagem... E luz, e cor, e som e fúria.
Me senti com 3 anos.
Me senti no dia 25 de dezembro.
Me senti revendo os smurfs.
"Lala-la-la-la-la, sing a happy song..."
Encantada.
O Grupo Galpão é pura mágica.
O mediador de um vislumbre mais alto.
E, ainda bem, eu estava preparada para receber a mensagem desse vislumbre.

O encanto mágico do teatro, num sentido mais amplo, está na capacidade inexaurível de apresentar-se aos olhos do público sem revelar seu segredo pessoal. O xamã que é o porta-voz do deus, o dançarino mascarado que afasta os demônios, o ator que traz a vida à obra do poeta - todos obedecem ao mesmo comando, que é a conjuração de uma outra realidade, mais verdadeira. Converter essa conjuração em "teatro" pressupõe duas coisas: a elevação do artista acima das leis que governam a vida cotidiana, sua transformação no mediador de um vislumbre mais alto, e a presença de espectadores preparados para receber a mensagem desse vislumbre.
(Margot Berthold)

2 comentários:

...Rafa.... disse...

Sei bem o que é essa sensaçao, sinceramente, é por causa dela que eu faço teatro!

Blower's Daughter disse...

Oi, querida!!!
Post lindo demais!!! Amei!!!
Eu mantenho em mim esse encantamento que a gente sente qdo é criança! É só por isso que eu comemoro o Natal (eu sou atéia). É pelo vislumbre, pela magia! Adoroooo assistir algo que me faça abrir a boca, arregalar os olhos e paralisar, encantada! É uma pena que eu não tenha visto o Grupo Galpão! Uma pena mesmo!!!
Mto lindo este texto final do seu post!!!^^
Bjokaaas, linda!
Te adoroooo!!!