Vc percebe que está ficando velha quando todos que fizeram parte da sua infância começam a “ir”...
Como Clementine, I’m getting old. E parece que estou mesmo desaparecendo... Pelo menos, o que eu fui, está; parte de mim, está. A parte que fazia bico depois de levar bronca por não saber matemática, depois aprendia a tocar Cai-cai Balão no teclado e aí ia até a cozinha, fazia sanduíches de queijo com goiabada, bisnaguinhas com requeijão, enchia um potinho de azeitonas e o copo amarelo (pq era a cor da equipe que eu torcia no programa do Bozo) com leite com groselha – tudo comprado no mercado Iaiá. Com tudo isso, eu sentava na sala e assistia todos os desenhos possíveis durante a tarde, enquanto minha mãe e meu pai trabalhavam e minhas irmãs pequeninas ainda estavam na escolinha. E ele – depois de brigar comigo por eu ser um fracasso em exatas desde sempre, de me ensinar teclado e me ajudar no lanche – sentava no sofá e fazia palavras cruzadas enquanto coçava o pé. E depois eu ia até o quarto dele, abria a segunda gaveta da mesinha de cabeceira e relia as cartas que eu escrevi pra ele do auge dos meus 5/ 6 anos, quando morava em Alta Floresta; cartas escritas nos papéis de cartas com cheirinho. E aí meus embrulhinhos chegavam e a gente dançava subindo no pé dele e gargalhava com a música das caveiras e via os slides da Disney. E era feliz.
É muito mais fácil ser feliz quando se tem 12 anos...
Mas alguém que eu amo muitomuitomuito deve estar, agora, dançando no pé dele. E eu aposto que é a música das caveiras que se amavam...
"... Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços, que rio
e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim."
Carlos Drummond de Andrade
Música da minha vida de hoje:
Walk in silence,
Don't walk away, in silence.
See the danger,
Always danger,
Endless talking,
Life rebuilding,
Don't walk away.
Um comentário:
Oi, Tally! Muito lindo seu blog e seus textos! Li esse post e, como estou meio melancólica hoje, concordo plenamente com você: é mais fácil ser feliz aos 12 anos! Ou aos 10, 09, 08... Tem dias que não adianta a gente se convencer que há coisas boas em todas as fases da vida, porque bate uma saudade! Hoje estou assim também...
Beijos!
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