segunda-feira, 4 de outubro de 2010

JULIET POWELL


Quando minha mãe estava grávida de 8 meses, meu pai levou-a ao circo. Ela sempre foi apaixonada pelo circo. Quando criança, sonhava em ser mágica. Já jovem, sonhava em se apaixonar por um belo trapezista e fugir com o circo. Mas se apaixonou por um filho de fazendeiros que, pelo menos, a levava ao circo. E, nesta última vez, meu pai se apaixonou. E fugiu com o circo. Não pelo trapezista, mas pela mulher barbada. Eu acho que é aí, nesse ponto, que começou minha trajetória.

Eu cresci ouvindo essa história. E sendo amedrontada pelas coisas mais absurdas. As crianças têm medo do bicho-papão; eu chorava imaginando que, de dentro do armário, sairia o bicho-papai. Para me fazer dormir, minha mãe não cantava a música do "Boi da Cara Preta" e, sim, do "Homem que faz Careta". Meu mundo era eu e minha mãe e o medo dos homens.

Na escola eu fui obrigada a conviver com meninos. Eu tentava ficar longe, pq eles eram tão sujos e nojentos e logo me machucariam, já que, na minha cabeça, era só o que eles sabiam fazer. Mas aquelas professoras teimavam em fazer grupos com meninos e meninas. E isso me deixava nervosa. Inicialmente, eu chorava. Logo, começava a gritar. Chamaram minha mãe na escola, contaram dos ataques histéricos e ela me prometeu que encontraria uma forma de me proteger. Enquanto isso, eu usava o que tinha para me defender: lápis com pontas afiadas, tesouras, jatos de cola nos cabelos deles... Alguns cortes e muito sangue e choro depois, fui convidada a me retirar da escola. Minha sorte foi que, nessa mesma semana, minha mãe havia conseguido uma vaga para mim em um internato. Só para meninas!

Foram anos incríveis: brincadeiras na escola, amigas fantásticas, finais de semana com a mamãe... Foi nessa época, também, que descobri o cinema e me apaixonei, jurando que aquela seria a única paixão da minha vida.

Só que tudo tem um fim, até mesmo as coisas boas. E eu tive que sair do internato. Apaixonada por cinema, resolvi fazer faculdade de Cinema. Minha vontade era trabalhar com edição depois de formada. Mas os problemas não demoraram a aparecer... A faculdade tinha professores, alunos, funcionários... Todos homens! E eu tinha raiva, medo, nojo. Matava aulas pra chorar no banheiro. Só naquele momento eu percebi que algo não estava certo, que eu precisaria aprender a conversar com homens, pois eles estavam em todos os lugares.

Tranquei o curso. Eu sabia que o avanço seria lento e trabalhoso. Logo depois, decidi sair da casa da minha mãe e dividir um apartamento com uma amiga de tempos de internato, a Linda. Eu tinha essa noção de que muito do que eu era, era influência da minha mãe e que a distância dela me faria bem. Por maior que seja meu amor por ela, a gente precisa cortar de verdade o cordão umbilical para crescer...

Nessa época, comecei a fazer terapia. A Dra. Riggs era uma mulher incrível e me fez descobrir tantas coisas e entender melhor muitas outras.

Depois de um ano, consegui voltar à faculdade, sem precisar correr e me esconder no banheiro cada vez que um homem se aproximava. Com o tempo, conseguia até conversar uma ou outra coisa com os rapazes da minha turma.

O que eu ainda não entendia era a necessidade de construir um relacionamente com um cara. Eu via a Linda sofrendo por causa do namorado que a traía, chorando pela casa. E todas essas personagens de filmes sofrendo tanto também... Claro, quando tudo estava bem no namoro, Linda vivia radiante, como se o mundo fosse perfeito e tudo fizesse sentido; mas, valeria à pena? E eu ainda tinha nojo de todo esse contato físico, essa troca de salivas e corpos se tocando... Mas os beijos no cinema eram tão emocionantes, tão bonitos... E me deixavam tão feliz... E se...? Bom, eu tinha vontade de abraços, confesso. De longos e apertados abraços. E de mãos dadas. Era algo tão sublime... uma mão segurando outra, dando apoio, suporte, carinho; tudo com um gesto tão simples.

E, então, a Linda terminou o namoro. De vez. E resolveu que era hora de nós duas procurarmos diversão. Eu entendi que ela me incluísse na procura, a necessidade de ter uma amiga por perto. E diversão... Bom, nada de errado em irmos ao cinema ou ao teatro, certo? Errado! A ideia de diversão dela era bem diferente da minha.

E, então, começamos a ir a festas. A muitas festas. Um ambiente assustador, muito barulho, pouca luz... Até que, um dia, ela me convenceu a beber um gole de cerveja. Que se transformou em uma garrafa. E logo eu estava dançando a Macarena com um grupo de pessoas muito animadas. E então, lá veio a Linda dizendo "Juliet, querida, que tal uma tequila?" e, bom, que mal havia em um pouco... ehr, meia garrafa... quer dizer, quase uma garrafa inteira de tequila? Lembro de algumas danças um pouco exageradas. Algumas incluíam uma coisa semelhante a se esfregar em rapazes, mas eram só danças, né? E eram divertidas. E não me pergunte como eu fui parar em cima daquela mesa fazendo uma singela interpretação de "Like a Virgin", enquanto todas aquelas pessoas gritavam meu nome. Aliás, nem me pergunte como eu sabia uma dança que incluía movimentos tão peculiares.

Enfim, essa histórica festa foi tão boa que dormi no sofá mesmo (e, não, até hoje não sei de quem era aquela casa). E acordei. Ao lado de Tom, um simpático rapaz de cabelos muito pretos e olhos muito azuis, que me abraçava de uma forma muito agradável. E John, que tinha olhos muito pretos e cabelos muito azuis (e eu juro que isso não foi efeito da bebida), e segurava minha mão. Linda me esperava para irmos embora. Ela e um cara muito magro, de óculos e nariz grande, que se tornaria seu namorado. Tom e John me disseram que eu era "uma garota muito bacana" na hora da despedida e ambos me abraçaram de uma forma tão gostosa... E, então, me beijaram. Com as línguas e tudo. E eu gostei.

Nunca mais vi o John. Vi muito o Tom durante alguns dias (de muitos abraços, beijos, línguas... e muito mais!) e até hoje somos amigos. Mas sou eternamente grata a ambos, pq eles me curaram.

Na semana seguinte, saindo da terapia, encontrei o marido da Dra. Riggs, o Sam. Ele deve ter a idade dela, um cara mais velho, mas ainda muito bonito. Almoçamos juntos naquele dia, ele me contou da falência do casamento, do quanto era infeliz, das amantes e do quanto ele queria se apaixonar de verdade. E, então, me disse que tinha um apartamento onde se encontrava com uma das amantes e me convidou para conhecê-lo. Eu fui e, bem, ele conseguiu se apaixonar de verdade...

Gosto muito do Sam. Ele é um cara divertido, uma boa companhia. E ele me fez entender a importância de uma relação homem/mulher. E a importância do corpo como um todo nessa relação. Graças ao Sam hoje eu mantenho relações saudáveis (e deliciosas) com o Tom. E o Tim, o Edward, o George e o Pablo. O Sam sempre fala em casamento. Eu sou a favor de deixar as coisas acontecerem. Estou feliz assim. E sou tão nova... E só de pensar em me afastar de todos esses amigos, por ciúme do Sam... Não, eu quero exatamente como está.

Ah, e eu parei a terapia.

3 comentários:

Roberto HM disse...

Sim, eu ainda tenho medo da Juliet, muito medo. Enorme.

Não quero que a Juliet dê um tiro na minha bunda. O que fazeeeeeeeermacarena?

Roberto HM disse...

A Juliet é brava.

Nem Freud cura a histeria dela.

Jesuis, livrai-me da Juliet. Amém.

Blower's Daughter disse...

Ameeei o texto, haha! Mto bom!!!^^