- E certa noite, depois do jantar, eu falei pra ele: "Primo Sig, já que tem fama de ser tão inteligente, então me diga o que é o amor". Ele olhou para mim com aquele seu olhar meio cretino e falou: "Flo, não existe definição de amor". O que acha disso?
- Bem - diz ele, cautelosamente -, existe uma definição de amor?
Vovó Flo dá uma palmada no joelho e diz:
- Claro que existe, e eu disse isso a ele. Falei: "O amor é sacrifício... é só o que é, sacrifício".
- Mas - começa ele -, o sacrifício não tem que ser mútuo? Da parte das duas pessoas envolvidas?
- Bobagem! Quando a gente começa a pensar desse jeito, aí é que fica encrencada. Sacrifício é o que é... só isso, sacrifício. Significa desistir de alguma coisa por outra pessoa. Não tem que ser toma lá dá cá, sabe. Na verdade, quando a gente quer que seja toma lá dá cá, fica encrencada de novo. Sacrifício é desistir de uma coisa que a gente gosta pela pessoa que a gente ama. É uma coisa que a gente faz, não importa o que a outra pessoa faça. Sacrifício quer dizer pessoal. Quer dizer individual. Se a gente desistir de uma coisa que quer, e depois esperar que a outra pessoa desista de uma coisa que ela quer, então não é sacrifício. É uma permuta, e não vai funcionar. É bem simples.
(Eu encontro sabedoria em qualquer livro. Até num chamado "Sombras da Fortuna", que, quando a Li viu a capa disse "Parece aqueles que a gente compra em banca... Sabrina, Julia...".)