quarta-feira, 21 de abril de 2010

... e vai rolar um adultério!

Uma vez, no dia seguinte à última apresentação de "Adultérios", o João me perguntou qual era a lição que eu tirava daquele processo. Explico: anteriormente, eu havia falado que agregava um conceito a uma lista de "coisas necessárias para se fazer teatro" com cada peça. Das três primeiras experiências, tirei TALENTO, DEDICAÇÃO e COMUNHÃO. E a minha resposta rimava com os dois últimos conceitos.

"Adultérios". Processo confuso... Tudo parecia tão perfeito: a professora que a gente queria e, finalmente, Woody Allen. Um texto com o qual eu me sentiria realizada. E segura. Eu entendo o humor de Woody. E gosto dele. Portanto, conseguiria passá-lo, vivê-lo.

E aí veio a bomba: Juliet Powell. A amante que só aparece no final da cena. A menina (de novo). O papel que eu não queria (mais uma vez). Uma personagem que - supostamente - não me permitiria criar.

Imatura e nada profissional, chorei. Reclamei da injustiça. E, motivada pela raiva, disse pra mim mesma "Eu vou fazer tão, mas tão bem, que vão falar de mim". Motivada pelo sentimento de "duvidaram da minha capacidade", criei como nunca. Texto. Um texto que não conseguiram diferenciar do de Woody Allen (e esse é o melhor elogio que eu poderia receber). E Juliet; uma Juliet com uma história, um passado, em 3 fases, 3 figurinos, 3 cabelos, 3 maquiagens. E extrapolei o limite dela e criei hipóteses e sugestões de cenário, de luz, do que eu podia. E, no final, o resultado, para mim, foi excepcional. E a palavrinha poderia, então, ser superação. Mas não é.

É que existe a coisa do grupo e o conceito que marca o semestre não pode ser só meu, tem que ser do grupo. E aquele grupo era diferente, como também foram os anteriores. Era um diferente diferente. Tinham lá as pessoas novas, que sempre resultam em uma mudança de estrutura. E essas estavam ali para a primeira montagem: pessoas que nunca tinham estado em um palco, que não sabiam o que se fazia antes de ir pro palco (olha só: não é só ensaiar, juro.), que sequer sabiam o que era uma rotunda (piada interna). E aquele grupo foi convivendo ao longo do semestre, com desentendimentos que não chegavam a desavenças, com questionamentos e discordâncias reprimidos. E, às vezes, sem a menor vontade de conviver...

Na semana de estreia, alguém - que provavelmente não tinha o que fazer - inicia o caos. E surgem brigas, tentativas de briga, agressões injustas e uma tensão, desnecessária naquele momento.

E o clima, já tenso por ser estreia, ficou estranho. Dava saudade da coisa gostosa da peça anterior, de uma certa forma. Ainda era gostoso, mas não igual. Um pouco desconfortável.

E aí começou em uma parte: uma turminha já mais unida dançando Xuxa e brincando de dançarina do Faustão. Quando a gente viu, era o último dia e a gente tava todo mundo junto, dançando insanamente o Funk do Adultério. E Grace Kelly. E a gente cantava, dançava, pulava e ria. E se divertia. E, logo depois, fizemos as melhores sessões. As mais leves. E eu descobria que a gente pode ter talento, pode se dedicar muito e pode ter uma comunhão tremenda no grupo, mas, se a gente não se diverte, pra que estar ali?

Diversão, meus caros. A palavra é DIVERSÃO.

4 comentários:

Milene Mondek disse...

Diversão, com certeza. Se não for para se divertido, por que fazer???

Estou tentando levar este lema para minha vida. Mas é meio difícil quando parece que o mundo todo trabalha contra isto.

Mas pelo jeito apesar de todo o estresse você econtrou a diversão de uma maneira ou outra!

KImdaMagna disse...

...e rolou...
a verdadeira arte é aquela que manifestamos, quando vivemos a vida em diversão. A academia desta arte é a própria vida.

xaxuaxo

Sentir disse...

Que texto gostoso..sincero.

...Rafa.... disse...

Adulterios tem muita historia pra contar.Acho impossivel encontrar alguem que nao cresceu um bocado com a peça.
Saudades desse tempo
Saudades de ti
beijos