sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

WonderDory - Parte 2


A porta se abriu.

- Dory?

Não, a Mestra não. Era o pior dia da sua vida e tudo que ela não queria era a Mestra em seu quarto. Fingiu dormir.

- Dory? Me responda.

Era impossível enganá-la.

- Sim, Diana.
- Você não apareceu para o jantar.
- Eu não estou com fome.
- Nós temos que seguir regras. Temos que ter disciplina. 22 anos na ilha e você não aprendeu? Você sempre foi minha melhor pupila; o que está acontecendo?

Ela jamais entenderia o que estava acontecendo. Não adiantava contar. Era fria e calculista e não daria importância alguma.

- Eu só não estou com fome.
- A fome não importa. Com fome ou não você sempre soube que teria que estar na sala de jantar às 19h. Pontualmente.
- Eu sei.
- E que voz é essa? - ela estava alterada. Acendeu a luz. Na hora em que seus olhos verdes repletos de lágrimas encontraram os olhos azuis da Mestra, soube que estava encrencada. Lembrou de uma poesia, lida há muitos anos, sobre os fantasmas terem olhos verdes e serem inofensivos e só atravessarem paredes, enquanto os monstros tinham olhos azuis e deviam ser temidos, pois eles, sim, eram maldosos.
- Dory, você está chorando?
- Diana, eu...
- Chorando? Você está doente? Não admito qualquer outra explicação!
- Eu... eu... - indefesa diante dela. Dory podia liderar todas as outras meninas na ausência da Mestra, mas, diante dela, se sentia sempre como no dia em que, com apenas dois anos, chegara à ilha.
- Vamos. Fale.
- A raposa.
- A raposa que você criava?
- Isso. Ela... Ela... Ela morreu hoje.
- Sim. Essa é a ordem natural. Todo ser vivo nasce, cresce e morre.

Ela não entendia. Como previsto.

- Você está chorando por causa da raposa? Eu sabia! Jamais deveria ter permitido que você trouxesse ela pra cá. Bichos de estimação só causam problemas.
- Mestra...
- Quando teus pais te trouxeram pra cá, depois do acidente dos brinquedos se desintegrando, quando eles perceberam que você tinha dons especiais e precisava treiná-los, eu lhes disse que esse treinamento seria longo e doloroso, que eu te faria passar pelas maiores provações e sofrimentos. Eles aceitaram, pois sabiam que isso te faria uma pessoa melhor.

Não, eles aceitaram pois assim poderiam exibi-la. Tudo que eles queriam era ter a melhor filha, era impressionar seus amigos. Já estava cansada das festas de final de ano, única ocasião em que podia deixar a ilha e ir pra casa. Eram todas iguais: os pais sempre a exibiam. "Essa é a Dory, nossa filha, ela é a mais inteligente, a melhor". Ela era? Sempre tinha se destacado em todos os treinamentos, mas isso a tornava melhor?

- E eu cumpri minha promessa. Te fiz passar frio, fome, medo. Exigi o máximo de você. Você acha que eu me senti bem quando te larguei com apenas 8 anos de idade para passar a noite na floresta sozinha? Não, mas era necessário, era parte do treinamento. Eu te fiz passar pelo pior e nunca te vi chorar; eu provoquei as piores dores em você e nunca te vi chorar.

Piores dores? O que ela entendia de piores dores? Quando Beatrix quebrara sua perna durante uma luta de treino, quando Scarlet a esfaqueara... Nada tinha doído tanto quanto ver sua raposa fechando os olhos para sempre.

- E agora você me desafia, não aparece pra jantar e fica aqui chorando por causa de uma raposa? É muita ingratidão. Eu te ensinei tudo que você sabe, te fiz a melhor lutadora, te ensinei a controlar seus poderes...
- Mas nunca me ensinou a controlar meus sentimentos.
- O que? Sentimentos são para pessoas fracas.
- Ela era minha amiga. Minha única amiga.
- Você não precisa de amigos, você precisa de poder, de força, de bravura.
- Eu só me sentia forte e poderosa perto dela.
- Chega! Eu não aguento mais ouvir tanta besteira. Vou avisar a Beatrix que ela assumirá suas turmas de luta por tempo indeterminado. Quero você longe das novatas por um tempo. E vamos ter um treinamento intensivo, só eu e você, pra que eu possa tirar essas ideias absurdas da sua cabeça.

Saiu, batendo a porta.

E, naquele momento, todo o sentimento represado durante anos se libertara. A dor pela separação dos pais, a solidão, a sensação de que estava perdendo sua vida na ilha, a exibição dos pais, a ausência de palavras de carinho deles, os anos e anos de destaque na ilha e a ausência de reconhecimento por parte da Mestra... a perda da única amiga que tivera, da única criatura que despertara seu amor...

O choro, até então contido, perdeu o controle. E ela chorou como uma criança, durante toda a noite. Nunca experimentara tamanha dor.

***

Não sabia de onde viera a coragem. Mas desconfiava... A raposa não lhe ensinara que amar alguém profundamente nos dá força, mas ser profundamente amado por alguém nos dá coragem?

Bateu na porta.

- Entre, Dory.

Ela sabia pela batida na porta que era ela. Desde sempre. Entrou devagar no gabinete da Mestra. Sempre ficara espantada com o lugar, com o passado de glorias daquela que tinha sido sua treinadora, o passado estampado na parede, em quadros, recortes de revistas e jornais.

- Mestra, eu vou deixar a ilha.
- Eu já sabia.
- Você...? Como?
- Desde o momento em que eu te vi correndo pelos jardins com a raposa pela primeira vez, eu já sabia. Eu percebi que eu não conseguiria te privar do sofrimento.

Silêncio.

As lágrimas começavam a lotar os olhinhos da moça.

- Dory, você sempre foi a melhor. Mas eu sempre soube que isso aqui não seria o bastante pra você. Eu desenvolvi um carinho diferente por você. Eu posso ser muito dura, até mesmo agressiva contigo, mas faço tudo por saber que você é minha preferida. Se às vezes eu te trato pior do que as outras, é porque eu sei que, no fundo, eu nunca vou sentir por elas o que eu sinto por você. Eu sinto carinho de mãe por você.
- Obrigada, Diana.
- Eu te ensinei a lidar com o sofrimento físico, pois achei que conseguiria te poupar do sofrimento emocional. Como eu fui boba... As mães se enganam muito. Você é toda sentimento. Inteirinha. Da cabeça aos pés. Eu jamais conseguiria te poupar da dor. Jamais.

Silêncio.

Depois de ouvir tudo aquilo, já não sentia a mesma vontade de ir embora que sentia antes.

- O mundo lá fora te espera, querida. E, nesse exato momento, eu me sinto a pior treinadora do mundo, pois eu não soube te ensinar a lidar com a dor de perder alguém, de se sentir sozinha, incapaz, fraca,de não ser a melhor, de fracassar, de não ser correspondida quando se ama alguém, de lidar com a distância, com a injustiça, com a ingratidão. Tanta coisa que eu poderia ter te ensinado... Mas talvez eu mesma não soubesse como lidar com essas coisas...
- Diana, você foi a melhor Mestra que eu poderia ter. Mas, talvez, essas lições eu tenha que aprender sozinha.
- Talvez... Quem sabe? Como você está lidando com a morte de sua amiga?
- Ainda dói muito... Desconfio que nunca deixe de doer.
- Me perdoe por ontem. Fui insensível. Eu sei que você sempre me achou fria e sem sentimentos. Mas, ontem, eu fraquejei. Minha reação exagerada foi justamente causada por um sentimento, por um enorme sentimento. Por medo de te perder. É extremamente egoísta, eu sei, mas eu queria ser sua única amiga.
- Você é minha única Mestra.
- Acho que isso está bom... Me promete que viverá tudo que tiver pra viver, tudo de que eu te privei aqui?
- Eu prometo.
- E não mostre seus poderes. As pessoas não estão preparadas.
- Certo.
- E cuidado com rapazes. Há uma razão para só admitirmos moças na ilha.
- Eu sei.
- E faça amigos. Muitos. E se entregue a eles, faça tudo por eles, demonstre todo o seu amor. Você só vai viver uma vez.
- Eu o farei.
- E... Bom... Eu sempre estarei aqui. Quando precisar de mim, já sabe onde me encontrar. E você sempre será bem-vinda aqui.
- Obrigada, Mestra. Por tudo. Sempre.
- Eu que tenho que te agradecer. Você me fez ver coisas que eu não via há tempos. Rever conceitos... Agora vá! Não prolongue as despedidas. Saia cedo, eu comunico às meninas.
- Até mais, Diana!
- Adeus, WonderDory!
- Que?
- Você entenderá... Na hora certa...

Quando ela fechou a porta e sentiu o ar gélido da ilha, se lembrou das palavras. Adeus?  Mas, ela voltaria... Ou ela já sabia que não? E do que a Mestra lhe chamou? Um dia ela entenderia?

Pensou em voltar, mas lembrou que os olhos da Mestra estavam brilhando quando ela saíra. Jamais seria perdoada por vê-la chorar.

Um comentário:

Anônimo disse...

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