quarta-feira, 18 de abril de 2012

Oh, l'amour 3




Ela tinha 11 anos; ele, 10. Todos os meninos diziam que ela era horrorosa, a menina mais feia dali. E também a mais chata e boba. E fugiam dela. Ele, não. Talvez por ser o mais novo da turma, talvez por ser o mais novo na turma. Ele era amigo dela. E ela sempre dizia que odiava todos os meninos, menos ele, que era tão legal e tão bonitinho e, se não fosse tão pequenininho, seria o namorado dela.

Um ano depois, ela tinha 12. Ele, 10; quase 11. E, no meio da festa, apareceu num canto, chorando. E se recusou a falar comigo, a me contar o problema. Logo ele, que sempre desabafava comigo, sempre me pedia pra fazer com ele as lições que a professora pedia pra eles fazerem na companhia do pai, da mãe ou de alguém da família. Logo ele, pra quem eu era família. Mal sabia eu que, naquele momento, eu não era família; eu era outra dessas criaturas maléficas, dessas tais meninas. E ele se abriu com outro menino, um dos mais velhos e sábios, já com 15 anos. E o confidente me contou depois: ele estava apaixonado. Por ela, que era a mais feia dali no passado e que, hoje, era uma das mais disputadas.

Menos de um mês depois, em plena festa de Carnaval, ele chorava de novo. Um menino de 13 anos estava gostando dela; era óbvio que com seus míseros 11 anos - que ele acabara de completar - ele perderia a disputa. Disse que tudo aquilo ia passar, mesmo sabendo que não adiantava.

E aí ela, preocupada com o amigo e já sabendo da paixão dele, veio me perguntar se ele tinha chorado por causa dela. Disse que não queria ter que se afastar dele, que ele era legal. E que também não gostava do cara de 13, que era muito bobo. Que gostava de outro, que morava em outra cidade. E que, mesmo assim, ela tinha decidido que só ficaria com um menino quando tivesse 15 anos, que era muito nova. E que conversaria com ele depois do Carnaval, pra resolver tudo. Tão menina e tão madura...

Ele? De cabeça baixa, dava tchau. E eu pensava em tudo que não adiantava dizer pra ele, pois ele ia amar só ela com todas as forças pra todo o sempre. Como todas as outras que seriam as únicas que ele ia amar com todas as forças pra todo o sempre...

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