sábado, 9 de novembro de 2013

"Pra que a gente faz teatro?"



- A gente estava comentando que nas suas peças sempre tem personagem sem nome...
- E sempre tem uma Ela. Nas adultas.
- É. Verdade!
- Sempre tem uma personagem pronome...
- Tem algum motivo pra isso?
- Não sei... Na peça que eu tô escrevendo agora também tem uma Ela...
- Sua terceira Ela...
- É. Posso te contar um segredo? As Elas... Bom, eu escrevo as Elas pra mim. São sempre as personagens que eu gostaria de fazer.

Assim, há alguns dias, eu confessei meu segredo pra uma certa flor. Mais tarde, no mesmo dia, eu contei pra ela o significado do meu nome...

- Então, é como se você nem tivesse nome...
- Mais ou menos isso.
- Você é a menina.
- Eu sou um substantivo...
- Ou um pronome... A menina... Ela... Isso explicaria suas personagens chamadas Ela.

Sim, explicaria. Se procede, eu não sei. Sei que tudo isso, pra mim, me pareceu ter muito a ver com um outro diálogo, que aconteceu 5 dias depois. No fim de uma aula, enquanto uma aluna registrava uma atividade e eu tentava fazê-la entender o quanto o exercício a ajudaria, surgiu o questionamento: "Pra que a gente faz teatro?". E eu quis ouvir dela, saber o que ela responderia, primeiro.

"Pra poder ser outras pessoas, viver outras vidas."

Eu disse que muita gente responderia isso. E ela quis saber o que eu achava. Em segundos, lembrei dos outros diálogos. Das peças. Das Elas. E de tudo que eu vivi no palco até agora: Rosalynda, Emília Espectadora, Carmen, Poetisa, Pombinha, Noêmia, Lisístrata, Juliet, Lindalva, Zabé, Cindy, Sílvia, Emília... E percebi que eu jamais responderia a mesma coisa.

"Eu acho que a gente faz teatro pra poder ser a gente mesmo. O mundo, as pessoas, a sociedade... tudo exige que a gente seja um personagem, pra atender padrões e expectativas. Talvez só no palco a gente possa abandonar as personagens."

E, vendo o brilho nos olhos dela, finalizei:

"A gente faz teatro pra poder ser a gente mesmo, pra viver de verdade a nossa vida."

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