segunda-feira, 3 de junho de 2013

A saudade ainda lateja...



Quando tudo aconteceu, meu maior medo era esquecer da Bruna. E se eu acordasse um dia e não lembrasse do rosto dela, da voz dela? Num rompante de uma loucura idiota, não só eu, mas todos nós, nos armamos de um arsenal de fotos, vídeos, gravações da voz dela. E esquecemos que nenhuma foto, nenhum vídeo, nenhuma gravação preservaria o mais importante, a única coisa que não poderia ser esquecida: o jeitinho da Bru. O cheiro dela. A textura do cabelo dela.

O medo persistiu até o dia em que eu senti o cheiro da minha vó na rua. Minha vó já se foi há um bom tempo e, não sei como, ela sempre continuou na minha vida. De um jeito diferente, claro. Ela já não me deixava brincar de comidinha na cozinha dela, mas era com ela que eu falava quase toda noite. Antes de dormir, era pra ela que eu contava o que me assustava, o que me perturbava, o que me confundia. Era pra ela que eu pedia ajuda. Minha avó era, mais ou menos, o meu deus. Na primeira noite sem a Bruna, eu não pedi a Deus que cuidasse dela, pedi pra minha vó fazer o bife maravilhoso dela e deixar a Bru brincar na cozinha dela. Pq a Bru teve minha vó por muito pouco tempo e não teve tempo de aproveitar coisas que, pra mim, a uma certa idade, eram o paraíso. Pedi pra minha vó proteger a Bru como ela me protegia e pra, até, catar piolho da Bru e, quando pegasse um grande (como se a Bruna tivesse piolhos....), dizer "Esse comeu Nescau!".

E, de repente, me veio o cheiro da minha vó na rua. E, com ele, veio a risada dela, a textura da pele dela, o ritmo da respiração dela enquanto dormia, a voz dela e uma enxurrada de sensações. E eu vi que tudo isso, assim como tudo relacionado à Bru, é meu e, nunca, ninguém vai me tirar.

Agora eu sinto o cheiro das duas, ouço a voz das duas e sinto as duas tão perto de mim que, às vezes, é como se elas estivessem dentro de mim. E talvez estejam, de alguma forma, transportadas por esse amor absurdo que sinto por ambas. À noite, eu continuo não pedindo nada a Deus. Mas peço sempre que elas continuem juntas, que uma cuide da outra, todas aquelas coisas que eu peço pra minha vó... E peço pra Bru ensinar a vó a dançar gafieira e thriller, a jogar STOP e pra Bru contar pra vó a minha versão da história da lagartixa que queria virar jacaré.

E, principalmente, peço que as duas estejam lá - seja lá onde for "lá" - quando eu chegar.

(texto de 08 de novembro de 2005... saudade de sempre...)

Um comentário:

Bela disse...

Lindo Tally Mendonça...
Amo vc....Bela *-*