quarta-feira, 26 de junho de 2013

Eu li num livro 31


Livro: Fahrenheit 451

Autor: Ray Bradbury

Dose de sabedoria:

* Não importa o que você faça, dizia ele, desde que você transforme alguma coisa, do jeito que era antes de você tocá-la, em algo que é como você depois que suas mãos passaram por ele.

sábado, 22 de junho de 2013

Então, agora é hora de mudar?

E, de repente, todo mundo só fala nisso: o Brasil tem que mudar.

E eu me pergunto: só agora ele tem que mudar?

E eu me pergunto: é o Brasil que tem que mudar? Ou é o brasileiro? Ou é o brasileiro que abaixa a cabeça e cala a boca diante de injustiça e impunidade há tanto tempo? Ou é o brasileiro que compra leite, chega em casa, vê que está estragado e joga fora e não volta ao mercado para trocar nem reclama com o fabricante, sendo que ele pagou por isso? Ou é o brasileiro que recebe 20 centavos a menos no troco - pq não tem moeda - e aceita? Ou é o brasileiro que vê todo santo dia injustiça e fecha os olhos (quando não é com ele) ou engole em seco (quando é com ele)? Ou é o brasileiro que vê uma criança ser maltratada e acha feio, mas não faz nada pq não conhece nem a criança, nem quem tá maltratando ela?

Ok, alguém pode dizer que são coisas menores, que agora estamos falando de algo muito maior. Mas o maior é feito de zilhões de pequeninos. Como a gente enfrenta quem faz o grande quando vem permitindo o pequeno - e até concordando com ele - por anos, décadas, séculos?

Não estou questionando a validade ou não de todas essas manifestações de agora. Estou questionando o antes. Estou questionando pq só agora e não sempre. Pq, agora, exigir uma mudança que não estava sendo estruturada nesses anos todos, justamente por nunca ter sido exigida antes. Aos poucos e sempre, como deveria ser.

Estou questionando - MUITO - quantos dos manifestantes, ao receber 10 reais a mais no troco, não deixam de devolver e embolsam essa grana, afinal, "o problema é de quem errou". Estou questionando - MUITO - quantas dessas pessoas vestindo branco e inundando as redes sociais de links e frases de mudança e longos desabafos verborrágicos, quantos desses que estão empreendendo muito tempo nessa "luta", quantos tiram 1 hora por semana pra jogar gamão com velhinhos abandonados num asilo, brincar com crianças carentes, recolher doações pros necessitados, ensinar algo importante pra crianças sem expectativa de evolução limitadas por suas condições sociais, adultos marginalizados por uma História repleta de absurdos ou pessoas com qualquer tipo de problema e/ou limitação. Quantos estão exigindo a mudança e quantos estão fazendo a mudança? Quantos estão brigando pra que políticos e governantes transformem o mundo em um lugar melhor e quantos estão construindo um mundo melhor?

E isso é só o que eu penso. Só o que eu me questiono, enquanto busco formas de transformar o mundo em um lugar melhor. E eu encontrei minha forma: transformar crianças e adolescentes em adultos melhores, através do teatro e da literatura. E do amor, claro, pq "love will be my strongest weapon", como na música. E a minha forma não é melhor nem pior do que a de quem protesta. É diferente e só. Pq não há certo e não há errado.

E eu penso que a gente precisa mudar.

E não é agora, é sempre.

E não é um ou outro. É todo mundo.

E não é só quando tá junto com mais 100 mil pessoas na rua. É todo santo dia, sozinho, cada um no seu caminho, do seu jeito. Cada um como pode e como consegue.

O Brasil só muda se o brasileiro mudar.

Então, muda! Muda que, quando a gente muda, o mundo muda com a gente...

A hora de mudar é mesmo agora. Mas não é hoje... É sempre!

terça-feira, 18 de junho de 2013

O céu

No céu
Não existe pastel
Não se usa pincel
E ninguém é pinel.

No céu
Tudo é de mel
E também de papel
Mas não existe hotel.

Se você vai para o beleléu
Não verá a torre Eiffel
E nem ganhará um troféu
Mas, quem sabe, existe o Céu.

("faz uma poesia em que tudo termine em EL?"...taí!)

terça-feira, 11 de junho de 2013

Falência Didática

A educação no Brasil passa por uma situação contraditória: embora seja direito de todos, é privilégio de poucos. Os processos educacionais estão deteriorados, fazendo com que o país torne-se conhecido como a República da Ignorância.

O contraste é muito grande. Dem um lado, tem-se impeachment e CPIs, retratos da modernidade política só encontrada em países de Primeiro Mundo. De outro, uma enormidade de analfabetos e a pior educação básica do mundo. Recentemente, até a qualidade do nível superior tem sido questionada, através do Provão.

As causas de tal conjuntura caótica são muitas e diversas. No período ditatorial observou-se o início da falência no ensino. E o dinheiro remetido a essa área era muito pouco, fazendo com que os prédios escolares estivessem sempre em péssimas condições e os professores, mal remunerados.

Assim sendo, o índice de analfabetismo gradativamente tornou-se mais alto. Os alunos estão abandonando as escolas devido às altas taxas de repetência. Observa-se ainda um profundo descaso com a língua: personalidades dão maus exemplos e placas publicitárias ou de trânsito são grafadas erroneamente.

Deve ser uma constante na vida do brasileiro a consciência de que o primeiro passo para ingressar na lista dos países desenvolvidos é a maior valorização da educação. Qualquer nação que queira representar papel importante na aldeia global terá que contar com pessoas sábias em seus domínios.

(3º colegial, tema - Brasil: república da ignorância?, redação nota 8)

sexta-feira, 7 de junho de 2013

WonderDory - Parte 1



A menina tremia. De frio e de medo. Estava sozinha, no meio da floresta. Era a noite mais escura do ano.

Qual era a lembrança mais antiga que tinha? Não lembrava de nada antes da ilha. Nada antes dela. Gostava muito dela, da Mestra. Achava que era o mais perto de uma mãe que ela tinha. Mas, ao mesmo tempo, como tinha medo dela. O azul forte de seus olhos, o negro de seu cabelo, toda a imagem de superioridade. A menina tinha só 8 anos, mas já sentia que nunca temeria alguém como temia a Mestra.

E agora, aquilo. A noite na floresta. "Se você voltar para cá inteira amanhã, se eu perceber que você não chorou, e não tente me enganar, você continuará o treinamento. Caso contrário, volta para a casa dos seus pais amanhã mesmo".

Não sabia se queria continuar o treinamento, mas tinha certeza de que não queria voltar pra casa dos pais. Eles não ligavam para ela mesmo.

O medo era muito grande, mas ela não podia chorar. Ela saberia. Fechou os olhos, com força, para imaginar que estava em um lugar seguro, que era dia e que o Sol brilhava radiante. Mas sentia o frio e lembrava do escuro, das árvores altas, dos barulhos estranhos.

E ouviu o barulho. Movimentos. E se fosse um bicho? E se fosse um bicho grande e maldoso? No desespero que estava, rezaria, se tivessem lhe ensinado como, mas não era algo que se ensinava na ilha.

Tentou pensar no que a Mestra faria em seu lugar... Assumir posição de defesa, não mostrar medo. Levantou, se posicionou e mentalizou "Eu não tô com medo! Eu não tô com medo! Eu não tô com medo!".

A raposa apareceu na frente da menina na mesma hora em que as nuvens se dissiparam e a Lua, cheia e forte, iluminou a floresta.

"Raposa, raposa, raposa...", por mais que pensasse, não lembrava de nada, nenhuma dica da Mestra de como poderia se comportar. E, por isso mesmo, adotou o comportamento mais infantilmente sábio que poderia adotar.

- Oi, bichinho bonitinho!

A raposa encarava a criança, que se esforçava para ter segurança nas palavras.

A menina abaixou, devagar. A raposa se aproximou, olhou com docilidade, abriu a boca e...

- Que música é essa?

A menina não conseguiu disfarçar o espanto:

- Você fala??
- Claro! Me fale da música.
- Bichos não falam.
- Então, eu não devo ser um bicho. A música?

A raposa era impaciente.

- Que música?
- Eu tô ouvindo uma música. Vem de você.
- Ah, essa música!
- É... Vem de você mesmo?
- É.
- Me explica.
- Eu não sei. Ela sempre saiu de mim. Mas não é todo mundo que ouve. Meus pais não ouvem. Todo mundo aqui na ilha não ouve. A Mestra ouviu uma vez, mas ela disse que só quem tem o mesmo... dom? Acho que é isso... o mesmo dom que eu vai ouvir, é uma forma de ide... itenti... ah, uma forma de saber que a gente tem o mesmo dom, é parecido. Entendeu?
- Entendi. Isso quer dizer que a gente tem o mesmo dom.
- Acho que sim.
- Eu gosto da música. Você quer me cativar?
- O que?
- Eu li num livro isso. Não faz cara de surpresa, eu leio mesmo. Acho que isso quer dizer que a gente vai conversar bastante até gostar muito uma da outra. Aí a gente vai ser amigas.
- Amigas?
- É. Conversar, contar tudo, segredos, contar o que te assusta, o que te faz feliz. Fazer companhia. Estar perto sempre. Mesmo longe, a gente vai estar perto.
- Eu acho que nunca tive amigas.
- Eu posso ser a primeira.
- Tá bom. Mas como eu vou saber quando a gente for amiga?
- Você vai perceber.
- O que vai acontecer? Como eu vou ver isso?
- Ver? - e a raposa riu exageradamente. - O essencial é invisível aos olhos, menina. A gente só vê bem com o coração. Você vai ver com o coração.

A menina não estava entendendo muito bem, mas gostava da ideia de não passar aquela noite terrível sozinha.

- Tem mais uma coisa: no início, a gente não precisa se ver sempre; mas, depois, precisamos passar o maior tempo possível juntas, pois é o tempo que passamos com os amigos que faz com que eles sejam tão especiais.
- Tudo bem. Você dorme aqui comigo hoje?
- Durmo... Fique perto de mim, pois meu pelo te esquentará. E pode dormir tranquila, eu te protejo.

A menina dormiu um sono agradável e calmo. No dia seguinte, seguiram juntas até a porta de entrada da Central de Treinamento. A menina atravessou a porta, pra depois lembrar da raposa, voltar e abrir a porta.

- Você atravessou a porta.
- E você fala e lê. Cada um tem seu dom, não é?

Atravessaram juntas o jardim e, quando encontraram a Mestra, ela estava empolgada demais com o sucesso da garota para se importar com a raposa. Ela tinha conseguido; tinha sobrevivido à noite fria e não tinha chorado... Claro que a raposa podia viver ali, tudo que ela pedisse seria atendido naquele dia tão especial.

Quando entraram, a raposa disse:

- Esqueci de uma coisa. Preste muita atenção e nunca esqueça isso. Você se torna eternamente responsável por quem cativa.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Aquele que diz sim e aquele que diz não


"E quanto ao antigo grande costume, não vejo nele o menor sentido. Preciso é de um novo grande costume, que devemos introduzir imediatamente: o costume de refletir novamente diante de cada nova situação."

(Brecht)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

A saudade ainda lateja...



Quando tudo aconteceu, meu maior medo era esquecer da Bruna. E se eu acordasse um dia e não lembrasse do rosto dela, da voz dela? Num rompante de uma loucura idiota, não só eu, mas todos nós, nos armamos de um arsenal de fotos, vídeos, gravações da voz dela. E esquecemos que nenhuma foto, nenhum vídeo, nenhuma gravação preservaria o mais importante, a única coisa que não poderia ser esquecida: o jeitinho da Bru. O cheiro dela. A textura do cabelo dela.

O medo persistiu até o dia em que eu senti o cheiro da minha vó na rua. Minha vó já se foi há um bom tempo e, não sei como, ela sempre continuou na minha vida. De um jeito diferente, claro. Ela já não me deixava brincar de comidinha na cozinha dela, mas era com ela que eu falava quase toda noite. Antes de dormir, era pra ela que eu contava o que me assustava, o que me perturbava, o que me confundia. Era pra ela que eu pedia ajuda. Minha avó era, mais ou menos, o meu deus. Na primeira noite sem a Bruna, eu não pedi a Deus que cuidasse dela, pedi pra minha vó fazer o bife maravilhoso dela e deixar a Bru brincar na cozinha dela. Pq a Bru teve minha vó por muito pouco tempo e não teve tempo de aproveitar coisas que, pra mim, a uma certa idade, eram o paraíso. Pedi pra minha vó proteger a Bru como ela me protegia e pra, até, catar piolho da Bru e, quando pegasse um grande (como se a Bruna tivesse piolhos....), dizer "Esse comeu Nescau!".

E, de repente, me veio o cheiro da minha vó na rua. E, com ele, veio a risada dela, a textura da pele dela, o ritmo da respiração dela enquanto dormia, a voz dela e uma enxurrada de sensações. E eu vi que tudo isso, assim como tudo relacionado à Bru, é meu e, nunca, ninguém vai me tirar.

Agora eu sinto o cheiro das duas, ouço a voz das duas e sinto as duas tão perto de mim que, às vezes, é como se elas estivessem dentro de mim. E talvez estejam, de alguma forma, transportadas por esse amor absurdo que sinto por ambas. À noite, eu continuo não pedindo nada a Deus. Mas peço sempre que elas continuem juntas, que uma cuide da outra, todas aquelas coisas que eu peço pra minha vó... E peço pra Bru ensinar a vó a dançar gafieira e thriller, a jogar STOP e pra Bru contar pra vó a minha versão da história da lagartixa que queria virar jacaré.

E, principalmente, peço que as duas estejam lá - seja lá onde for "lá" - quando eu chegar.

(texto de 08 de novembro de 2005... saudade de sempre...)