sábado, 2 de fevereiro de 2013

A dor maior do mundo


Desde muito pequena eu tenho dores de cabeça. Muito fortes. Fortes mesmo. Lembro de ter uns 12 anos e chorar de tanto que minha cabeça doía. Quando rolam as crises eu choro de dor, eu não consigo ver nenhuma luz, sentir nenhum cheiro, ouvir nenhum barulho. Tem dias que é tão forte que eu durmo e acordo de tanto que minha cabeça dói. Tem vezes que ela só passa depois que eu durmo. Tem vezes que eu preciso vomitar até colocar meu estômago pra fora pra dor ir embora. Tem dias que eu sento no chuveiro e deixo a água fervendo bater na minha nuca. E tem vezes que mesmo com tudo isso ela não passa. Uma vez vi no Globo Repórter que cientistas e médicos comprovaram que a maior dor que vc pode ter é uma dor num tal nervo do rosto. Duvidei. Nada pra mim poderia ser pior que minhas dores de cabeça. 

Aí eu descobri que estava enganada. Senhoras e senhores, eis que eu conheço a dor maior do mundo. E descubro que a dor maior do mundo não dói num lugar específico. Dói em tudo, na cabeça, no corpo, na ponta do dedão do pé e muito mais. Dói no coração, dói na alma, dói nas lembranças, dói até em cada fio de cabelo. E dói sem parar um minuto. A dor maior do mundo não deveria ser vivida por ninguém. Mesmo. Pq é algo insuportavelmente suportável. É algo que vc sabe que vai doer pra sempre e que, infelizmente, não vai te matar. A dor maior do munto não é letal. E não surge de um tombo, um corte, uma batida, algum problema interno. Surge do nada. E não manda aviso. Às 2h15 você não sente nada e, de repente, são 2h16 e você está tomada pela dor maior do mundo. 

Como identificar a dor maior do mundo? Não sei... É algo que se sente e que não se consegue explicar. Só sentindo pra saber que aquela é a dor do mundo. Mas se é necessária uma explicação, a dor maior do mundo surge logo depois que você fica sabendo que sua irmã linda e fofa e que vc ama loucamente, de apenas 15 aninhos, não vive mais. Tão difícil usar o verbo morrer.... A dor maior do mundo é ter que passar o dia num velório, ter que ver um caixão entrar na sala e saber que é ela lá dentro, ter que ver o mesmo caixão descer na terra e ser coberto e ter que se controlar pra não se jogar junto. A dor maior do mundo é isso: é ouvir a voz dela na minha cabeça 24h por dia e saber que nunca mais vou ouvir essa voz nos meus ouvidos; é não poder abraçar ela, beijar ela, bater na bunda dela, apertar o nariz dela; é dormir e descobrir que a minha cama (nossa cama) é enooorme sem ela e que é horrível não levar nenhum tapa, nenhum chute e não ouvir nenhuma fungada durante a noite; é colocar o porta retrato dela pra dormir; é colocar só 4 lugares na mesa; é assistir um filme e ter uma crise de choro pq ela não viu e não vai poder ver; é lembrar dela em tudo e ver que não existe um futuro para nós; é não ter com quem dançar gafieira e thriller, não ter com quem jogar stop, pega-varetas, adedanha; é não ter com quem ser criança; é não ter graça pra mais ninguém e perceber que só ela ria das minhas besteiras; é não ter quem sente na minha barriga qdo a cólica é forte; é não ter quem tente me ensinar a dançar axé.... É tudo isso e muito mais. 

Cura? Não há. Não tem remédio, tratamento, cirurgia, nada. A dor maior do mundo é pra sempre, te acompanha, diminui e aumenta, mas vai estar sempre em você.

(texto de 16 de maio de 2005... dor de sempre...)

Um comentário:

Blower's Daughter disse...

Vc sempre me emociona quando fala sobre sua irmã! Sempre com muito amor! Tenho certeza de que ela foi uma menina incrível, só pelo jeito como vc fala dela.
Queria poder te dar um abraço bem apertado agora, mas como estou longe, tento deixar por aqui o meu carinho por você!!! Te adoro muito!
Bjokas!