sábado, 8 de setembro de 2012

O poder nos e dos diários - Parte IV


21 de março de 2002

Depois de um dia conturbado como o de ontem, nada como um pouquinho de diversão. Hoje cedo um dos funcionários apareceu na minha sala. Claro que eu não costumo atender nenhum deles, só diretores entram aqui. Mas a secretária se penalizou com o rapaz pelo fato de ele ter tentado estar bem vestido. Ah, e porque ele tinha olhos muito tristes! Mulheres! Por causa da pena dela, eu tive que permitir a entrada dele. Mas, no final, foi divertido. O pobre coitado também tinha visto a tal frase na hidrelétrica e veio conversar sobre ela. Imagine a cena: eu, presidente da empresa, discutindo relações de dominação com um reles funcionário! E o mesmo papo de sempre... Ele merecia um aumento, era um excelente trabalhador, estava há muitos anos na empresa e tinha certeza que eu também tinha começado de baixo. Pra mim foi o suficiente. Ele mesmo estava se incriminando! Ficou totalmente óbvio que era ele o autor da frase. Não hesitei: despedi o infeliz na hora! Mão-de-obra é o que mais tem nesse país. Quantos nordestinos não estão perdidos nessa metrópole precisando de uma ninharia qualquer? E, se eu quiser uma especialização maior, quantos recém-formados não estão atrás de emprego e dispostos a ganhar a mesma ninharia que o povo lá do Nordeste? É como eu sempre digo, tudo é mais fácil quando se tem dinheiro... Eu odeio esses pregos insolentes! E de onde veio esse livro ridículo?

(Era março de 2002 e a professora de Redação pediu que cada dupla escrevesse um texto praticamente livre baseado na frase "Quando você for martelo, lembre-se de que já foi prego". Eu e a Éve provamos nossa tendência pra literatura com esse texto e recebemos nota máxima. E houve boatos de que o texto tinha que ser "jornalístico" por ser uma faculdade de Jornalismo... rs)

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