sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Heart

E, então, ele enferrujou.

Tinham caminhado bem, até então. Bastante. Estavam chegando perto da Cidade de Esmeraldas, ao fim daquela jornada.

Só que ele era de lata e latas enferrujam, é uma coisa que pode acontecer.

De repente, lá estava ele. Parado. Travado. Estático. Sem fazer um único movimento.

E Dorothy pensou que poderia ela, sozinha, correr até o Mágico, pedir o coração para ele e voltar. Ela já nem queria mais voltar para o Kansas. Era uma questão de prioridades. E ela queria que ele tivesse um coração. Só isso.
Pensou em correr, em botar a ideia em prática. Mas Dorothy estava cansada demais para isso. Dorothy não tinha forças para correr por essa causa, uma causa perdida.

Então, pensou em somente desejar, com fervor, como em uma prece. Uma prece direcionada ao onipotente Mágico de Oz. Uma oração. Uma oração para lhe dar um coração...

Só que ela estava, mais uma vez, cansada demais. Decepcionada demais. Machucada demais. E ela não queria se empenhar tanto em lhe dar um coração - só pq é tão bom ter um... - se ela corria o risco dele, depois, tendo um coração, entregá-lo a outra pessoa.

Então, Dorothy sentou-se na beirada da estrada de tijolos amarelos, abraçou os joelhos, direcionou seu pensamento ao grande mágico e orou. Com fervor, fez seu pedido: que tivesse coragem de abandonar aquele monte de lata estático ali e seguir a jornada, sozinha.


(update: Dorothy está feliz e saltitante em sua estrada.)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Primavera nos dentes

Precisa de tão pouco para ser primavera. Algo que simplesmente acontece. As estações do ano são assim. Chegam sem avisar, de forma inesperada, de forma confusa.

É verão e surge aquela semente de primavera no seu inverno. E você nem a percebe.

E chega o outono e aquela semente ainda está lá, aguardando o momento certo de germinar. Você acha que vai ser na primavera, mas que nada! São caprichosas essas estações, tão diferentes do que nos ensinaram na aula de Estudos Sociais.

E é inverno no mundo e surge a primavera na alma. Florida e forte, fincando raízes em você.

E quando chega a primavera de verdade, o mundo floresce, a vida floresce; tudo é flor, tudo é vida.

E chega outro verão e a primavera, oprimida, se vê obrigada a ceder espaço pro inverno... Mas por pouco tempo, pq ela é exibida. Como na música de Caetano, ela é tímida espalhafatosa. Mesmo com dificuldade, ela quer se mostrar. E, acompanhando o outono no mundo, volta a primavera na alma.

E, quando mais uma vez chega o inverno e o mundo te faz querer congelar sua alma, num inverno onipresente, você resiste. Pq, pra alguns, a primavera é eterna.

E nenhum eterno inverno - cinza e gélido - pode finalizar uma primavera.

Primaveras são para sempre.

As flores são para sempre, assim como as cores.

E eu sou cor. Sou todas elas. Sou arco-íris. Sou Clementine, somewhere over the rainbow.

E sou flor. Sou todas elas. Sou a rosa do Pequeno Príncipe (e são tão contraditórias as rosas...). Sou flor de maio.

E sou primavera. Eternamente...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ah, o primeiro semestre...

EM JANEIRO EU...
* li 9 livros.
* vi 11 filmes.
* recebi visitas na roça e passei dias jogando Perfil 2 (e ganhando, claro, rs).
* comecei a tentar tornar o grupo realidade.
* recebi visita de Tio Lenauro e Mariazinha (e tirei fotos ótimas com ela, das que me matam de rir).
* recebi visita da Camis e do Beto (e cantamos, jogamos Perfil, fofocamos muito e eles quase me mataram de rir).
* fui na "despedida" do Dannyllo (que ia passar uma semana viajando).
* fui muitas vezes na piscina da ermã (e do Douglas, antes que ele reclame).
* consegui o elenco dos sonhos pro Sonho de Strindberg.
* descobri que conseguimos - de novo - o diretor que eu queria.

EM FEVEREIRO EU...
* li 4 livros.
* vi 7 filmes.
* participei do 1º reveillón fora de época de todos os tempos, na casa da Rê. Teve todo mundo de branco, contagem regressiva pra virada, muita emoção e votos de um feliz ano novo, videokê a noite toda ("eu vou cantar até morrer") e sabotagem (piada interna).
* tive meu 1º dia de aula no semestre com montagem com o Wandeco, finalmente. e foi ótimo!
* me apaixonei por uma peça linda, que conta a história de Carmen Miranda.
* pintei e cortei meu cabelo.
* conheci a casa da Fabi e passeei com ela e o Maykol pela praia de Pinheiros.
* assisti "Cisne Negro" e não achei nada de mais (nem no filme, nem na Natalie Portman).
* assisti "Calendário de Pedra", peça fabulosa e divertidíssima.
* assisti "Ensina-me a Viver" (até o João reapareceu e foi) e achei peça pra quem quer ir ver novela no teatro.
* participei do 1º ensaio do Sonho - Nova Geração e fiquei maravilhada com o resultado.
* participei da 1ª reunião do "Nosso Grupo" (RISOS).
* me diverti MUITO com o 1º dia de ensaios (e descobri que, não importa quantas coisas diferentes eu tente fazer, meu talento é criar dancinhas toscas pra fazer a galera rir).
* participei do 2º ensaio do Sonho - e fiquei horrorizada.
* me inscrevi no concurso (que não é, infelizmente, o Garota da Laje).

EM MARÇO EU...
* li 3 livros.
* vi 6 filmes.
* desfilei na Sapucaí, pela Viradouro, de fantasia pink chamada Satélites pelo Espaço (que parecia um cangaceiro gay do espaço) e tive o melhor carnaval da minha vida (tem que viver isso aqui!).
* no Carnaval fantástico - com a família e cozamigo - teve também passeio por Icaraí, churrasco na casa da louca Liz, praia, noite de jogos, Carnaval legal da Av. Central e passeio pelo Rio (com direito a dançar É o Tchan em Copacabana).
* passei uma noite em Penedo, com café da manhã de hotel.
* revi a dupra e, com a Jaque, dançamos no Darta (que está muito estranho, btw).
* conheci a sobrinha da Jaque, que é uma coisa de fofa.
* me desencantei pelo sonho.
* revi a Mari e conseguimos começar a botar a fofoca em dia.
* percebi que ter ouvido 200 vezes do mestre "você já leu o capítulo de ética?" me fez evoluir e ser uma pessoa melhor, que não se abala - e nem se importa, na verdade - com gente mesquinha, pequena, INVEJOSA, sem amigos, barraqueira e desprovida de talento, simpatia e carisma.
* assisti 2 peças no Festival Ibero-Americano de Teatro, no Memorial da América Latina: "Albanico de Sotera" (monólogo de uma argentina, sobre Lorca... dormi) e "A Humanidade é Feia" (peça GENIAL portuguesa!).
* assisti That Night in Rio e amei ainda mais a Carmen.
* fui na festa de aniversário do Me.
* assisti "O 3º Sinal", peça bem legal, mesmo sendo monólogo. rs
* fiz a prova do concurso (conhecido pela galere como "Garota da Laje") e acertei 47 de 50 questões (e acertei todas de matemática, oi?).
* descobri o que vou fazer na peça, depois da definição de elenco (e o que importa é que eu vou fazer a cena com a Camis que eu tanto queria e - oibemgrandão? - eu tenho um solo e é "só" I Like you very much, que é minha preferida e nem tinha, originalmente, na peça).
* dormi na casa do Tio Zé e revi a prima Mariana.
* passei 2 dias na casa da Tili (e ri muito, principalmente durante a madrugada).
* finalmente, encontrei a Mila e conversei muito e ri muito e, é, melhor amiga eterna, mesmo que a gente fique um ano inteiro sem se ver.
* tive uma entrevista de emprego (e comecei a trabalhar 2 dias depois).

EM ABRIL EU...
* li 3 livros.
* vi 2 filmes.
* comecei a trabalhar no dia 1º (e não era mentira).
* entrei no meu inferno astral, droga!
* fiz um monte de exame chato pq minha mãe não acredita que eu sou saudável.
* fiz o requisito (ou seja, passei no concurso).
* dei aula de teatro. ooooooooooooooooh!
* assisti "O Mágico de Oz", NO CINEMA, com o próprio Espantalho.
* tive uma Páscoa divertida com a família e muita Carmen Miranda.
* mudei o cabelo.

EM MAIO EU...
* li 1 livro.
* vi 3 filmes.
* de repente, 30.
* comemorei meu niver com jantar japonês com toda a família e ganhei presentes ótimos e nenhuma roupa (uhu!).
* comemorei meu niver no Si, Señor com a família e ozamigo.
* comemorei o Dia das Mães no Outback com a família e a mãezinha querida.
* fui na festa do Satyros cozamigo (e dancei e gritei Dog Days Are Over, insanamente).
* fizemos o único ensaio no teatro.
* fiz uma aula de canto, pra ter certeza de que não tenho salvação.
* ganhei uma Dorothy... ohmmm...

EM JUNHO EU...
* li 0 livros.
* vi 0 filmes.
* depois de anos e anos, ensaiei quadrilha (e quase morri no tal de "Coroa, coroar").
* assisti uma peça chata pacas (mas ganhei de brinde um ensaio de uma peça incrível na rua, com uma fala que mudou minha vida: "você ocupa espaços que eu ainda não inventei pra mim".)
* assisti, no 1º dia da Mostra, "Os Sete Gatinhos", peça do meu amigo de infância astronauta.
* operei som em uma das sessões de "Os Sete Gatinhos", de improviso (e depois fui jurada por um dia do "Se ela dança, eu danço").
* assisti "Mephisto", com os poucos membros de "Lisístrata" que resistiram bravamente até hoje.
* vi "Medeia" com o Me, a Natália e a Jé Borges (que eram o melhor da peça).
* revi a Lee Tapioca, conheci a casa linda dela, conversei muito com ela e fui com ela numa festa mexicana na USP (surreal).
* fui na costureira, ver as medidas pra fazer minha roupa de Carmen!
* assisti "Métodos Extremos de Sobrevivência", que tinha a Dri de voz maravilhosa, a Pati Noêmia e o Diego no elenco.
* fui na 2ª festa do Satyros - conhecida como Festa da Dignidade -, com uma galera gigante e dancei e me diverti como não fazia há tempos.
* assisti "O Pássaro Azul", peça fofa, com a fofa da Fabíola.
* assisti "Yerma" e, ok, o texto é MUITO chato, mas o Wandeco e aquela turma fofa fizeram uma peça fantástica. sem mais.
* assisti "Joana d'Arc" com o Wandeco no elenco, peça muito boa e com uma iluminação genial.
* fui com a Camis comprar as bijuterias das Carmens (melhor: os balangadãs).
* fiz a luz em "Cala a Boca Já Morreu" e fiquei positivamente surpresa com o resultado e com as 6 sessões lotadas (e com os girassóis lindos que ganhei da turma linda!).
* vendi 96 rifas. sem mais.

sábado, 6 de agosto de 2011

DES MEDÉIA, de Denise Stoklos

Dois amigos que pareciam incomuns.
Amigo sempreável, aquele que ao outro espelha o umbigo, na mina de metal durável do amável.
Quando se separa do amigo chama-se: parável, vira chama apagável, de amizade inviável.
Aí a saudade é improvável do: “entre sempre”.
E, sabe? O outro ente sente.
(No espelho; O outro ente sente.)
Tão quente como um sol rente a uma lente.
(Pois é gente.)
O outro: ouro de dente falsamente reluzia ao espelho sorriso.
Sorriso (mas de frente).
De fundos, deu mesmo as costas, fez muro.
E o outro, sim, fez mesmo bosta: deu murros.
Pronto os dois amigos brigaram. Cai no calçadão uma vala – a comum: irreconciliação.
Lá se vão dois umbigos apartados os dois amigos separados.
E aquele que praticou a quebra de código de exclusividade entre eles, vai todo contente com sua guerra debaixo do braço, vestida de balas-traição, venceu seu fuzil-abandono.
Dói em um, mas toca o outro a corneta do nem-te-ligo; anúncio de quanto estão ingressando agora nas senhas de ex-amigos.
(Sangram afora tanto as veias dos dois umbigos.)