segunda-feira, 25 de maio de 2009

This is the end, my only friend, the end...


Existe um trecho do Pequeno Príncipe que diz que todas as pessoas grandes foram, um dia, crianças. Ok, isso é óbvio. Dãr bem grandão! Logo depois vem a coisa de poucas pessoas grandes lembrarem disso, da criança que foram. E eu, definitivamente, me incluo nessa minoria. Não só lembro; é mais como se a pequena Talitinha estivesse ainda aqui, dentro de mim.

Agora, um ponto que me faz pensar é: quando isso acontece? Essa transformação da criança na pessoa grande. Tudo bem, é um processo, vai acontecendo aos poucos; pode durar anos ou até a vida toda. Mas quando começa a acontecer? Sim, pois tem que existir um momento em que a gente pensa "ah, saquei: esse oba-oba não vai durar pra sempre, uma hora acaba." E esse momento seria o início do processo.

Há uma lenda sobre a última tirinha do Calvin. Existe uma que ninguém sabia se era real ou feita por fãs. Descobriram que foi um fã que fez. Ok. Essa tirinha representa muito claramente o momento do início do fim da infância. E dói só de lembrar... É o momento em que o Calvin percebe que o Haroldo - seu grande e único amigo - é só um tigre de pelúcia...

Eu - como a maioria das pessoas - tenho poucas lembranças claras da minha infância. Algumas são bem antigas, já se desbotando, como a de virar pro lado e ver meu boneco-arroz quando ele tinha o mesmo tamanho que eu. Ou seja, eu devia ter uns 7 ou 8 meses... Mas eu lembro nitidamente dos olhos dele e do sorriso. Tudo bem, existem fotos minhas com o Sr. Arroz e minhas lembranças poderiam vir delas, mas o que explicaria eu dizer pra minha mãe "Eu achava que ele era verde e não vermelho" e ela dizer "Você tinha um verde também, como você lembra?"?

INTERVALO
E agora eu percebo que há a possibilidade de eu não comer arroz pq eu tive dois bonecos que pareciam grãos de arroz...
FIM DO INTERVALO

Embora as lembranças da infância sejam poucas, as histórias são muitas. E, entre um encontro com um ex-presidente da República no elevador e uma corrida com um tijolo na mão por ruas de terra, existe uma especial. Uma que, eu acho, foi a minha descoberta de que o Haroldo era um tigre de pelúcia.

Eu tinha uns 3 anos. Toda a família vendo Fantástico e a notícia de que a princesa Fulaninha tinha morrido. Ok, é o ciclo da vida, até os membros da realeza morrem, certo? Não, não, não! Privada de todo o raciocínio lógico que eu só ia adquirir depois (ou nunca, aliás), o único significado de "a princesa Fulaninha morreu" era "PRINCESAS MORREM!".

Meus familiares contam que eu chorei muito com a notícia. Fui pro quarto e chorei, chorei, chorei. Sofrido. Doído. Pesaroso. Não me importava se essa Fulaninha era gente como eu, se ela tinha 80 anos, se ela era doente. Eu umagino o que passava na minha cabeça enquanto eu chorava. "A Cinderela vai morrer. A Bela Adormecida vai morrer. A Branca de Neve vai morrer". Nunca, em nenhum conto de fada, uma princesa havia morrido. Reis e rainhas, sim. Princesas? Jamais! E agora o mundo estava simplesmente me dizendo que elas iam morrer. Todas. Adeus, "felizes para sempre".

E aí, talvez, veio a parte pior. O "opa!". Se até as princesas morrem, a vovó e o vovô iam morrer. A tia e o tio. O papai e a mamãe. Se as princesas morrem, não há limites, minha gente. E sabe o que isso significava? Que EU ia morrer. Pronto. Fim do oba-oba. O mundo não é justo.

(O que eu não aprendi na época, e só fui aprender muitos anos depois, é que não, as princesas não morrem. Ninguém morre. Existem fins de ciclos, transformações. Mas é tudo tão eterno... E, mesmo que a morte fosse real, o amor seria mais. E esse é imortal. E, talvez, essa descoberta tenha me possibilitado manter a Talitinha aqui, acreditando que todas as princesas são imortais. Incluindo a Princesa Estrela...)

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