terça-feira, 26 de maio de 2009

Enquanto isso, em Oz...


Incrível como a gente às vezes vê milhares de vezes um filme e não repara em certas coisas. Quando repara, é a descoberta do século.
Como aquela jornada... Linda como um todo, mas especial para aqueles dois.
Quando ele diz o que o motiva e eles decidem, de comum acordo, continuar juntos a jornada, ele chega a cair. Firmeza não é o forte dele. E ela o levanta.
O que eu só percebi agora é que durante TODO o trajeto, ele cai. E ela o levanta.
Um passo.
Dois passos.
Ele cai.
Ela o levanta.
Um passo.
Dois passos.
Ele cai.
Ela o levanta.
Com o tempo, ela consegue conversar enquanto o levanta.
Cantar e dançar, enquanto o levanta.
O ato de o levantar se torna rotina.
Ela já se acostumou com aquilo. Faz sem nem precisar pensar. E não reclama. E faria trilhões de vezes mais, se necessário.
Ele cai e ela o levanta.
Amizade sem limites, de verdade.
Amor. De verdade.
(só que, aí, ela foi pro Kansas... fim)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

This is the end, my only friend, the end...


Existe um trecho do Pequeno Príncipe que diz que todas as pessoas grandes foram, um dia, crianças. Ok, isso é óbvio. Dãr bem grandão! Logo depois vem a coisa de poucas pessoas grandes lembrarem disso, da criança que foram. E eu, definitivamente, me incluo nessa minoria. Não só lembro; é mais como se a pequena Talitinha estivesse ainda aqui, dentro de mim.

Agora, um ponto que me faz pensar é: quando isso acontece? Essa transformação da criança na pessoa grande. Tudo bem, é um processo, vai acontecendo aos poucos; pode durar anos ou até a vida toda. Mas quando começa a acontecer? Sim, pois tem que existir um momento em que a gente pensa "ah, saquei: esse oba-oba não vai durar pra sempre, uma hora acaba." E esse momento seria o início do processo.

Há uma lenda sobre a última tirinha do Calvin. Existe uma que ninguém sabia se era real ou feita por fãs. Descobriram que foi um fã que fez. Ok. Essa tirinha representa muito claramente o momento do início do fim da infância. E dói só de lembrar... É o momento em que o Calvin percebe que o Haroldo - seu grande e único amigo - é só um tigre de pelúcia...

Eu - como a maioria das pessoas - tenho poucas lembranças claras da minha infância. Algumas são bem antigas, já se desbotando, como a de virar pro lado e ver meu boneco-arroz quando ele tinha o mesmo tamanho que eu. Ou seja, eu devia ter uns 7 ou 8 meses... Mas eu lembro nitidamente dos olhos dele e do sorriso. Tudo bem, existem fotos minhas com o Sr. Arroz e minhas lembranças poderiam vir delas, mas o que explicaria eu dizer pra minha mãe "Eu achava que ele era verde e não vermelho" e ela dizer "Você tinha um verde também, como você lembra?"?

INTERVALO
E agora eu percebo que há a possibilidade de eu não comer arroz pq eu tive dois bonecos que pareciam grãos de arroz...
FIM DO INTERVALO

Embora as lembranças da infância sejam poucas, as histórias são muitas. E, entre um encontro com um ex-presidente da República no elevador e uma corrida com um tijolo na mão por ruas de terra, existe uma especial. Uma que, eu acho, foi a minha descoberta de que o Haroldo era um tigre de pelúcia.

Eu tinha uns 3 anos. Toda a família vendo Fantástico e a notícia de que a princesa Fulaninha tinha morrido. Ok, é o ciclo da vida, até os membros da realeza morrem, certo? Não, não, não! Privada de todo o raciocínio lógico que eu só ia adquirir depois (ou nunca, aliás), o único significado de "a princesa Fulaninha morreu" era "PRINCESAS MORREM!".

Meus familiares contam que eu chorei muito com a notícia. Fui pro quarto e chorei, chorei, chorei. Sofrido. Doído. Pesaroso. Não me importava se essa Fulaninha era gente como eu, se ela tinha 80 anos, se ela era doente. Eu umagino o que passava na minha cabeça enquanto eu chorava. "A Cinderela vai morrer. A Bela Adormecida vai morrer. A Branca de Neve vai morrer". Nunca, em nenhum conto de fada, uma princesa havia morrido. Reis e rainhas, sim. Princesas? Jamais! E agora o mundo estava simplesmente me dizendo que elas iam morrer. Todas. Adeus, "felizes para sempre".

E aí, talvez, veio a parte pior. O "opa!". Se até as princesas morrem, a vovó e o vovô iam morrer. A tia e o tio. O papai e a mamãe. Se as princesas morrem, não há limites, minha gente. E sabe o que isso significava? Que EU ia morrer. Pronto. Fim do oba-oba. O mundo não é justo.

(O que eu não aprendi na época, e só fui aprender muitos anos depois, é que não, as princesas não morrem. Ninguém morre. Existem fins de ciclos, transformações. Mas é tudo tão eterno... E, mesmo que a morte fosse real, o amor seria mais. E esse é imortal. E, talvez, essa descoberta tenha me possibilitado manter a Talitinha aqui, acreditando que todas as princesas são imortais. Incluindo a Princesa Estrela...)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Carta para Joel Barish


Então, esse é você. Esse andando devagar. Passos curtos, imprecisos; pisando a areia com cuidado, como se tivese medo que ela te invadisse, te contaminasse, te afogasse. Ninguém te ensinou que é a água que afoga? E que nem toda areia é movediça? Ah, Joely, vou ter que te ensinar tanta coisa... Pode pisar firme, com força. Você não vai afundar, não. E eu falo em um modo figurativo também. A gente não afunda, no máximo se suja um pouquinho. Incomoda, mas não mata. Você pode cair, é verdade. Esses grãozinhos traçoeiros... Mas aí é só levantar. Pisar firme. Coloca intensidade em cada passo.

É, esse é você. Roupa cinza, cabelo cinza, aura cinza. Nunca pensei que alguém tão cinzento pudesse ser assim: bonito. Sou capaz de apostar que seus olhos são da mesma cor, mas não consigo vê-los. É essa sua cabeça baixa que atrapalha. Sabe, a areia é todinha igual, não precisa olhar pra ela. Olha pra frente. Vê o que você está perdendo. Eu espero sinceramente que você não tenha olhado pra baixo por toda sua vida. Você teria perdido tanta coisa... Olha pra frente. Olha pra mim.

Eu sou aquela ali. Sentada no penúltimo degrau da escada, apoiando os pés no último. Vai ser difícil você não reparar: eu sou a única aqui. Ainda aqui. E o casaco, laranja, ajuda. Tá vendo meu cabelo? Eu tento prendê-los, mas eles ainda ficam bailando com esse vento. Você vê os fios dançando? Os fios azuis, amarelos, pretos, vermelhos? Eu acho que sempre fui assim... colorida! Você não vai ver meus olhos também, pois eu estou olhando pra frente. Mas te garanto que eles são verdes.

Então, você finalmente veio. Acho que estive sempre te esperando. Já na barriga da minha mãe. No berçário. Na escolinha. Eu estava esperando por você, sem nem saber que você existia. Mas agora eu sei.

Joely, e se você viesse até aqui? Eu queria só que você sentasse ao meu lado. Ia ser bonito ver alguém tão cinza do lado de alguém tão colorida. E você podia colocar seus pés no degrau. Assim, eles saíriam da areia e você se sentiria mais seguro. E poderia olhar pra frente. E ver o céu, e ver o mar. E me ver.

Joely, e se você segurasse minha mão? Eu acho que era o que eu mais queria. Um abraço não seria tão agradável. Um beijo não seria tão carinhoso. Senta aqui. E me deixa entrelaçar meus dedos nos seus. A gente não precisa conversar. Eu acho que a gente já sabe o que precisa saber. E as mãos dirão o que precisa ser dito.

Joely, e se... Bem... E se você ficasse dessa vez? Eu sei que as coisas não aconteceram assim. Mas, me diz, e se elas acontecessem assim dessa vez? Eu sei o que você vai dizer: que as coisas não são assim e que elas não mudam. Mas elas mudam, sim. O tempo todo. Você que não percebe. Esquece todo o resto, eu só quero saber: e se você ficasse dessa vez?

Não precisa responder agora. Você pode pensar. se você decidir ficar, oh, Joely, como seria bom! As mãos entrelaçadas seriam só o começo! A gente iria conversar por horas, correr na areia, ver as estrelas. E brincar na neve e ir ao circo e ao cinema e ao parque de diversões e... a lugar nenhum. A gente ia ficar quieto, sem fazer nada. Mas juntos. E a gente ia brigar também. E odiar um ao outro. E isso ia doer, Joel, não vou mentir pra você. Mas o que ia importar, sempre, seriam os momentos bons, pois é só isso que importa. As lembranças boas. E é isso que nos faz continuar vivendo. Eu não sei muita coisa, mas eu sei isso. E sei o que eu sinto por você. E sei que é grande. Imenso. Pra sempre. Infinito.

Se você não ficar... Sabe, Joely, não vai mudar muita coisa. Eu vou continuar te esperando. Talvez eu tenha nascido pra te esperar. E, quem sabe, um dia, não nos encontramos em Montauk?

Então, esse é você. E essa sou eu. Então, é assim que as coisas são. E vão ser.

Sempre sua,

Clem

* Prometi, há séculos, um texto bacana pra pessoa que faz os depoimentos mais bonitos do Universo. Espero que você goste, Roh, pois acordei de madrugada pra isso, rs.*

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Milênios depois, o Radiohead

Então, o show chegou. Experiência única, compartilhada com a Srta. Best Friend Ever e a sempre presente dupla oficial de grandes shows, Dona Tin Man. Foi tudo lindo, perfeito, fantástico. E acho que eu nem preciso dizer isso. Só, pra registrar, meu Top 5.

5. FAKE PLASTIC TREES
Ok, é a música do Carlinhos. O Carlinhos que tem síndrome de Down e faz aula de natação, mas o amigo - que não tem sapato - do Carlinhos, não faz. Anúncio lindo, música linda. Acho que foi a primeira que foi cantada por muita, mas muita gente mesmo. E essa comunhão de muita gente cantando junto, essa coisa que é like a prayer, sempre emociona. Quando todo mundo falou juntinho " If I could be who you wanted all the time...", quando todo mundo confessou baixinho que não conseguia ser o tempo todo o que as pessoas queriam... Foi de partir o coração. E, com o primeiro creckt-creckt, vieram as primeiras lágrimas. Crise de choro nº1.

4. EXIT MUSIC (FOR A FILM)
A música é triste. Triste pacas. E sempre foi das minhas preferidas. Eu acho que quando o moço Yorke canta, ele canta com um desespero que envolve quem ouve. Me desesperei junto. E amei.

3. HOUSE OF CARDS
Ô musiquinha que dói no fundinho da alma da pessoa! Quando o show acabou a primeira vez, antes do primeiro bis, eu fiquei total "Ah, tá! Eles pensam que eles podem tocar o In Rainbows inteiro, MENOS House of Cards? Só House of Cards, né? Só a mais perfeita! Acho bom eles voltarem bem rapidinho pra cantar essa. Hmpf!". E eles voltaram. Só os primeiros 5 segundos da música já me arrepiaram até dentro do umbigo. Quando a Miba disse "Essa primeira frase é matadora", logo depois do Seu Thom cantar "I don't wanna be your friend, I just wanna be your lover", eu já tava chorando. E praticamente não parei até o fim. Crise de choro nº2.

2. KARMA POLICE
Eu simplesmente AMO essa preciosidade. Abria mão de Creep, mas não dessa. E aquelas milhares de pessoas sussurrando juntas "This is what you get, when you mess with us"? Momento mais fofo da noite. "For a minute there, I lost myself, I lost myself..."

1. CREEP
Eu total esperava que tocasse, afinal, é a música deles que até minha mãe conhece. O que eu não esperava era que fosse o momento mais incrível do show. Mais bonito visualmente, com aquelas luzes tristonhas azuis, explodindo em uma profusão de cores e se tornando simplesmente brancas e fortes e bárbaras. E, também, mais emocionate, quando todo mundo ali esqueceu o orgulho e gritou o quanto queria ser especial e não um creep/weirdo. O "I don't belong here..." foi incrível! Lindo de ver, de ouvir e de sentir. Crise de choro nº3, obviamente (enquanto cantarolava "I want you to notice, When I'm not around" e "Whatever makes you happy, Whatever you want").

MENÇÃO HONROSA: Everything In Its Right Place
Pra quem esperava um show deprê, nada como essa delícia de momento "sejogativo", com toda aquela iluminação rosa e aquela energia hiper positiva.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Se eu fosse um livro...

Totalmente viciada em testes. É o que eu sou. Em livros tb. Aí me mandam um: Se vc fosse um livro nacional, qual livro você seria? O resultado - 3 livros! - não me surpreende, nem um pouquinho.

"Memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis
Ok, você não é exatamente uma pessoa fácil e otimista, mas muita gente te adora. É possível, aliás, que você marque a história de sua família, de seu bairro... Quem sabe até de sua cidade? Afinal, você consegue ser inteligente e perspicaz, mas nem por isso virar as costas para a popularidade - um talento raro. Claro que esse cinismo ácido que você teima em destilar afasta alguns, e os mais jovens nem sempre conseguem entendê-lo. Mas nada que seu carisma natural e dinamismo não compensem.

"A paixão segundo GH", de Clarice Lispector
Você é daqueles sujeitos profundos. Não que se acham profundos – profundos mesmo. Devido às maquinações constantes da sua cabecinha, ao longo do tempo você acumulou milhões de questionamentos. Hoje, em segundos, você é capaz de reconsiderar toda a sua existência. A visão de um objeto ou uma fala inocente de alguém às vezes desencadeiam viagens dilacerantes aos cantos mais obscuros de sua alma. Em geral, essa tendência introspectiva não faz de você uma pessoa fácil de se conviver. Aliás, você desperta até medo em algumas pessoas. Outras simplesmente não o conseguem entender.
Assim é também "A paixão segundo GH", obra-prima de Clarice Lispector amada-idolatrada por leitores intelectuais e existencialistas, mas, sejamos sinceros, que assusta a maioria. Essa possível repulsa, porém, nunca anulará um milésimo de sua força literária. O mesmo vale para você: agrada a poucos, mas tem uma força única.

"Antologia poética", de Carlos Drummond de Andrade
"O primeiro amor passou / O segundo amor passou / O terceiro amor passou / Mas o coração continua". Estes versos tocam você, pois você também observa a vida poeticamente. E não são só os sentimentos que te inspiram. Pequenas experiências do cotidiano – aquela moça que passa correndo com o buquê de flores, o vizinho que cantarola ao buscar o jornal na porta – emocionam você. Seu olhar é doce, mas também perspicaz.
"Antologia poética" (1962), de Drummond, um dos nossos grandes poetas, também reúne essas qualidades. Seus poemas são singelos e sagazes ao mesmo tempo, provando que não é preciso ser duro para entender as sutilezas do cotidiano.