sexta-feira, 2 de março de 2012

Luís Alberto de Abreu, seulyndo!

AUTO DA PAIXÃO E DA ALEGRIA
* Mas antes de começar este prólogo quero dizer, em primeiro lugar, que sou acrófabo e que isso não é nenhum desvio sexual, mas apenas quer dizer que tenho medo de alturas. Alertei o diretor do espetáculo desse meu problema e ponderei que não via a mínima necessidade de erguer nos ares, dessa forma grotesca como vocês viram, uma personagem que não vai aparecer em nenhuma outra cena. E para um prólogo tão curto! O diretor, primeiro ouviu, como todos os diretores ouvem, depois refletiu, cresceu as pupilas dos olhos e berrou: Genial! A experiência humana, o risco e o medo à vista do público! Vou ficar apavorado, eu disse em lágrimas! E o público vai rir do seu desespero, ele retrucou. Dor e riso, paixão e alegria, têm tudo a ver com o nosso auto! E falou, discursou, ponderou, argumentou e convenceu. Diretores sempre convencem! E cá estou eu segurando as tripas para que não subam à garganta e os conteúdos delas para que não desçam. Se houver vida após a morte os atores, do alto, vão olhar seus diretores socados no fundo dos infernos!
* Você tem razão: as utopias são o que são: apenas pó. Mas pó é a mesma substância de que é feito o homem.

LIMA BARRETO, AO TERCEIRO DIA
* Arte não combina com agrado e bajulação.
* Todo esforço é vão e a literatura é apenas uma forma ilusória de dar dignidade a uma vida pequena.
* A vida não é esse melodrama barato. É mais brutalidade, mais espanto e mais susto! A literatura só serve para mentir que somos melhores do que realmente somos. E que a nossa passagem por esse caos tem alguma espécie de sentido. Toda arte é uma paródia de nós mesmos.
* Se for possível, sonhem por mim
O que esses tempos nos quais vivi
Não me permitiram sonhar.

BORANDÁ: AUTO DO MIGRANTE
* Retire as metáforas da vida e a vida não melhora em nada! Fica apenas sem metáfora, sem poesia, sem riso!
* Mas saibam e fiquem atentos:
Por mais banal que seja a personagem
Qualquer vida humana é poesia
E qualquer poesia é ensinamento.

MEMÓRIA DAS COISAS
* Sonho, emoção e riso é uma grande busca e a vida é mais o que buscamos do que o que vivemos.

O LIVRO DE JÓ
* Não quero um Deus escondido
Nas estrelas.
Quero Deus comigo.
Não porque, com arrogância, exijo
Mas porque, com humildade, preciso!
* Vá. A fé não se explica com a razão
A fé não se explica
A fé é.
* Jó - Não sei qual foi meu pecado!
Baldad - Deus sabe!
Jó - Então que ele me diga!
Baldad - Quer que ele te dê satisfação do que faz?
Jó - Sim, porque o que ele faz, ele faz comigo!
* Quem tem fé não são os livros,
É o coração.
Deus vomita os mornos!
E quer paixão quando se afirma
E fervor quando se faz a negação!

UM MERLIN
* Tudo me parece desprovido de sentido. O coração ruge na garganta e eu me sinto completamente ridículo. E declaro que nunca me senti melhor na vida.

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