quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

carta aberta a um velhote trambiqueiro



Caro Mágico de Oz,

Estou te escrevendo pois creio que ficamos em uma situação estranha e complicada. Sei de minhas falhas e sei da impossibilidade de consertá-las; mas - embora eu saiba que você não gosta de justificativas - preciso justificá-las.

Antes de tudo, entenda: todos esses anos indo e vindo na estrada de tijolos amarelos não mudaram - e provavelmente não mudarão - o que eu sou; uma menina sonhadora e confusa, carregando um tornado dentro de mim e de joelhos ralados pelas muitas quedas nessa jornada (tijolos amarelos e sapatos de rubi definitivamente não combinam; mas sou também muito teimosa e insisto em seguir, mesmo sabendo que certamente não voltarei mais ao Kansas... esperançosa. É outra coisa que sou.)

E tudo que vivi aqui em Oz também não mudou meu jeito de reagir às coisas. Sou impulsiva, não tenho paciência. Quando me decepciono, não sei lidar com isso, me torno agressiva. Sou incapaz de racionalizar (talvez eu também não tenha cérebro, como o Espantalho). Sou toda sentimento, emoção e paixão. E entrega. Me entrego a esses sentimentos sem pensar. Toda coração... E uso a estupidez para me proteger, para criar a ilusão de que não vou me machucar (quando, às vezes, até já me machuquei).

No final, tudo que eu precisava mesmo te dizer é só que está sendo muito difícil pra mim. Desde que aquela cortina se abriu, meu mundo desabou. O grande e poderoso Oz, meu mestre, meu guia, meu ídolo, o sábio, o gênio, o capitão... reduzido a um velhinho. Humano. Falhando... e me enganando. Eu não sei como lidar com isso. Mesmo.

Eu só posso esperar que isso tudo seja, na verdade, um grande... um enorme truque seu e que meus olhos (verdes como a sua Cidade de Esmeraldas) possam voltar a te ver, um dia, grande e poderoso. Pois foi assim que sempre te vi e é assim que quero continuar te vendo.

Dorothy Gale

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