Então, é isso. Cá estou eu te escrevendo de novo, Joel.
Quero te contar que vou todos os dias até a Lacuna. Todo santo dia. Nos dias de sol escaldante, nos de frio intenso e nos de chuvas avassaladoras. Até nos dias em que neva. Mas, você bem sabe, eu prefiro os dias de sol com chuva, só pra ver o arco-íris.
O meu arco-íris.
Vou todos os dias, na verdade, até a porta da Lacuna. Nunca entro. Não consigo criar a coragem necessária pra cruzar aquela porta. Quem diria?! Clementine Kruczynski sem coragem! É que também não ando usando muito o cérebro. Ultimamente - e sempre -
sou toda coração; tão diferente de você.
Eu queria. Eu queria realmente entrar, Joely. Queria com todas as minhas forças. Pq eu estou sendo uma grande trouxa nessa história. Pq cada palavra sua, cada sorriso, cada coisinha que vem de você alimenta essa esperança dentro de mim; essa esperança de que as coisas aconteçam, de que você me dê uma chance de provar que elas podem acontecer, que a gente pode fazer elas acontecerem. Afinal, Joel, pq não? Ok, eu também enxergo as diferenças. Mas você não enxerga o resto? Eu enxergo. Eu vejo as coisas em comum, e o quanto a gente se dá bem. E as coisas que só a gente entende,
as piadas internas. E o quanto você me faz rir (e eu desconfio que eu faça o mesmo com você). Eu enxergo. E é, também, por ver tudo isso (que pra você pode ser pouco mas, pra mim, é tudo), que eu não extermino a esperança. E ela era pequenininha. Mas, sendo alimentada, ela cresce. E eu tenho medo - pavor! - de que ela se torne um monstro.
Com tudo isso me fazendo querer entrar, você deve se perguntar pq eu não entro. Sempre tão cinza, até em suas dúvidas. Eu não entro pq a gente envelhece, Joel. Essa é uma das coisas que não dá pra evitar. E eu também estou envelhecendo. Mas, com você na minha vida, eu sou
Coré, eterna adolescente. Vc faz com que eu me sinta com 15 anos de novo: boba, patética, medrosa. Eu, que pareço tão segura, fico tão apavorada. A ponto de tremer. De gaguejar. De fingir que não te vejo. De fugir de você de medo que você perceba no que me transformou: uma menininha de 15 anos, vivendo uma eterna primavera.
Você é minha primavera fora de época, Joel. E é isso que me impede de abrir a porta. E é não abrir a porta que vai transformar minha vida num inverno. Ou num inferno. A não ser, é claro, que eu não precise abrir a porta. Que... bom, você sabe. Que venha o verão, e não o frio.
Clem