Acordou com o celular tocando.
- Oi! Já tá acordada?
- Você acabou de me acordar.
Risos.
- Então, já que você tá acordada, posso ir praí?
- Achei que você viesse mais tarde.
- É. Já tô esperando um tempo pra te ligar.
- Vem.
Desligou e olhou no relógio. 10h40. Tinha dormido antes da 1h da madrugada e ainda tinha sono. A ligação, vinda de quem provavelmente tinha dormido bem mais tarde, fazia pouco sentido naquele horário.
Mais tarde, em frente ao computador, em tom de confidência, disse baixinho:
- Acho que fiz besteira ontem.
- O que você fez? - fingiu desinteresse, mas tinha medo de ouvir.
- Então, fiquei com X.
- Ah. - o desinteresse sempre era sua forma de disfarçar.
- Eu não queria.
- E pq ficou?
- Não sei... X queria...
- Sei. - ainda o disfarce.
A mãe falou algo da cozinha. Ela foi até lá. Fim da outra conversa.
Mais de um ano depois, lembrou desse dia. Da ligação na noite anterior, quando estavam separados há só meia hora, "lembrei de você". Da ligação de manhã, tão cedo, "posso ir praí?". Era tanto, era tão intenso. E já não existia mais.
Lembrou da outra conversa.
"X queria...".
Jamais entenderia o motivo da diferença.
Ela também queria...