sexta-feira, 30 de outubro de 2009

ela queria...

Acordou com o celular tocando.
- Oi! Já tá acordada?
- Você acabou de me acordar.
Risos.
- Então, já que você tá acordada, posso ir praí?
- Achei que você viesse mais tarde.
- É. Já tô esperando um tempo pra te ligar.
- Vem.
Desligou e olhou no relógio. 10h40. Tinha dormido antes da 1h da madrugada e ainda tinha sono. A ligação, vinda de quem provavelmente tinha dormido bem mais tarde, fazia pouco sentido naquele horário.

Mais tarde, em frente ao computador, em tom de confidência, disse baixinho:
- Acho que fiz besteira ontem.
- O que você fez? - fingiu desinteresse, mas tinha medo de ouvir.
- Então, fiquei com X.
- Ah. - o desinteresse sempre era sua forma de disfarçar.
- Eu não queria.
- E pq ficou?
- Não sei... X queria...
- Sei. - ainda o disfarce.
A mãe falou algo da cozinha. Ela foi até lá. Fim da outra conversa.

Mais de um ano depois, lembrou desse dia. Da ligação na noite anterior, quando estavam separados há só meia hora, "lembrei de você". Da ligação de manhã, tão cedo, "posso ir praí?". Era tanto, era tão intenso. E já não existia mais.
Lembrou da outra conversa.
"X queria...".
Jamais entenderia o motivo da diferença.
Ela também queria...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

quando é cômodo não saber

- minha irmã falou... tudo bem minha irmã saber?
- ah, vc contou? tudo bem...
- não contei, não.
- ai, ela percebeu, é?
- é.
- bom, tudo bem. sua irmã é bacana. mas como ela percebeu?
- sabe aquele dia que a gente tava no ônibus?
- sei.
- então... ela viu pelo jeito que você falava. sua voz, seu jeito. e vc mexia no cabelo.
- mexia, é?
- é. e ele ligou várias vezes num espaço de tempo bem curto.
- é.
- e, depois, quando a gente tava indo embora, que tinham várias ligações não atendidas dele e aí vc ligou correndo...
- saquei. não era normal, né?
- não. quer dizer, era... mas...
- não entre amigos. sei.
- aí ela desconfiou... e começou a reparar mais, qdo via vocês. teve aquele dia, logo depois. aí ela teve certeza.
- ah, sei. pq eu tava fazendo aquelas coisas todas e... enfim..
- é.
- mas era uma ocasião atípica.
- hmm... mais ou menos.
- é, não era. mas tudo bem ela saber.
- bom.
- afinal... quem não sabe, né?
- ele?
- na boa? ele sabe.
- (silêncio)
- é que é mais cômodo não saber.
- é.

*conversa perdida no tempo*

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A melhor. E ponto.

O assunto era A Invasão, que reapresentaríamos pela última vez naquela noite.

- Cada dia é uma versão diferente. - disseram.
- E qual vai ser a versão de hoje? - perguntaram.
- A melhor. - eu disse.

Acho a peça uma porcaria, sempre achei. Já na primeira vez tivemos problemas, alterações no elenco, desaparecimentos, ameaças e palhaços macabros. Pra reapresentar foi um sufoco. Ensaio com elenco completo? Impossível! E toda hora alguém pedia pra sair (ficaram com medinho?), alguém desistia. Cerca de 3 semanas antes da apresentação, novidade! E lá fui eu mudar de personagem...

E, mesmo com tudo isso, o sábado foi bom. Foi muito bom.

Domingo era a última. E aquele grupo era o melhor. Fato. Sem dúvida, o melhor grupo em que eu já estive. Pq ninguém estava lá por obrigação, pra terminar semestre, tirar um B, mudar de PA, acabar o curso, tirar DRT e ir pra Malhação. Todo mundo estava ali por querer estar e só. Por gostar do que fazíamos. Por amor ao teatro, por mais piegas que isso seja. Por paixão. Pura e simples.

Um grupo especial. Unido. Uma comunhão incrível. E, o melhor, um grupo que estava se divertindo. Que brincava no camarim. Que brincava em cena. Que embalava uma vaca de pelúcia da Parmalat como se fosse um bebê. Que chamava Gorila de macaco. Que segurava o riso quando ouvia "Deputado Deodato Hanashiro Nakagawa".

Um grupo de profissionais. Mesmo.

E um grupo de amigos.

Quem viu as duas versões, preferiu a do reapresenta.

E a versão de domingo foi, de verdade, o que eu previra: a melhor.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

como não usar o twitter

aviso: a censura foi necessária.

- ela pisou na bola comigo quando eu mais precisei.
- eu sei.
- bom, você lembra a situação.
- lembro.
- e ela tinha dado certeza.
- eu nunca daria.
- pois é, não tivesse oferecido, né? aí eu não tinha o que fazer. não tinha crédito, não tinha acesso a e-mail, não tinha ninguém no MSN. pânico total. e eu não podia ir pra casa, de jeito nenhum. tinha o twitter, mas o que eu ia fazer?
- você não poderia tuitar isso.
- nunca! imagina: não posso voltar pra casa, preciso de um lugar para dormir.
- melhor: preciso de um lugar para dormir, pois XXXXXXXX uma XXXX dizendo XXXXX.
(risos)
- melhor ainda: preciso de um lugar para dormir, pois XXXXXXXX uma XXXX dizendo XXXXX para @xxxxx.
(mais risos)
- que tal? preciso de um lugar para dormir, pois XXXXXXXX uma XXXX dizendo XXXXX para @xxxxx. RT, por favor.
(toneladas de risos)
- eu devia ter feito isso.

(tks, best, por me proporcionar as melhores conversas!)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

chacrinha, tim maia e 3 nelsons


- quero muito ver o filme do chacrinha. ah, uma vez, quando eu morava na maria antônia...
- vc morou na maria antônia antes?
- morei. morei na rua toda, aliás. então, aí eu morava lá com minha irmã e um dia ela chegou em casa à noite com cara de passada e disse "eu acabei de ver o chacrinha na escada!".
- oi?
- ela diz que viu um cara vestido de chacrinha, mas a gente desceu e não tinha nada.
- achei que ela tivesse visto, sei lá, o fantasma do chacrinha.
- medo.
- eu conheço alguém que trabalhou na casa que era do tim maia. dizem que é assombrada.
- deve ser legal o fantasma do tim maia. cantando o tempo todo.
- ah, mas parece que ele era bem chato. vc leu a biografia dele?
- não, é boa?
- é. é daquele, nelson... motta?
- ah, sei.
- eu gosto mais de autobiografias do que de biografias, mas é legal.
- eu gosto de ambas. queria ler a do nelson.
- que nelson?
- rodrigues.
- ah, vai saber? tem tanto nelson... podia ser o motta, o...
- podia ser o nelson ned.
- é. podia.
- a vida dele ia ser cheia de altos e baixos.
- que piada infame!
- é, a pior.
- podia ser pior. vc podia dizer que era cheia de baixos só.
- ou uma vida cheia de baixos e baixos.
- é.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

And it feels like... home.

Revendo Sala de Espera, entendi pq ainda é minha peça preferida. Não é pq o Ferdi aceitou a trilha sonora absurda, com direito a tema do "pião da casa própria", e mais uma dezena de sugestões bizarras minhas. Nem pq era meu gênero preferido. Nem por ser a peça preferida da minha família. Nem pq ouvir as risadas da plateia era uma delícia. Nem por tudo que aconteceu antes - complôs toscos - não darem em nada e eu ainda fazer 2 papéis. Nem pq interação com o público e improviso são duas das coisas mais divertidas do teatro, pra mim. Nem pq foi a primeira vez que eu tive a oportunidade de escrever e ainda encenar minha própria dramaturgia, ohmy! Por nada disso, embora sejam motivos fantásticos.

É pq não teve clima gostoso de camarim. Nada de conversas, risadas, saídas pra comemorar. Nada de todo mundo se abraçando, antes e depois. Nada de espírito de grupo.

É pq foi em um momento tão, mas tão difícil pra mim. Momento de descobrir coisas, de entender e não entender. De término, distância. de perder confiança, de deixar de acreditar, de não ter apoio, base, companhia. De esperar e não ter. De chorar, chorar, chorar... tudo que podia... antes do ensaio. Pq lá eu era tão forte e tava tudo tão bem e eu fingia tanto que minha vontade não era dizer "falacomigosejameuamigodenovomeabraçaporfavor".

E pq foi a única vez em que eu estive sozinha. Só eu e Sílvia. E Cyndi, ou visitante X (1? 4? não lembro!). Só eu e o figurino e o palco e as luzes e o som e a cena. E, então, eu descobri que eu podia não ser tão boa em tantas coisas, como tantas pessoas. Mas eu era profissional. E eu respeitava aquele espaço. Sagrado. E eu fazia o melhor que podia, deixando tudo que não pertencia ao palco, no lugar certo: fora do palco.

E foi aí que eu me encontrei. Eu, meu lar. E não há lugar como o lar... Pq quando você conhece sua mente, seu coração e sua coragem, você nunca - em hipótese alguma - se afasta do seu lar, pq ele está dentro de você.

Quanto aos tornados? Podem vir! E que venham também os tormentos. O tormento. No Kansas ou em Oz; here, there and everywhere, eu estou em casa.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

roland-sabe-tudo

“-Então, por que não quer olhar para lá? – Susannah perguntou.

- Porque é um problema – disse Roland – e está na nossa estrada. Vamos chegar lá quando for a hora. Não é preciso viver o problema antes de o problema começar.”