sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Longa jornada… noite adentro



Desde que eu entrei no Macu, tenho lido dezenas de peças de teatro. É necessário e eu acabei descobrindo que gosto muito. Mas são poucas as que realmente me impressionam e me dão vontade imensa e incontrolável de fazer.
Vestido de Noiva foi uma delas. É tão fascinante que dá vontade instantânea de ser Lúcia. E Gota d’Água; tão linda... Vontade de ser Joana. E Casa de Bonecas, forte, repleta de símbolos... vontade de ser Nora.
Mas nenhuma, até hoje, tinha me impressionado como Longa Jornada Noite Adentro.
No início do semestre passado, quando estávamos na eterna discussão de “eu quero comédia!”, “mas eu quero drama!”, lembro do Ferdi dizendo pra alguém que havia se encantado com a chatice sem fim de Fala Comigo Doce Como a Chuva (sim, acho um tédio só... e quase dormi na leitura!), “Se vc gosta de drama assim, deveria ler Eugene O’Neill”. Eu não gosto de drama assim. Informação descartada. Mas ficou lá, em algum cantinho empoeirado do meu cérebro.
Quando fui ao sebo essa semana e o livro praticamente caiu em cima de mim quando eu tentava achar algo para esse semestre. Comprei. Só no ônibus lembrei que era o tal cara do dramão, que eu nem gostava...
Ava. Passado. Me encantei pela peça, me apaixonei pelo seu Eugene. É impressionante a capacidade que ele tem pra criar tamanha densidade e intensidade usando um único cenário, 4 personagens e 4 atos, ao longo do dia (manhã, hora do almoço, fim de tarde e a meia-noite). São 4 encontros de uma família que é maravilhosa não por poder ser a família de qualquer um, mas exatamente por ser a família de qualquer um. Eles são uma família. Como todas.
Tudo bem, nem todos os pais são atores aposentados frustrados e mãos-de-vaca. E com certeza nem todas as mães são viciadas em morfina e sonhavam em ser freira. E definitivamente nem todos os irmãos são alcoólatras ou tuberculosos. Mas não importam os atos deles. Importam eles, os membros das família Tyrone. Importa que eles possuem medos, angústias, frustrações, loucuras, ódios, amores, paixões, rompantes... exatamente como todo mundo.
E é doído, mas lindo, ver como a família se deteriora ao longo da longa jornada. Eles se enfrentam, se acusam, jogam responsabilidades para os outros, se magoam, se machucam, se amam e se odeiam. Como toda família.
O fim pode parecer desastroso. Mas gosto de pensar que eles acordaram no dia seguinte e retomaram suas vidas. Exatamente como elas eram antes: nem melhor, nem pior. E continuaram sendo o que eram. Ou, como diria a matriarca, o que a Vida fez deles.
(Acho fantástico, aliás, que Vida tenha letra maiúscula para Mary. Assim, como se a própria vida fosse uma personagem, um alguém. E como se a própria vida tivesse vontades.)
O mais impressionante da peça não é a longa jornada que ela te obriga a fazer dentro de si mesmo. É o respeito tamanho que ela desperta. Que me fez não ter vontade de ser Mary. Por saber que Mary é tanta complexidade, tanta densidade, tanta intensidade, que até assusta. Torna-se sagrado. Intocável.

3 comentários:

Blower's Daughter disse...

Oi, querida!
Obrigada pelo comentário!^^
Então, eu falo um pouco de francês, tô fazendo habilitação de francês na facul!;)

Adoreeei o seu post! Mtooo bom! Fiquei com uma vontade enorme de ler essa peça!!! Parece ser incrível! Pelo menos, a reflexão que vc fez é!:D

Ah, Gota d'Água é mto bom mesmo, no encontrão do PA1 eu fiz uma cena, foi bom fazer a Joana!:)

Bjokas, amiga!
Adoro-te!^^

Karina Zichelle disse...

Oi, linda!
Como sempre as visitas por aqui são sempre recompensadoras.
Encantei-me com suas palavras e me enchi de vontade de conhecer essa longa jornada...


Quanto a Vestido de Noiva, eu também tenho uma vontade de representá-la, desde que a li! mas tenho vontade de encarnar a Alaíde.

beijokas e bons fluídos pra vcs nesse semestre. Quea escolha da peça seja sagrada!
^^

Fernanda Bello disse...

Preciso ler mais... Onde vocês conseguem as peças.