Acredito que emprestar algo é muito mais importante que dar, doar, ceder a mesma coisa. Ok, quando a gente dá algo, está abrindo mão desse algo e isso é extremamente nobre. Mas e quando você empresta? E eu não falo do emprestar já querendo de volta, cobrando e/ou comentando "cozamigo": "Emprestei coisa x pra Fulano há 2 semanas e nada dele me devolver". Falo do emprestar que é quase dar, do emprestar sem esperar de volta. No fundo, a gente sabe que vai voltar, mas não é algo que vai interferir no andamento da nossa vida.
Acho que é mais importante por um raciocínio que pode até não fazer sentido algum. Quando a gente dá algo que é nosso, deixa de ser nosso, passa a ser do outro. Não é mais meu, é seu. Já quando a gente empresta, ainda é nosso, mas, é, também, um pouquinho do outro. É meu e é seu. É, por algum tempo, uma posse compartilhada. É um pouquinho de meu que passa a ser, por tempo indeterminado, seu.
Por isso, acredito eu, existem pessoas que não gostam de emprestar suas coisas; pois é ter que dar algo seu, ter que deixar um pedacinho seu com alguém. E algumas pessoas simplesmente não suportam saber que uma parte sua é de outra pessoa, preferem abrir mão logo e ceder. Preferem o "seu" ao "nosso".
E talvez por isso, também, eu goste de emprestar minhas coisas. Pra saber que existem pedaços meus - em forma de livros e DVDs na maioria das vezes - por aí, com as pessoas que eu gosto, sendo meus e delas, lembrando da minha existência e do carinho e afeto que tenho por essas pessoas. Deixando de ser "meu", para ser "nosso".
(E, seguindo o raciocínio, algumas devoluções podem ser bem dolorosas...)
(E sem esquecer que sou bem possessiva, então, tem coisas que são simplesmente minhas e de mais ninguém.)