Ela tinha uma cor em cada parte de si. O sapato, a saia, a blusa, o esmalte, a sombra, o batom, o cabelo, os olhos. Cada um de uma cor. Não ficava kitsch, como deveria. Combinava com ela.
Ele perguntou qual era sua cor preferida e ela sorriu ao dizer "Lilás". Se bem que, pensava, ela também gostava do roxo. E do rosa. E do preto. E do verde. E do laranja. Só não gostava do marrom. Diziam que o lilás simbolizava evolução espiritual, transformação, que era uma cor que purificava, equilibrava. Ela gostava disso. Por isso, também, pesquisava sobre significado das cores. E, assim, descobriu que o marrom é sempre associado ao feio e ao sujo. Óbvio que ela não gostasse dele. E também descobriu um monte de outras coisas. Como que pessoas que gostam de cinza não costumam ter sentimentos. Ou carregam uma grande dor escondida. Mas, também, cinza era uma cor tão sem graça... quem escolheria o cinza como cor preferida? Só podia ser alguém sem sentimentos...
E ela perguntou:
- Qual é a sua cor preferida?
- Ah... cinza. - ele respondeu.
Cinza. Óbvio.