Livro: O Sentido e a Máscara
Autor: Gerd A. Bornheim
Doses de sabedoria:
* Ionesco trata o teatro como se fosse um brinquedo; manuseia-o a seu bel-prazer, e, como toda criança, termina por virá-lo ao avesso, desmonta-o, quer saber qual o seu segredo.
* Ionesco é antes de mais nada um destruidor, e não destrói apenas esse realismo teatral que, após dois mil anos de tradição, tornou-se a exigência espontânea de todo espectador. Sua vontade de destruição vai muito mais longe. Ionesco destrói - aparentemente, ao menos - tudo de que pode lançar mão, a ponto de não se saber com certeza se existe para o nosso autor algo de indestrutível ou, pelo menos, qualquer coisa que mereça a mão construtora do homem.
* De fato, através do riso o homem se sobrepõe à realidade de que ri, toma criticamente consciência do mundo que o cerca. No caso, diante da derrocada burguesa, de um mundo absurdo. Se nas criações de Ionesco a linguagem torna os homens incomunicáveis, o riso, aquém de toda linguagem, restabelece a comunicação. Mas o riso não fala, é preconceitual. O que resta, pois, é a deflagração da mais espontânea forma de convívio humano: o riso.
* Além de suscitar a presença do diretor, a consciência histórica tornou muito mais complexo o trabalho do teatro em sua totalidade. O ator, por exemplo, não pode mais ter apenas um estilo ou prender a sua arte a convenções fixas, como acontecia no classicismo francês ou no teatro elisabetano. O ator - ou ao menos o ator ideal - tende a possuir um domínio universal de todas as técnicas, de tal maneira que ele possa, ao menos, em princípio, trabalhar qualquer tipo de texto. Isso exige do ator um longo período de formação, que justifica por si só a existência, em nossos dias, das escolas de arte dramática.
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