quarta-feira, 6 de junho de 2012
R-E-S-P-E-C-T 2
Sete dias se passaram desde a última posição que tivemos sobre meu post anterior. Sete dias que poderiam parecer pouco, diante de sete anos de dor e saudade, mas que são uma eternidade. Ou sete eternidades, se existe algo assim.
Há sete dias, o que tínhamos era: o caixão da minha irmã continuava no mesmo lugar de sempre - mesmo com várias pessoas que trabalham no cemitério e na administração dos cemitérios da cidade afirmando o contrário, mesmo com documentação afirmando o contrário - , mas haviam colocado outro caixão em cima, há cerca de 2 meses. O tal procedimento que pro cara que manda nos cemitérios da cidade é normal, pra minha família toda e pras pessoas todas que conhecemos é surreal, pra mim é um absurdo e a gente pode chamar de "puxadinho de túmulo". Algo que parece saído de um livro do Garcia Marquez, mas está acontecendo DE VERDADE numa cidade do interior paulista.
A solução? Já tínhamos! Ou melhor, a administração do cemitério já tinha. Iam tirar o caixão da minha irmã pela lateral. Uma gambiarra no puxadinho! Genial, só que ao contrário. Aposto que quem leu pensou a mesma coisa que todos nós pensamos: mas o caixão de cima não vai desabar com tudo? Só que, óbvio, isso não era problema pra administração do cemitério. Ninguém da administração do cemitério é da família do morto do caixão de cima, então, ninguém estava se importando com a possibilidade do caixão dele desabar. Tenho, aliás, algumas hipóteses em relação à galera da administração do cemitério... 1. Eles não têm família; são todos órfãos abandonados ao nascer e que cresceram sem amor, atenção e afeto e, por isso, não entendem nada sobre o processo de luto de uma família (o que não os qualificaria como as pessoas mais indicadas pra trabalhar nessa área, não?); 2. Eles e todos os familiares deles são imortais, então, não aprenderam a lidar com a morte (e, de novo, esse é o tipo de gente certa pra cuidar de cemitérios?) e 3. Eles são todos da família da Marlene e não têm coração, como ela (e, aqui, não vou repetir a pergunta, pois já concluímos que seja lá quem está administrando o cemitério, não deveria estar fazendo isso).
Então, passaram-se sete dias em que NINGUÉM - repito: NINGUÉM - entrou em contato conosco, para nos posicionar. A única coisa que sabíamos era que a família do vizinho - a tal lateral por onde eles tirariam o caixão - havia pedido 10 dias para fazer a exumação e, assim, liberar o espaço pra que o procedimento escolhido fosse adotado. Mas a gente podia ficar tranquilo, pois eles estavam pressionando a família pra exumar logo, pra gente não esperar 10 dias. Como, galerinha do cemitério, como a gente pode ficar tranquilo sabendo que, na tentativa de amenizar nossa dor, vocês estão causando tamanha dor à família do vizinho? Tudo que estamos fazendo, agora, é no intuito de que nenhuma outra família passe pelo que estamos passando e é justamente o que vocês fazem?
Aí, cansada de esperar, a Sra. Melhor Mãe do Mundo (que é a minha mãe, no caso) entrou em contato com eles. Pra ouvir que eles entraram em contato com engenheiros da Prefeitura que, após análise, concluíram exatamente o que a gente falou logo no início: o caixão de cima ia desabar e a família do morto de cima não ia gostar disso. Então, após conversar com o Jurídico, eles tinham duas opções maravilhosas - só que não - para nos oferecer: pedir judicialmente que a família de cima - enlutada há dois meses, ressalto - autorize a retirada do caixão de cima -sendo que essa solicitação estaria em nome da minha mãe e, a partir daí, ela se tornaria a responsável total e teria que responder judicialmente caso a outra família reclamasse, enquanto a Prefeitura se isentava por completo - ou aguardar 3 anos pra que o morto que supostamente está em cima seja exumado. E o que eu me pergunto é que espécie de idiota eles acham que a gente é pra imaginar que a gente ia ficar super satisfeito com essa resolução.
Erro em cima de erro em cima de erro em cima de erro...
O que eles devem imaginar, já que não têm coração e vivem de procedimentos, é "Ah, o que são três anos pra quem já está lidando com essa dor há sete?". Quem, tendo um coração, conseguiria viver três anos carregando essa dúvida? E quem vai conseguir dormir tranquilo sabendo que outra família vai ter que lidar com essa dor?
O que eles querem é que a gente aguarde 3 anos. Por um motivo bem simples. A "responsabilidade" é da Prefeitura. Em 3 anos, teremos outro Prefeito e uma equipe inteira nova. Ou seja, quem tá aqui agora, quem errou agora, vai se isentar da responsabilidade sobre o caso. E, aliás, estamos em um ano político e ninguém quer nenhum bafafá em torno disso agora, podendo prejudicar quem quer o poder, podendo interferir na opinião pública.
Só que eu tenho um coração e ele é como o do Saramago: de carne e sangra todos os dias. Por isso, não aguento os três anos. Por isso, não tô ligando a mínima pro ano político (aliás, eu anulo meu voto todo ano mesmo, esperando que, um dia, o que Saramago descreve em "Ensaio sobre a Lucidez" se torne a realidade). Por isso, eu não quero que ninguém mais precise passar pelo que estamos passando e, pra isso, não me importo em prejudicar quem quer o poder e nem em interferir na opinião pública. Por isso, quero o bafafá. Quero mais é que saibam, que comentem. Por isso, exponho aqui, novamente, o que está acontecendo e, mais uma vez, peço que leiam e, se seus corações forem também de carne, compartilhem.
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Um comentário:
Meu Deus... vocês seriam os responsáveis? Precisaram de engenheiro para concluir que o caixão de cima poderia desabar? Gravidade?
Nojo...
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