Quando eu entrei no camarim, já fiquei um pouco mais triste. Era o último dia. Eu sofro de depressão pós-peça. Fato. Além de me apegar demais a coisas e pessoas. Os últimos dias de peça são sempre dolorosos pra mim
Pela primeira vez, me recolhi, quietinha, no escuro, na mesa de som e luz. Lembrei dos últimos meses. De tudo que aprendi. De tudo que vivi.
A primeira dorzinha no fundo do meu coração piegas veio na cena da sereia. A cena em que aquelas meninas – e sou fã de todas – ficam ainda mais bonitas. Ainda mais encantadoras. O canto das sereias tocou minha alma de uma forma assustadora. E ver a carinha triste da sereia da banheira, aquela lindeza que é a Amandinha, doeu. Parecia não só tristeza da sereia. Mas a tristeza de ser, pela última vez, a sereia.
E aí veio aquela cena doída, doída, doída. Despedida a maneira de Degas. Pyramid Song. “There was nothing to fear and nothing to doubt”. E lá estavam os dois, no silêncio constrangedor, desconfortável. Lembrando a coisa toda de encontrar alguém com quem os silêncios são confortavéis e de como isso é raro. E me fazendo pensar que ainda pior do que não ter alguém com quem os silêncios são confortáveis, é ter e deixar de ter; aprender a não ter; se acostumar aos silêncios desconfortáveis aos montes, se entregar ao barulho ensurdecedor por medo do silêncio. E do que ele te lembra. De como ele costumava ser bom. E nunca mais poderá ser... E os dois continuavam lá. No silêncio, sem graça, sem jeito. Sem saber como agir (e quem sabe?). E eu comecei a chorar.
E a cantata... Os encontros, as separações, os reencontros. Ode to Divorce rolando ao fundo. The face that i like. The kill. The kiss. The killer kiss. E eu pensando naqueles encontros. No encontro com aquelas atrizes e aquele ator e aquela diretora que tanto me ensinaram. Na separação que viria, em breve, inevitável. Nos possíveis e desejáveis reencontros. E nos outros encontros, separações e reencontros que fazem parte desse meu caminho que não existe, que se faz ao andar. Dessa minha vida. E de todas as outras.
E, então, a Kel dizia que o amor nunca foi fácil, nunca foi linear, a não ser quando não era amor. E todo aquele discurso otimista. E o não exigir dele o que não pode nos dar. E Piaf. Terminar com Piaf, com aquela que disse “Ame”, quando perguntaram que conselho daria a uma mulher, era o grande final.
No, je ne regrette rien. Nunca se arrependendo de nada.
Uma peça tão linda. Faz parte de mim, como fiz parte dela.
E acabou. E um amor rasgadérrimo surgiu. Pela peça. Pelas pessoas ali. Pelas outras pessoas. Pela vida. Terminei com um amor tremendo me rasgando o peito, a alma, o coração e se exibindo, orgulhoso, grande, puro. Eterno. Amor rasgado; amores rasgados.
2 comentários:
Tally!!!
Lindo, lindo, lindo!!! Texto perfeito!!! Suas palavras me fizeram sentir o amor rasgando, ainda mais do que a peça, ler seus sentimentos tocaram beeem no fundo! Vc é linda, amiga! Sua sensibilidade, sua maneira de expressar em palavras o que sente me comovem mto!
Ameeei ter vc conosco participando do processo, rasgando o amor junto com a gente, hehehe!!!
Te adoro, amiga!
Bjokaaaas!!!
Ai!! Tally!
Palavras mais lindas e verdadeiras do que essas para descrever as emoções e sensações que esse nosso trabalho fez surgir em nossas alma, não há! A sua habilidade de vivenciar e reproduzir essa experiência é tamanha e tão fiel que consegue transformar palavras em viva poesia!
Trabalhar ao seu lado durante esses meses todos foi maravilhoso!
Essa peça foi um bem que temos que trancar a sete chaves naquele nosso velho baú e deixar todas suas impressões nos encantar com a vida, com o amor, com nós mesmas.
Obrigada por tudo!!!!
Amo vc!
beijokas!
^^
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