quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O Básico em 05/06/2008

A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Já dizia Saint-Exupery. Na maioria das vezes, palavras não valem coisa alguma. Gestos. Ações. O jeito de olhar. O que se transmite pelos olhos. Além deles... O essencial é invisível aos olhos, não é? É e sempre vai ser. Sentir... É só o que importa. É só o que se leva. E salve o Pequeno Príncipe! E a sábia raposa...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O deleite e a maldição



Colocar a saia de paetê preto, a que faz barulhinho.
Lembrar da paixão à primeira vista pelo texto, de pensar "meu deus, imagina os figurinos, eu quero"; de ver a paixão crescendo durante a leitura, junto com a vontade de fazer aquilo.
Colocar a blusa branca, com ombreiras.
Lembrar da empolgação inicial, do deslumbramento, de ser a peça que eu queria, de ter pessoas que eu amava na turma; de ter, de novo, minha comunhão.
Colocar a sandália, alta e linda, única.
Lembrar da frustração de ver que aquela peça não era pra mim, pras pessoas que não cantam nada. De entender que ia ser divertido, mas ia ser o semestre em que eu ia ter menos possibilidade de me destacar.
Colocar os brincos brancos. Os colares pretos e brancos. As muitas pulseiras. O anel.
Lembrar da dedicação, da entrega, da comunhão, da amizade, do amor, da paixão. E da raiva, do ódio, do desprezo, da preocupação, do medo, da decepção, do ciúme. De tudo que acompanhou a estrada de tijolos amarelos naqueles seis meses e me levou até ali.
Colocar o turbante. A sombra verde e amarela. Caprichar no batom vermelho. Entrar no palco...
E esquecer! Esquecer de tudo e, por 1 minuto e 11 segundos, ser olhos e bocas bem abertos, ser malícia e inocência, ser mãos e quadris, ser diva... ser Carmen Miranda!

Guardar a saia de paetê preto, a que faz barulhinho. Com a lembrança de, depois de ter desacreditado por tanto tempo e fazer só por diversão, ter feito o que eu fiz de melhor até hoje, ter superado medos e vergonha, ter feito o que eu nunca soube fazer e ter dado mais do que eu sabia que poderia dar.
Guardar a blusa branca, com ombreiras. Com a lembrança dos boatos, dos melhores boatos que ouvi nesse ano, dos boatos que eu não ligo a mínima se eram reais ou não, mas me fizeram crescer.
Guardar a sandália, alta e linda, única. Com a lembrança da aprovação pro festival, de conseguir fazer a cena que eu tanto queria, da minha foto em 5000 folhetos, das sábias palavras da minha querida amiga: "dai a César o que é de César", de ver meu nome e a mesma foto em tão famoso e reconhecido jornal.
Guardar os brincos brancos. Os colares, pulseiras, anéis... Todos os balangandãs. Com a lembrança daquele palco, daquele dia, daquela correria, daquela realização, daquela sensação de estar vivendo o melhor dia da minha vida.
Guardar o batom vermelho (a sombra nem era minha). Com a lembrança da reação de todas aquelas pessoas, em todas as nove sessões. Do brilho naqueles olhos, das lágrimas, dos sorrisos, dos aplausos tão enfáticos. E a certeza da aprovação da família que tanto amo, de amigos tão especiais, dos dois diretores divinos do semestre de formatura, de desconhecidos e até do gênio que escreveu peça tão linda e apaixonante. E a felicidade de ter dividido o palco com a maioria das melhores pessoas que conheci nos últimos cinco anos.
E não guardar o turbante. Deixar ele bem perto, bem visível, pra que eu possa vê-lo todos os dias. E não esquecer que eu posso dar adeus à batucada e me jogar - de joelhos - no melodrama, e continuar sendo - em algum cantinho - um pouco e sempre Carmen Miranda. E Poetisa, e Ponciana, e Maria Rita, e Noêmia, e Lisístrata, e Juliet, e Zabé, e Lindalva, e Sílvia, e Cyndi, e Emília, e Nina, e Luciana...

O deleite e a maldição...