quarta-feira, 25 de agosto de 2010

junho / julho

em junho eu...

- operei luz em Boca de Ouro, peça ótima, dirigida pelo Wanderley e com o Maykol arrasando de Leleco.
- conheci a casa do Maykol.
- fui no Piaf de novo, com o Maykol
- assisti a peça da Jaque (que eu não lembro o nome, mas a Jaque, pra variar, era a melhor da peça).
- fui em festas juninas com a mãe.
- não assisti aos jogos da Copa. uhu!
- ganhei uma bota roxa linda da mãe.
- passei 3 dias nas apresentações de Rasto Atrás, que ficou maravilhosa, e chorei em boa parte das apresentações (morrendo de medo de errar a operação de luz).
- me diverti muito com a Camis e toda a família querida dela.
- passei 3 dias nas apresentações de Senhora na Boca do Lixo e quase morri de orgulho daquela turma que fez uma peça tão boa e me fez operar o som com uma alegria enorme.
- ganhei uma blusa da Mary Poppins divina da turma querida de Senhora na Boca do Lixo.
- me diverti com a Li e a família dela, como sempre.
- dormi na casa do Tio Zé com a mãe e ri muito com a Mariana.
- participei das festinhas de encerramento das duas turmas em que eu era assistente.
- ganhei um sapo (outro! eba!) do "oh, captain, my captain".
- não consegui ler nenhum livro inteiro.
- tive unha roxa.
- assisti "Astro, Patas e Bananas", peça incrível, com uma cena final fofa-fofa-fofa, no TUSP.

em julho eu...

- assisti A Megera Domada, peça da ex-diretora.
- assisti Cyrano de Bergerac, peça maravilhosa, com um elenco de pessoas queridas, principalmente, a Cyranemília.
- assisti Shrek para sempre, que é divertido e bonitinho, mas acaba sendo o pior da série, por ser correto demais (não existe nem piadinha com o Pinóquio dessa vez. e ele usa tanga.)
- viajei com a família pra Penedo, Rio, Cabo Frio e Niterói, revi toda a família de lá, me diverti muito (mesmo com gripe) e andei no bondinho até o Morro da Urca à noite (e é muuuuuito mais legal do que de dia, fato.).
- fiz um teste surreal.
- voltei a usar internet discada. super empolgante... not!
- li 11 livros.

sábado, 21 de agosto de 2010

Diário da Emília - 10/02

Minha redação foi a melhor da sala e eu li ela na frente de todo mundo. Algumas pessoas invejosas implicaram comigo e falaram que eu era CDF. Eu perguntei o que era isso e o pai disse que era uma besteira muito grande e que eu não deveria saber. Eu vou perguntar depois pro Aldo, meninos sempre sabem besteiras muito grandes. A redação era pra ser sobre a vida de alguém que a gente admirava. A Ruth também tirou 10 e ela fez sobre uma dessas atrizes que ela gosta, americana. Eu não achei justo. Minha mãe disse que era pra eu fazer de alguém bom e que tivesse se preocupado com a Humanidade. Aí eu perguntei pro Padre João qual era um santo muito bom, que eu pudesse escrever sobre a vida dele. Ele disse que eu era uma boa menina e falou "Você deveria escrever sobre a Santa Emília, ué?". Eu nem sabia que ela existia! Tomara que não seja pecado não saber sobre uma santa que tem o mesmo nome que eu. Aí eu pesquisei e descobri que ela era francesa e foi criada pela vó e o nome todo dela era enorme. Vou copiar: Marie Gillenette Emilie de Rodat. Ela nasceu em 1787. Acho que nem a mãe era nascida nessa época. Nem a bisavó Emília, talvez. A Santa Emília era professora antes de ser santa e ela era muito inteligente e estudiosa. Ela também cuidou de crianças pobres com o dinheiro da família dela e fundou uma escola. Aí ela foi fazendo um monte de escolas e instituições e, no final, fez 38. Cuidou de mulheres, de órfãos, de prisioneiros, de idosos. Ela mesma cuidava dos doentes e eles eram curados com a benção dela. Depois que ela morreu, as pessoas iam visitar o túmulo dela e aconteciam milagres. Aí ela virou santa. A Ruth disse que a redação dela era mais legal que a minha. Ela é muito burra. Quando eu crescer, eu acho que quero ser professora. E santa. Eu vou cuidar dos pobres, dos velhos, de todo mundo. E dos meus filhos também, é claro. Eu sou muito bondosa.

Emília

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A Princesa e o Menestrel

Tinha nascido uma princesa. Natural, pensando que seu pai era um rei e sua mãe, uma rainha. Só que as coisas nunca são simples no fantástico mundo dos contos de fadas. Sendo assim, por algum motivo muito mais mágico do que racional, um mago - daqueles bem maldosos, estilo Gargamel - através de um feitiço maligno, tomou conta daquele reino e obrigou seus monarcas a esquecerem suas origens nobres e viverem o resto da vida como camponeses. A princesa, nessa época, ainda não tinha completado um ano de vida e, portanto, não tinha consciência de que era uma princesa e do que isso representava. E cresceu achando que era uma camponesa...

As amigas camponesas da menina, em um determinado momento da existência, cansaram de suas bonecas de pano e começaram a sonhar com casamentos espetaculares, que elas chamariam de "casamentos de contos de fadas" se já não vivessem em um conto de fadas. E o que todas queriam, o melhor futuro que podiam sonhar, era um príncipe. Um príncipe que chegasse à aldeia, se apaixonasse por uma delas e a levasse pra um reino distante, cavalgando em um garboso cavalo branco. Tudo caminhando para o "felizes para sempre".

A princesa, por sua vez, era racional, avançada para a época. Sabia que, sendo uma camponesa, a possibilidade de casar com um príncipe era quase inexistente. E contentava-se com o futuro previsto, o que podia ter: o casamento com um dos rapazes da aldeia e os filhos que teriam. E era feliz...

Até o dia em que alguém diferente chegou à aldeia. Não o príncipe sonhado pelas solteiras, mas um andarilho. Na verdade, um menestrel, que vagava pelo mundo, levando sua arte - e vivendo dela. Tocava e cantava em troca de um pão, um abrigo, uma peça de roupa ou um sorriso. Sua música era divina, mas suas economias escassas não faziam com que ganhasse corações e nem com que fizesse as mocinhas suspirar.

A princesa, porém, com toda sua racionalidade, não era capaz de fazer análises econômicas. A alma nobre a deixava mais próxima ao intangível e mais suscetível aos mandos do coração. Ela não enxergou o futuro quando viu o menestrel, só viu o que era essencial - e, talvez, invisível à maioria dos olhos - a música que ritmava seus batimentos cardíacos, o olhar doce, o sorriso impetuoso. Sem nem entender desses mistérios humanos, a princesa que achava que era só camponesa - estava apaixonada pelo menestrel.

Ela passou a segui-lo: primeiro com os olhos; logo depois, descontroladamente, com os pés. Acordava com o primeiro acorde e só se entregava ao sono após ouvir a última nota.

Quando ele lhe perguntou seu nome, ela achou que morreria. Não morrera. E não entendia como era possível sobreviver a tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo dentro dela. Sua respiração se alterara, o coração disparara, o estômago congelara, as mãos suavam, a boca secara e o mundo se inundara de todos os sons e luzes e cores e sensações e gostos do universo. Ao mesmo tempo, teve a certeza de que trocaria o mais belo dos príncipes por aquele músico, mesmo que decepcionasse suas amigas.

Por um acaso ou por desígnio do destino, eles se aproximaram. Ele demonstrava uma simpatia maior por ela. E, com o tempo, ela até percebia um certo carinho, mas não sabia se era suficiente para se transformar em amor um dia. Os dois estavam sempre juntos, conversavam muito e ela, a todo momento, esperava que ele sentisse o mesmo que ela.

Um dia, diante de tantas manifestações positivas dele, criou coragem e lhe pediu que a levasse com ele, quando chegasse a hora de ir embora. "Você não sabe cantar. O que faria comigo?" Ela, com uma coragem que, até então, desconhecia, disse, baixdinho, sem conseguir encará-lo: "Eu seria sua mulher". O silêncio dele fez com que a princesa achasse que deveria falar mais e ela explicou como estariam sempre juntos e como ela faria tudo por ele e para que ele fosse sempre feliz. Sem sequer levantar a cabeça, que fitava os pés, ele disse "Vou me deitar". E saiu.

No dia seguinte, ela não o encontrou. E nem no outro. Até o dia em que ele parou ao seu lado e sussurrou "Estou indo embora". Ela se limitou ao silêncio e, ao perceber que ele não estava mais por perto, ao choro. Silencioso e sofrido.

Algum tempo depois - é difícil mesurar o tempo em contos de fadas - ele voltou. Animado. Quando se encontraram, ele disse que gostava muito daquela aldeia e que tinha sentido falta do lugar. E que tinha sentido falta dela. Ela reprimiu um sorriso e disse um pesado "Eu também".

E voltaram a se encontrar e a conversar. Ela voltou a definir o ritmo de sua vida pela música dele. E ele decidiu ensiná-la a cantar e a tocar. E, assim, eles passaram bons momentos juntos.

Até a noite em que, sentados próximo à fogueira, ele lhe perguntou: "Você ainda iria embora comigo?". Ela sabia a resposta que ele esperava: que, sim, ela iria, como amiga e companheira musical. Mas ela precisava ser sincera com sua alma e disse "Sim. Como sua mulher." Ele disse, tão baixo que ela quase não ouviu:"Eu jamais a levaria, nessas condições". "Eu sei", ela respondeu, "Como sei que você nunca vai me levar". O silêncio já parecia durar horas, quando ela disse "É porque eu sou uma camponesa. Se eu fosse uma princesa, importante e nobre, você me levaria. Todo mundo tem seu sonho. Quer seu príncipe ou princesa encantada. Eu errei, por querer o menestrel". E, em um rompante, se levantou, sem dar tempo para uma resposta dele.

No dia seguinte, ele não estava lá. E nunca mais voltou...

Tempos se passaram até que um visitante diferente aparecesse. Dessa vez, um príncipe. De cavalo branco e tudo. Imponente, mas sensato: recusou o convite para se hospedar no castelo do malévolo mago-rei, outrora o castelo dos pais da princesa, e montou acampamento no centro da aldeia.

As moçoilas casadoiras estavam eufóricas: uma delas poderia ter a chance de ter o futuro tantas vezes desejado, sonhado e planejado.

A princesa não viu graça no príncipe. Ele nem era tão bonito. E não sabia fazer música...

Só que, de novo, o acaso - ou o destino - agia e, talvez por um reconhecimento de sangues azuis correndo nas veias, o príncipe se apaixonou pela camponesa que era, na verdade, uma princesa. Ele sabia que ela era só mais uma moça da aldeia, mas enxergava diferenças: seu porte era diferente, seus olhos eram diferentes, sua aura era diferente. Ela era uma camponesa, mas com a graça e a leveza de uma nobre. E ele se encantou...

Vagarosamente, se aproximou. Respeitoso e educado, cortejou-a aos poucos. Sem pressa, mas com muito afeto. E, após algum tempo, as doces palavras do príncipe já soavam como música para a princesa. Ele não provocava todos aqueles efeitos internos - e, talvez, ela nem queria que ele provocasse, pois aquilo parecia uma doença -, mas ele fazia com que seus olhos brilhassem e sua alma dançasse. Ele fazia com que ela se sentisse feliz.

Quando ele decidiu voltar ao seu reino, a convidou para acompanhá-lo. "Eu sou uma camponesa. O que eu faria?"; "Seria minha mulher", ele disse. E, como ela parecia em choque, completou dizendo como eles sempre estariam juntos ele faria tudo por ela e tudo pra que ela fosse sempre feliz. Ela lembrou que, um dia, fizera essa mesma proposta a alguém. E ela percebeu que era muito melhor estar desse lado. Sem hesitar, disse "Eu vou".

No dia seguinte, ele não estava lá. E nem ela e nem os pais dela. Em um reino distante, casaram-se. E ela resgatou o que era seu por direito: tornou-se princesa. E eles viveram felizes para sempre...

EPÍLOGO

O que acontece depois do felizes para sempre? Quem quer saber? Tão bom chegar à felicidade eterna...

Só que, em algum momento, eles se rencontraram: a princesa e o menestrel. Obra do acaso. Ou do destino. Talvez isso tenha ocorrido alguns meses depois. Ou anos. Ou séculos. Talvez o príncipe ainda estivesse vivo, talvez não. Talvez, quando aconteceu, eles já fosssem rei e rainha. Eles foram felizes para sempre e é só o que importa. Mas, em algum momento, eles se encontraram.

E, então, o menestrel disse "Vejo que agora você é uma princesa". E ela respondeu: "Sempre fui. Apenas faltava que alguém - nobre, bom e justo - percebesse isso. Alguém apto a me amar. E alguém digno de receber o meu amor". Ela sorriu, enquanto dizia isso. Parados frente a frente, ela continuou sorrindo. Acariciou os cabelos do homem que lhe parecera tão especial. E percebeu o que ele era: um menestrel. Só um menestrel. Nunca - jamais - um príncipe. Afastou-se, nunca mais o viu, e continuou vivendo feliz para sempre.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Eu li num livro 5

Livro: Como me tornei estúpido

Autor: Martin Page

Dose de sabedoria:
* "Nesse momento, Antoine não se recordou de que um dia soubera que é sempre a si mesma que a pessoa corrompe mais facilmente."

terça-feira, 3 de agosto de 2010

LINDALVA

Meu pai e minha mãe foram vizinhos desde a infância. Cresceram juntos, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Quando minha mãe fez 18 anos, eles acharam que tava na hora de mudar de vida. Casaram e mudaram pra São Paulo, achando que seriam felizes e ganhariam dinheiro. Ele logo começou a trabalhar como pedreiro. Ela demorou mais, mas conseguiu trabalhar como babá dos dois filhos de uma madame. Tudo ia bem. Mas aí ela ficou grávida.

Depois que Maria Aparecida, minha irmã mais velha, nasceu, minha mãe queria voltar logo a trabalhar, mas ela logo ficou grávida de novo. E aí nasceu a Maria da Graça. Com duas crianças pra criar, seria difícil voltar a trabalhar, ainda mais morando longe da família, sem nenhum conhecido pra tomar conta das crianças. Pra piorar, naquele tempo pouca gente cuidava pra não engravidar. E meu pai também não ia querer. Primeiro, pq ele era religioso e achava que era pecado. Segundo, pq ele queria mesmo era um filho, um menino. E, assim, vieram a Maria da Conceição e a Maria Auxiliadora. E minha mãe, que, quando nova, era alegre, cheia de vida e de planos e chegou a sair de casa escondido pra namorar e ir pra quadra da escola de samba, estava com pouco mais de 20 anos , quatro filhas e grávida de novo. E meu pai, que trabalhou a vida toda, conseguia pagar a comida e olhe lá!

E, então, eu nasci. Antes da hora. Mirradinha. E branca. Meu pai, esqueci de dizer, é negro. Minhas irmãs, todas, mulatas. E eu nasci branquela, igual minha mãe. Todo mundo sempre disse que eu era a cara dele; mas ele nunca acreditou que eu era filha dele. Minha mãe jurava de pé junto que nunca tinha saído com outro homem, mas ele não acreditava. E, quando ele me viu, fraca, quase morrendo, disse "É melhor que morra. Já tenho quatro meninas minhas em casa, não preciso dessa".

Eu passei 2 meses no hospital, num morre/não morre. Minha mãe lá, todo dia, rezando. Meu pai brigando com ela, dizendo que ela tava largando as outras filhas. Foi uma enfermeira que me salvou. Ela não aguentou ver o sofrimento da minha mãe e disse "Pra isso não adianta ficar só rezando. Conheço uma mãe-de-santo que é tiro e queda". No desespero, minha mãe aceitou. Meu pai nunca soube. Mãe Lindalva me benzeu e disse "Morre, não. É filha de Oxalá". Dois dias depois, minha mãe me levou pra casa. E me batizou. Disse pro pai que fez promessa e que eu tinha que chamar Lindalva. E, por eu ser a única que não era Maria, ele teve certeza de que eu não era filha dele.

Ele nunca me deu um presente. Minhas irmãs, mesmo com o pouco dinheiro, ganhavam bobeirinhas dele. Eu não. Eu só apanhava. Quando fazia algo errado. O problema é que ele achava tudo errado. Tudo que eu fazia. Se eu comia pouco, era errado. Se eu comia muito, também. E, às vezes, ele também batia na mãe... Eu nunca ouvi ele dizer meu nome. Só me chamava de “a branca azeda”. Pra minha mãe, dizia “a sua filha”. Pras outras pessoas, “a filha da Mirtes”.

Quando pequena, eu queria tanto que ele gostasse de mim. Com o tempo, cansei. Percebi que não adiantava ser a melhor aluna da escola, ajudar a mãe em casa. Ele continuava me odiando. E me batendo...

Quando eu fiz 12 anos, ele disse pra mãe que não tinha como sustentar 6 mulheres. E me mandou morar no Rio, com minha vó. Nessa época, o vô – que eu nem conheci – já tinha morrido. Os pais da minha mãe, no caso. Os pais do meu pai tinham voltado a morar no Ceará, porque lá era tudo mais barato. Ou eles achavam que era.

Morei 5 anos com a vó. Ela cuidou de mim, como minha mãe cuidava. E era melhor pq eu não precisava dividir a atenção dela com minhas irmãs. Lá eu tinha amigos também. A gente ia pra praia, ia na Igreja. E, de vez em quando, ia pra quadra.

Eu sempre gostei das noites na quadra... Quando fui pela primeira vez, a vó disse “Se o sangue da sua mãe corre nas suas veias, você vai amar. Quando era mocinha, ela saía escondida à noite e ia pra lá”. Ela tinha razão. A bateria, o calor, a alegria daquelas pessoas. Ali, era Carnaval o ano inteiro. E se era feliz. Sempre.

Aí a vó ficou doente. Cuidei dela o quanto podia. Só que ela já era velhinha. E morreu. Eu achei que perder a vó era a pior tristeza. Besteira! Pior foi ter que voltar pra São Paulo, pra junto da mãe, das Marias e do pai. Pior era deixar de ser “a paulista” e voltar a ser “a branca azeda”.

Minha mãe e minhas irmãs pareciam todas a mesma pessoa. Muito magras, sofridas. Todas muito religiosas. Com roupas iguais, as mesmas saias compridas, as mesmas blusas muito fechadas. Todas sem cor. Meu pai estava velho, muito velho. Me olhou e disse “Você virou uma perdida lá ou já tava no teu sangue?”. E começou a xingar minha mãe, por ela ter uma filha como eu. Por causa das minhas roupas coloridas, meu short curto, meu cabelo solto, meu batom, meu perfume. Disse que eu só queria caçar homem. Eu tinha 17 anos e nunca tinha nem beijado um rapaz. Acho até que, por causa do pai, eu tinha medo deles. Eu só gostava de me enfeitar, de ficar bonita.

No primeiro ano, eu apanhei toda semana. A mãe também. Não demorou pra eu descobrir que ele bebia toda noite. E que o dinheiro que sustentava a casa vinha das costuras da minha mãe e não do trabalho dele. Maria Aparecida casou em dezembro e eles foram morar em Minas. Ele era da Igreja.

No segundo ano, ele bebia, chegava em casa chorando, dizia que tinha saudade da Cida e batia ainda mais em nós duas. Comecei a trabalhar no Centro, de garçonete, pra ajudar em casa. Na condução, conheci a Doracy. Um dia ela disse “Você gosta de samba, Dalva? Vou te levar num lugar que é um escândalo”. Me levou pro ensaio de uma escola de um bairro lá perto. Quando a gente entrou, ela me mostrou um rapaz que cantava com toda a alma. Até emocionava o jeito que ele cantava! E ela disse “Aquele é o Bola Sete. É ele que escreve os sambas. Sou doidinha por ele, mas todas essas mulatas daqui são.” Ficamos sentadas numa mesa e lá pelas tantas o tal veio andando em nossa direção. Doracy não acreditava “Jesus, Maria e José! Com tanta mulata quer samba melhor que eu, ele vem falar justo comigo!”. Aí ele me olhou e disse “Não sabe sambar?”. Eu acho que eu fiquei vermelha, eu não tava acostumada a falar com homem, assim. Disse que sabia e ele disse que a gente tava perdendo tempo ali. Fomos, nós três, pro meio do povo. E eu dancei. Fechei os olhos, lembrei de como era feliz quando morava com a vó e sambei. Quando abri, vi que tavam me olhando e perguntei pra Doracy “Fiz algo errado?”. Foi ele que respondeu. “Fez, não. Você é melhor que quase todas as mulheres dessa quadra, só isso.” Doracy disse “É, você até que fez bem.” E aí chamaram o Bola Sete pra cantar de novo. Antes de sair, ele disse “Eu vou casar com você, nêga!”. Doracy quis logo ir embora. No ônibus disse que não tinha gostado e não voltava mais lá. E que Bola Sete era insuportável. Nessa noite demorei a dormir. Eu só pensava numa palavra: “nêga”. Ninguém nunca me chamou assim. E eu gostei muito de ouvir alguém chamando... Mas, sem Doracy, não voltei lá. Doracy encasquetou de ir num forró. Foi péssimo, eu não consegui dançar e eu que não ia dançar com homem nenhum. Ela dançou a noite toda. E quis voltar, e voltar, e voltar. No final do ano, foi a Graça que casou. Com o irmão da Cida. E eles foram morar todos juntos, em Minas.

O pai dizia que agora só tinha metade das filhas dele com ele. Bebia mais, chorava mais. Pra não apanhar, eu saía. E foi numa dessas fugidas que decidi voltar na quadra da escola de samba. Sozinha. Mais de um ano depois...

Botei o pé na quadra e ouvi a voz dele. “Achei que nunca mais ia te ver, nêga. E aí, como eu ia casar com você?”. Bola Sete. Conversamos muito aquela noite. Ele foi gentil, educado. E não parava de me elogiar. Cheguei em casa leve, feliz... e apanhei. Foi assim por 6 meses. Longas conversas com o Bola e surras tremendas em casa. Até o dia em que não aguentei. Ele estava bêbado, pediu uma cerveja, minha mãe disse que não tinha dinheiro, ele deu um tapa na cara dela. E disse “Vai comprar a cerveja, branca azeda”. Eu disse que não, ele levantou para me bater e eu disse “Eu tenho 19 anos e sou a única das tuas filhas que trabalha. Trabalho pra dar comida pra minha mãe, pras minhas irmãs e pra você. Não pra comprar cerveja. Se você encostar um dedo em mim de novo, eu vou pra polícia e ninguém mais come aqui”. Ele me olhou. Só. Com ódio, muito ódio. E disse “Você não é minha filha, vagabunda!”.

Nessa noite, cheguei na quadra chorando. Bola me abraçou e disse que tudo ia dar certo. E eu dancei. Como nunca. Foi nesse dia que beijei Bola pela primeira vez. E foi também a primeira vez que eu beijei. Que estive com um homem.

Quando Maria da Conceição ficou noiva e eu percebi que as coisas iam piorar, disse pro Bola que eu não podia ficar mais em casa. Ele disse “Eu não tenho dinheiro pra gente casar ainda, nêga.” e eu disse que eu não precisava de dinheiro pra ser a mulher dele. Achei bonito ele querer fazer tudo certo, mas não dava pra esperar. Ele foi comigo até em casa, fiz minha mala. Quando tava saindo, já na rua, o velho apareceu. Bêbado. Perguntou aonde eu ia. Disse que ia morar com Bola Sete. Ele disse que não ia deixar e agarrou meu braço. Antes que eu falasse qualquer coisa, o Bola já tava dizendo “Larga minha mulher agora. Ela vai comigo e eu vou cuidar dela como você nunca cuidou”. O velho ainda disse “Se você for embora, não é mais minha filha.” e eu, com um orgulho imenso, disse “Eu nunca fui sua filha, esqueceu?”.

Não vi mais ele. Nenhum deles. Quando voltei pra ver a mãe, dois meses depois, a casa tava vazia. Encontrei Doracy no caminho. Ela não sabia deles e contou, toda feliz, que tava de casamento marcado e que o noivo era da Eletropaulo. Contei que eu também ia casar de verdade com o Bola, quando ele tivesse dinheiro. Ela riu e disse “Ele nunca vai ter dinheiro. E sambista não casa. Logo aparece outra mais nova que você e mais gostosa. Aí que quero ver o que você vai fazer”.

Hoje tenho 25 anos. Nunca mais vi minha família. Quer dizer, minha família agora é o Bola. Doracy tava certa quando disse que a gente não ia casar, com bolo, véu e grinalda. Mas nem precisava disso... Ela errou quando disse que ele me trocaria. Troca, não. Eu sei que o que a gente tem é pra sempre. Dinheiro a gente não tem, mas tem o mais importante: um ao outro. Doracy não casou? Marido da Eletropaulo e tudo. E continua aqui no morro. E eles tão pior que a gente, pq ainda têm dois filhos pra criar. Pelo menos, Deus teve a sabedoria de não dar filhos pra gente. Bola não quer que eu trabalhe e ele ganha muito pouco com os sambas dele. Mas a gente tem o barraco e dinheiro pra comer e pra pagar seu Mané Gorila. Então, tá bom. E eu sei que ele é bom, faz cada samba que até me arrepia. Um dia, a gente ainda vai mudar pra um lugar melhor. E, quem sabe, até ter filhos. Aí quero ver o que a Doracy vai falar, aquela invejosa.

De uma coisa eu sei. Eu já nasci brigando pra viver. E depois briguei com meu pai. Eu não desisto, não me entrego. Sei que a gente não nasceu pra sofrer e tem que ter fé e esperança. E sou filha de Oxalá.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

The lion and the lamb

This will be one of those months that bring all sorts of startling developments, just when your guard was down because you assumed it would be a sleepy, routine little month.

You may decide you must start to get to the gym on a regular basis and begin to eat more nutritiously. This revelation may come because you love the gym and miss the release of tension you used to get by going there. Or, it may come because your doctor or friend says something to you that makes you reevaluate your habits. It really doesn't matter why you change your ways, only that you do.

On the psychological side, if there is a habit that you know you need to give up, seek help this month. It doesn't matter if it is for an addiction big or small, or if you have a fear that has been holding you back. The powerful planets in cardinal signs will give you the energy and the determination to bore through a brick wall if you have to do so. You can find the right help now. Don't assume that just because you weren't able to succeed in the past that your past disappointment will predict your future - it won't.

Romantically, August takes on a much softer, gentler feel after the Sun moves into highly compatible Virgo for a month, beginning on August 23. You have been operating under Saturn in Virgo, an aspect that started September 2007 and that created obstacles in finding love or to enjoy the love you found (due to enforced separations). Now, as of July 21, all those barriers have fallen, for Saturn has moved on to Libra. Your road to love is now wide open.

Also, your personal social and romantic life will be boosted by the return of Uranus to Pisces on August 14, to stay until March 11, 2011. Jupiter will join Uranus on September 9, so things are about to get better and better for you! Rarely has your outlook been this wonderful for finding new love and for enjoying the love you share with someone special. Your personal life is about to bloom, dear Taurus, in a big way.

There's more coming! You will see just how lovely life can be on August 24 plus or minus four days, thanks to the full moon in poetic Pisces, due to brighten your eleventh houses of events, fun, people, and friendship.

In all ways, the month may enter like a lion, but it surely will end like a lamb. The good part is, although you may feel forced to make a few tough decisions, you will, and you'll be able to move on with your life. The social aspects truly glitter at months' end, sure to lift your spirits. Be sure you enjoy all your most social days, dear Taurus!

Things will improve! An enchanting party may be on your agenda on August 24 or within four days of his date. It's a "must" so send your RSVP!

Your most romantic, fun dates of the month include: August 11, 20-21 (gold star, when Mars embraces Venus), August 24-26, and 29-30.

Your worst day: August 7 when Venus opposes Uranus. Keep your head down and out of the line of fire.