Eu não lembro em que livro do Stephen King li esse poema. Era a introdução de algum. O que importa é que esse pequenino texto sempre mexeu muito comigo. Passei essa semana toda pensando nele. E, ontem, quando depois de meses e meses, vi Roland finalmente chegar à Torre Negra (e, sim, fiquei passada. e, sim, mudou minha vida. e, sim, recomendo.), pensei, de novo, nestas palavras. Dessa vez, com mais força. Commala-venha-venha. Ka.
"No deserto, Vi uma criatura, nua, bestial, Que, agachada no chão, Tinha nas mãos o coração, E dele comia... Perguntei, "Está gostoso, amigo?" "Está amargo - muito amargo", ele respondeu, "Mas gosto disso Porque é amargo E porque é meu coração." (Stephen Crane)
Todo mundo deve ter percebido o quanto me apaixonei pelo teatro nos últimos anos, o quanto me encontrei nesse mundo mágico.
Muitas pessoas sabem que nos meus 15/16 anos, eu já tinha feito aula de teatro. Na escola, na roça, mas com um professor incrível (o grande Bira). Entrei por acaso. Minha irmã, que é aparentemente menos tímida do que eu (na verdade, é uma fofura de tão jeca e eu sou beeeem mais “descolada” que ela, mas, enfim, eu uso óculos e isso define tudo), começou a fazer o curso. Eu, que estava no terceiro colegial, não podia fazer o curso. A escola – ridícula, hoje percebo – achava que em ano de vestibular, os estudantes devem se concentrar em estudos e coisas sérias. Como se não se estudasse teatro e não fosse “sério”.Fui só pra acompanhar minha irmã, pq ela dizia que era super legal. Não saí mais. Quando acabei o colegial e saí da escola, continuei, por um tempo, com o Bira, num curso/grupo. Até que o Bira foi embora. E, com ele, o teatro na minha vida.
Pausa: Nas aulas do Bira trabalhamos um texto insano que eu amava. Pesquisei (santo Google!) e acabei de descobrir que esse texto chama “O Defunto” e é de um dramaturgo francês e é teatro do absurdo. Que é só meu gênero preferido hoje, agora que eu conheço melhor. Incrível!
Bom. Anos se passam. Muita coisa acontece. Em 2006, eu começo a falar em voltar a fazer teatro, a procurar cursos.No final do ano, meu pai me dá de Natal a matrícula. Em 2007, começo. Por começar. Terapia. Mas não paro. Em 2008, ao som de “Mad World”, de vestidinho azul e trancinhas, na beirinha do palco, vendo o público entrar, percebo que não vou conseguir parar. Talvez nunca. No final do ano, depois de meses desgastantes, problemas pessoais, saio do palco e tiro o sapato vermelho. Meu pé sangra. Dói. E eu não havia sentido nada em cena. Em meio ao caos que rondava minha mente naquele momento, me encontro. Era isso. Era isso que eu queria pra mim. Todo o pacote, incluindo as dores, os pés sangrando.
Entre o Bira sumir e eu perceber que precisava voltar, existe algo importante. E, pra explicar, eu preciso voltar muitos e muitos anos no túnel do tempo.
Eu passei minha infância, pré-adolescência, adolescência e tudo mais sendo a irmã mais velha de duas irmãzinhas. E minha maior alegria era entretê-las. Era contar historinhas, fazendo vozes diferentes para cada personagem. Inventar histórias loucas. E fingir. Fingir que era bruxa, princesa, fada, macaco, retardada mental, monstro, corcunda. Fingir pra assustar, fingir pra ouvir a gargalhada delas. Minha mãe me via de dentadura de vampiro, lençól amarrado como capa e óculos escuros (era a época de Vamp, minha gente) e dizia “Essa menina vai acabar fazendo teatro!”. E, de repente, lá vinha a Bruna correndo,dando gritinhos e a Dan rindo, rindo e, atrás, eu arrastando uma perna, com o corpo todo torto e grunhindo, e Dona Denise dizia “A Tata vai acabar sendo atriz...”. Não, eu não ia. Eu sepre fui tímida. Fazer aquele tipo de coisa na frente de todo mundo? Num palco? NO WAY!
Por isso, quando o Bira sumiu, eu não senti necessidade de procurar outro curso, de continuar fazendo aquilo. Pra que? Eu jamais faria aquilo de verdade, né?
É. Até 2005, era. Em 2005, tudo mudou. Minha vida mudou. Por inteiro. E a Bruna, minha princesinha, virou estrela. Encantou-se. Princesa Estrela.
Tudo doía. Entre tudo, algumas coisas eram particularmente difíceis. Não ter pra quem contar a história da lagartixa que queria virar jacaré. Não ter com quem dançar thriller. E não ter com quem fingir que era hare khrisna. Eu podia ser bruxa, fada, princesa, corcunda, vampira... Ninguém mais ia achar graça. Ninguém mais ia rir e apertar os olhinhos em formato de vírgula. Eu tinha perdido uma irmã e a graça. Eu era uma pessoa sem graça.
E eu precisava de um lugar em que pudesse voltar a ser bruxa, princesa, macaco, monstro, corcunda... Menina de 10 anos malvada, secretária neurótica, mulata gostosona. Eu precisava encontrar uma forma de fingir ser outras coisas sem precer uma lunática. Eu precisava do teatro.
E, ali, no palco, eu tenho certeza de que a Bruna está me vendo. Eu vejo os olhinhos de vírgula ficando pequenos de tanto rir. Minha gratidão por todo o público é imensa, mas quando eu tô no palco, o que eu faço ali, é pra ela. É pra ouvir ela rir de novo.
(o que tb deve explicar pq eu gosto tanto de comédias e pq eu sempre acabo dando um tom cômico às minhas personagens)
O cara me manda um email pedindo resenhas de filmes. Ok. Aí coloca 2 mil regrinhas bobas. Já não gosto. Não gosto de regras que limitam o ato de escrever. Mas aceito. E, então, ele me pede um texto de apresentação. Escrevo. Ele me diz que não quer romantismo, que não tem a ver com o que ele quer. Eu digo que se meu estilo não tem a ver com o site, melhor deixar pra lá. E fico sem entender como se escreve sem se envolver.
Só pra constar: achei o blog bem chatinho.... Enfim...
Esse era o texto de apresentação:
A proposta era falar um pouco sobre quem eu sou. Eu poderia dizer tanta coisa sobre mim... Poderia dizer que sou jornalista por formação, redatora por profissão, escritora por vocação e estudante de teatro. E, no fundo, isso não diz muita coisa sobre quem eu sou. Poderia dizer que eu sou taurina, que eu sou a irmã mais velha, que eu sou teimosa... Nenhuma dessas possíveis descrições mostra exatamente quem eu sou. Já que é pra falar de cinema, eu poderia dizer que minha primeira lembrança cinematográfica é de ET – O Extraterrestre ou que o filme da minha vida é Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Também não me descreve ainda. O que me descreve? Talvez algumas personagens fantásticas...
Eu sou um pouco a menina Dorothy Gale, perdida em uma terra estranha (Oz, ou não) e buscando encontrar um caminho pra casa. Percorrendo a estrada de tijolos amarelos da minha vida, com uma fé tremenda em um suposto mágico que teria todas as soluções pros meus problemas. A menina que fugiu do tornado na pequena fazenda do Kansas e nem percebeu que o tornado estava ali, dentro dela. No coração, na cabeça e na coragem (e ela, ao contrário dos companheiros de jornada, tinha muito dos três).
Eu sou um pouco Scarlet O´Hara, lutando pelo meu espaço e por minhas crenças e passando por cima de tudo nessa luta. Tentando preservar o patrimônio da minha família, errando, sofrendo e jurando, com Deus por testemunha, que nunca mais passarei fome de novo.
Eu sou um pouco Mary Poppins, com a ideia de uma missão de levar mais fantasia a crianças. Ela era babá, eu escrevo histórias infantis, mas, no fim, acho que temos a mesma vontade de espalhar magia e encanto, de fazer o mundo infantil mais feliz e animado, mais.... supercalifragilisticexpialidoce!
Eu sou um pouco Gracie Hart (a Miss Simpatia, pra quem não lembra), atrapalhada, tendo que me dividir entre o lado que acha que as mulheres mandam e defende certas causas e o meu lado mulherzinha, que adora livro de miss (sim, O Pequeno Príncipe) e só deseja a paz mundial.
Eu sou um pouco Margot Channing, acreditando na bondade das pessoas (e, conseqüentemente, me dando mal por causa de meia dúzia de Eves que aparecem por aí) e descobrindo que o teatro é meu lugar preferido, meu cantinho sagrado.
E eu sou muito (mas muito mesmo) Clementine Kruczynski (a fabulosa Kate Winslet de cabelos coloridos do filme da minha vida). Todo mundo que me conhece sabe: sou impulsiva. Eu faço. Falo. Brigo. Confesso. Depois de tudo, paro e penso. Sou aquela overdose de cor e som e luz e fúria.
Juntando todas em uma única pessoa, que vive em um roteiro de Almodóvar, dirigido por Woody Allen... Bom, essa sou eu!
"As paixões humanas são misteriosas, e aa das crianças não o são menos que as dos adultos. As pessoas que as experimentam não as sabem explicar, e as que nunca as viveram não as podem compreender. Há pessoas que arriscam a vida para atingir o cume de uma montanha. Ninguém é capaz de explicar por quê, nem mesmo elas. Outras arruínam-se para conquistar o coração de uma determinada pessoa que nem quer saber delas. Outras, ainda, destroem-se a si mesmas porque não são capazes de resistir aos prazeres da mesa ou da garrafa. Outras há que arriscam tudo o que possuem num jogo de azar, ou sacrificam tudo a uma idéia fixa que nunca se pode realizar. Algumas pensam que só podem ser felizes em outro lugar que não aquele onde estão e vagueiam pelo mundo durante toda a vida. Há ainda as que não descansam enquanto não conquistam o poder. Em suma, as paixões são tão diferentes quanto o são as pessoas.
A paixão de Bastian Baltasar Bux eram os livros.
Quem nunca passou tardes inteiras diante de um livro, com as orelhas ardendo e o cabelo caído sobre o rosto, esquecido de tudo o que o rodeia e sem se dar conta de que está com fome ou com frio...
Quem nunca se escondeu embaixo dos cobertores lendo um livro à luz de uma lanterna, depois de o pai ou a mãe ou qualquer outro adulto lhe ter apagado a luz, com o argumento bem-intencionado de que já é hora de ir para a cama, pois no dia seguinte é preciso levantar cedo...
Quem nunca chorou, às escondidas ou na frente de todo mundo, lágrimas amargas porque uma história maravilhosa chegou ao fim e é preciso dizer adeus às personagens na companhia das quais se viveram tantas aventuras, que foram amadas e admiradas, pelas quais se temeu ou ansiou, e sem cuja companhia a vida parece vazia e sem sentido...
Quem não conhece tudo isto por experiência própria provavelmente não poderá compreender o que Bastian fez em seguida.”